A Planche des Belles Filles continua a ser o sítio feliz de Tadej Pogacar, que hoje conquistou a segunda vitória consecutiva na 109.ª Volta a França em bicicleta à frente de Jonas Vingegaard, o seu maior rival.
O dinamarquês da Jumbo-Visma ousou atacar o camisola amarela e parecia ter o triunfo na ‘mão’, mas o sempre insaciável esloveno ergueu-se na bicicleta, ‘sprintou’ e ainda teve tempo para lançar um olhar ao seu ‘vice’ na passada edição, antes de erguer o braço para celebrar a sua oitava etapa no Tour, a segunda consecutiva.
“Penso que, neste momento, ele é um dos trepadores mais fortes do mundo, provavelmente até o melhor. É um corredor muito completo e tem uma equipa muito forte à sua volta. Até agora tem corrido muito bem”, elogiou o líder da UAE Emirates, depois de comprovar aquilo que as anteriores seis etapas já tinham ‘denunciado’: é Vingegaard o seu grande rival nesta ‘Grande Boucle’.
‘Pogi’ tinha avisado, na quinta-feira, depois de subir à liderança da geral, que estava ansioso pelo regresso à Planche des Belles Filles, onde em 2020, no contrarrelógio de penúltima etapa, ‘roubou’ a amarela a Primoz Roglic (hoje terceiro, a 12 segundos), antes da consagração em Paris, e onde hoje o esperavam a sua família e namorada, a ciclista Urska Zigart, e durante toda a tirada demonstrou que queria ganhar ali no alto.
“Foi muito difícil, especialmente no final, quando o Jonas atacou. Ele estava tão forte, mas os meus rapazes trabalharam o dia todo, tinha de dar o máximo até ao risco, porque a Urska estava na meta e a minha família no início da subida. Foi um dia muito especial… hoje, abrimos uma fundação para investigação do cancro”, revelou o corredor de 23 anos, confessando que “há muito, muito tempo”, talvez “desde que o percurso foi apresentado”, que apontava ao triunfo na primeira etapa de montanha.
Os 176,3 quilómetros entre Tomblaine e a Super Planche des Belles Filles – o ‘super’ deve-se ao quilómetro extra de gravilha adicionado à subida habitual – começaram animados, com inúmeras tentativas de fuga que só começaram a resultar quando Simon Geschke (Cofidis) se distanciou do pelotão.
O alemão isolou-se na frente da corrida ao quilómetro 40, recebeu a companhia de Filippo Ganna (INEOS), mas o italiano abdicou ainda antes de se juntarem à fuga Lennard Kämna e Maximilian Schachmann (BORA-hansgrohe), Kasper Asgreen (Quick-Step Alpha Vinyl), Imanol Erviti (Movistar), Dylan Teuns (Bahrain-Victorious), Mads Pedersen e Giulio Ciccone (Trek-Segafredo), Luke Durbridge (BikeExchange-Jayco), Cyril Barthe (B&B Hotels-KTM) e Vegard Stake Laengen (UAE Emirates).
O grupo de luxo, unido ao quilómetro 51, foi perdendo ‘peças’ à medida que se aproximava da Planche des Belles Filles, um local de belas memórias para Teuns e Ciccone que, em 2019, na única vez que uma etapa do Tour terminou ali na versão ‘Super’, fizeram a festa, o primeiro ao vencer a tirada e o segundo ao vestir a amarela.
Foi já em versão mais reduzida, com Geschke, Teuns, Durbridge, Erviti, Barthe e o duo da BORA-hansgrohe, que a fuga alcançou mais de três minutos de vantagem sobre o pelotão, permanentemente comandado pela UAE Emirates.
Quando entrou nos sete quilómetros da subida, com uma inclinação média de 8,7%, o grupo da frente, ainda com cerca de 01.30 minutos de avanço sobre o pelotão, ‘desmembrou-se’, com o experiente alemão da Cofidis, vencedor de uma etapa no Tour2015, a ser novamente o primeiro a tentar a sua sorte, sem conseguir, no entanto, ‘cavar’ uma diferença significativa para os perseguidores.
Vindo de trás, Kämna, menos desgastado devido ao trabalho do companheiro Schachmann na fuga, alcançou o seu compatriota e deixou-o ‘pregado’ ao chão com um ataque em força, ficando isolado na frente, enquanto lá atrás, no grupo do camisola amarela, o seu líder, Aleksandr Vlasov, descolava (haveria de perder 01.39 minutos na meta) fruto do ritmo imposto pela UAE Emirates, irrepreensível na etapa de hoje.
O alemão da BORA-hansgrohe ficou a 100 metros do segundo triunfo no Tour, porque Vingegaard atacou no grupo dos favoritos e passou lançado, apenas com Pogacar no seu encalço – os restantes candidatos foram chegando a ‘conta gotas’, com Geraint Thomas a ser o melhor dos INEOS, na quinta posição, a 14 segundos, seguido de perto de David Gaudu (Groupama-FDJ), Enric Mas (Movistar) e Romain Bardet (DSM).
Além de Vlasov, o grande perdedor da jornada – está já na 12.ª posição da geral, a 02.41 minutos do camisola amarela -, também os colombianos Daniel Martínez (INEOS) e Nairo Quintana (Arkéa Samsic) cederam terreno na montanha, o seu território de eleição, chegando, respetivamente, a 45 e 51 segundos de ‘Pogi’, num dia em que Ruben Guerreiro (EF Education-Easy Post) foi 30.º, a 02.16, e Nelson Oliveira (Movistar) 69.º, a 07.38.
Na geral, o bicampeão em título ganhou mais quatro segundos a Vingegaard, segundo a 35, e tem o terceiro classificado, o vencedor do Tour2018 Geraint Thomas, já a 01.10 minutos. Guerreiro protagonizou uma fulgurante ascensão de 45 posições até ao 90.º lugar, enquanto Oliveira é 45.º.
No sábado, o pelotão ruma à Suíça, numa ligação ‘acidentada’ de 186,3 quilómetros entre Dole e Lausana, onde a meta coincide com uma contagem de terceira categoria.
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