Tadej Pogacar, o ‘miúdo’ de 21 anos de Komenda, deixou hoje sem palavras os espetadores da Volta a França em bicicleta, ao destronar, com um contrarrelógio supersónico, o também esloveno Primoz Roglic na véspera da chegada a Paris.
O esloveno da UAE Emirates nunca deixou de acreditar que seria possível chegar à amarela, repetindo esse mantra em todas as entrevistas, em todos os finais de etapa, e, hoje, protagonizou uma reviravolta soberba, arrebatando a Primoz Roglic e à demasiado dominadora Jumbo-Visma o triunfo final na 107.ª Volta a França.
O impensável aconteceu: nos 36,2 quilómetros entre Lure e o alto de La Planche des Belles Filles, onde uma contagem de primeira categoria coroava 5,9 quilómetros de subida com uma pendente média de 8,5% de inclinação, Pogacar não só recuperou os 57 segundos de desvantagem com que partiu para o ‘crono’, como ainda ganhou 59 segundos ao homem que era já dado como vencedor deste Tour e que durante 11 dias andou vestido de amarelo.
“Parece que estou a sonhar, não sei o que dizer. É inacreditável. O meu sonho era apenas estar na Volta a França, agora o sonho tornou-se realidade. Estou aqui e só falta uma etapa. É inacreditável”, desabafou aquele que será também o vencedor da classificação da montanha e da juventude, pouco depois de Roglic cortar a meta, apenas com o quinto melhor tempo, a 01.56 minutos da sua marca supersónica de 55.55 minutos, que lhe valeu a terceira vitória em etapas nesta edição.
A incredulidade estampada nos rostos de Tom Dumoulin e Wout Van Aert, os ciclistas da Jumbo-Visma que foram, respetivamente segundo (a 01.21 minutos) e quarto (a 01.31) na penúltima etapa, quando o jovem esloveno terminou o seu exercício, traduziu-se pouco depois numa imensa frustração, quando o seu líder se sentou no chão, ‘vazio’ e derrotado, antes de dirigir-se ao seu compatriota e amigo para lhe dar um abraço.
Após uma das mais memoráveis reviravoltas na história da prova francesa – a última vez que um camisola amarela foi destronado num contrarrelógio na penúltima etapa foi em 2011, quando Cadel Evans ‘roubou’ o primeiro lugar a Andy Schleck -, a equipa holandesa sai desta edição como a grande derrotada, pagando caro a arrogância demonstrada em várias tiradas, mas também a aposta única em Roglic, em detrimento de uma liderança ‘bicéfala’ com Dumoulin.
Mas não é a única: também o colombiano Miguel Ángel López (Astana), terceiro na geral à partida e sexto após o ‘crono’, pagou cara a soberba demonstrada na 18.ª etapa, quando se recusou a trabalhar com os espanhóis Mikel Landa (Bahrain-McLaren) e Enric Mas (Movistar), respetivamente quarto e quinto na geral final, para distanciar Richie Porte, numa altura em que o líder da Trek-Segafredo furou.
O veterano australiano é mesmo o outro grande vencedor do contrarrelógio de hoje, já que, aos 35 anos e naquele que é o seu último Tour como líder, recebeu a recompensa pela sua perseverança, após anos e anos de azares, ao ser terceiro no contrarrelógio, com o mesmo tempo de Dumoulin, um resultado que lhe garantiu um lugar no degrau mais baixo do pódio nos Campos Elísios, naquela que é a sua 10.ª participação na ‘Grande Boucle’.
A revolução nas contas da geral deixou as prestações na penúltima etapa para segundo plano, embora o francês Rémi Cavagna (Deceuninck-QuickStep) mereça uma menção de honra, por ter ocupado o primeiro lugar virtual da etapa durante dezenas de minutos e ter terminado em sexto, enquanto Nelson Oliveira (Movistar) não teve o dia esperado, sendo 27.º, a 04.42 minutos.
No domingo, a festa dos vencedores far-se-á no coração de Paris, não antes das habituais fotos e brindes da praxe terem lugar nos 122 quilómetros da 21.ª e última etapa, que parte de Mantes-La-Jolie e que vai consagrar, e logo no ano de estreia no Tour, Tadej Pogacar como o segundo ciclista mais jovem de sempre a vencer a Volta a França.
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