A terceira vitória consecutiva de Tadej Pogacar na Volta a França, cuja 109.ª edição começa na sexta-feira, parece uma inevitabilidade, com o azar, a covid-19 ou uma fortíssima Jumbo-Visma a apresentarem-se como os ‘adversários’ primordiais do ciclista esloveno.
Quem se habituou a ver os ataques de longe do miúdo da UAE Emirates, agora com 23 anos, a sua confiança, escudada numa assombrosa maturidade para alguém da sua idade, e a aparente ausência de debilidades dificilmente acreditará que a amarela não será novamente sua em Paris.
A constância de Pogacar, que não parou de progredir nos últimos dois anos, tornando-se um verdadeiro todo-o-terreno, transformou-o num crónico favorito, mesmo que nem sempre a sua equipa esteja à altura do seu talento – nesta edição, contudo, a UAE ‘muniu-se’ das contratações ‘estelares’ Marc Soler e George Bennett para apoiar o líder.
Olhando para a lista de inscritos, e sem menosprezar o papel que a INEOS, a formação mais vitoriosa na última década na ‘Grande Boucle’, poderá desempenhar nas contas da geral final, só a ‘super’ Jumbo-Visma parece ter condições para ‘destronar’ o bicampeão em título.
Tal como no ano passado, é o seu compatriota Primoz Roglic aquele que, em teoria, maiores dificuldades causará a ‘Pogi’, seja pelo seu historial em grandes Voltas – venceu as últimas três edições da Vuelta e foi segundo no Tour2020 -, seja pelo currículo recente, com importantes triunfos no Critério do Dauphiné e no Paris-Nice (e a quebra da sua ‘maldição’ em terras francesas).
No entanto, o esloveno de 32 anos, também ele um portento em todo o género de corridas, tem contra si o facto de ter sempre um dia mau, um ‘mal’ a que Jonas Vingegaard aparenta ser imune: ciclista sensação do Tour2021, o dinamarquês teve resultados mais modestos ao longo da temporada, mas foi fundamental para que Roglic pudesse conquistar o Dauphiné, onde foi segundo na geral, ‘rebocando-o’ na última etapa, que venceu.
A liderança da Jumbo-Visma pertence a ‘Rogla’, mas o corredor de 26 anos será um confiável ‘plano B’, numa equipa que conta ainda com Steven Kruijswijk, o terceiro do Tour2019, Sepp Kuss, oitavo na Vuelta2021, e o polivalente Wout van Aert – depois de ganhar três etapas no ano passado, em todos os terrenos, o belga aspira à camisola verde e os seus duelos com o eterno rival Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix) e o estreante Thomas Pidcock (INEOS) serão, provavelmente, o segundo grande motivo de interesse desta edição.
O poderio da formação neerlandesa encontra paralelo (ainda que ténue) no da INEOS, vencedora de sete das últimas 10 edições (numa era pré-Pogacar), que este ano confia no trio Geraint Thomas, Adam Yates e Daniel Martínez para lutar pela amarela.
Não que a equipa britânica não tenha um elenco de luxo, com o galês, campeão em 2018 e ‘vice’ no ano seguinte, o britânico, quarto classificado na edição de 2016, e o colombiano, quinto no Giro2021, sem esquecer Pidcock e Filippo Ganna, o maior especialista de contrarrelógio da atualidade, mas nenhum dos seus chefes de fila tem sido tão fiável como os homens da Jumbo-Visma.
Candidatos ao pódio há muitos, como o espanhol Enric Mas, colega de Nelson Oliveira na Movistar, o francês Romain Bardet (DSM), ‘vice’ em 2016, terceiro em 2017 e vencedor da montanha em 2019 – e falar de Bardet implica falar na eterna esperança Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) -, o veterano italiano Damiano Caruso (Bahrain Victorious), o australiano Ben O’Connor (AG2R Citroën), o quarto classificado de 2021, ou o russo Aleksandr Vlasov (BORA-hansgrohe), em grande forma esta temporada.
E, porque nem só da geral vive o Tour, até para o bem do português Ruben Guerreiro (EF Education-EasyPost), apostado em ‘caçar’ etapas em grandes Voltas, a luta pela camisola verde proporcionará, certamente, momentos emocionantes, quer entre Van Aert, ‘MVDP’ ou Pidcock, quer entre os ‘sprinters’.
A estreia de Fabio Jakobsen (Quick-Step Alpha Vinyl) na ‘Grande Boucle’ impediu a presença de Mark Cavendish – uma desilusão para meio mundo, que queria ver o britânico superar o recorde de vitórias em etapas (34) que detém em igualdade com Eddy Merckx -, com o neerlandês a ter como principal rival Caleb Ewan (Lotto Soudal).
Mads Pedersen (Trek-Segafredo), Jasper Philipsen (Alpecin-Fenix), Dylan Groenewegen e Michael Matthews (BikeExchange-Jayco) e o inevitável Peter Sagan (TotalEnergies), a anos-luz da forma que lhe permitiu conquistar um recorde de sete camisolas verdes no Tour, são outros dos nomes a ter em conta, já que também um ‘apagado’ Sam Bennett foi deixado em casa pela BORA-hansgrohe.
Com a apresentação das equipas agendada para hoje, resta esperar para ver se a covid-19, como aconteceu com as quedas nas edições anteriores, não será determinante na definição do sucessor de Pogacar, numa 109.ª edição que vai percorrer 3.349,8 quilómetros entre Copenhaga (Dinamarca), onde a Volta a França arranca na sexta-feira, e Paris, onde os campeões serão consagrados nos Campos Elísios, em 24 de julho.
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