Gustavo Veloso pedalou hoje como nunca para vencer o primeiro contrarrelógio da sua carreira e assegurar a Volta a Portugal em bicicleta, num dia perfeito para a OFM-Quinta da Lixa, que terá Delio Fernández no pódio.

Determinado a não repetir os mesmos erros que no ano passado o levaram a perder a vitória final para Alejandro Marque, o espanhol encarou a nona etapa "sempre a tope" do início ao fim, a uma impressionante média de 49,378 km/h, só descansando quando, a quatro quilómetros da meta na Sertã, viu ao longe os carros de apoio a Rui Sousa, o segundo classificado, que tinha partido dois minutos antes.

"Hoje ganhei o contrarrelógio, mas a Volta só ganho amanhã. Estou muito contente pelo Delio. Os três homens mais fortes da Volta estão nos três primeiros lugares", disse o galego, que, no domingo, em Lisboa, será ladeado pelo veterano do Rádio Popular-Onda, que ficou a 02.01 minutos, e pelo amigo Delio Fernández, a 02.54.

Foi precisamente o "trabalhador" de luxo do camisola amarela que mereceu o estatuto de surpresa do dia, ao passar de quinto a terceiro classificado, uma realidade que o próprio tem dificuldade em assimilar.

"No início da Volta não me passava pela cabeça", começou por dizer à Agência Lusa, depois de um grande suspiro, para prosseguir, confessando que "se calhar" antes não acreditava que podia estar na discussão da maior prova velocipédica nacional e agora já começa a ponderar se “nos próximos anos” pode vestir de amarelo.

A história da etapa propriamente dita conta-se em vários capítulos. À medida que os ciclistas foram cortando a meta na Sertã, os favoritismos foram sendo confirmados: depois de uma sucessão de bons tempos portugueses, o espanhol Luis Léon Sánchez (Caja Rural), que nunca escondeu que queria sair desta Volta com uma vitória no crono, pulverizou as marcas.

Parecia estar entregue a nona etapa, mas Stefan Schumacher (Christina Watches-Kuma) demonstrou que quem sabe nunca se esquece, retirando cinco segundos ao tempo do quatro vezes campeão nacional de contrarrelógio.

O alemão andava para trás e para a frente na reta da meta, a aguardar, quando o primeiro camisola amarela Victor de la Parte (Efapel-Glassdrive) estabeleceu a melhor marca, que perdurou até ao todo-poderoso Veloso cortar a linha com o tempo de 35.07 minutos, menos 55 segundos do que o único homem que o antecedeu no vestir de amarelo.

Assegurado o triunfo na 76.ª Volta a Portugal, que o galego de 34 anos teima em só reconhecer quando chegar a Lisboa, o líder da OFM-Quinta da Lixa fundiu-se num abraço com Delio Fernández, o homem que parou para o ajudar na Torre e que, mesmo sem acreditar, hoje escalou até ao terceiro lugar, depois do colapso de Edgar Pinto.

Ninguém pode sobreviver ileso a tantas azares e o líder da LA-Antarte voltou hoje a desafiar a sorte, ao cair no reconhecimento do contrarrelógio de 28,9 quilómetros desde a Sertã. Resultado? Foi 26.º no crono, perdeu 02.56 minutos e caiu do pódio para o quinto lugar.

Tão azarado só mesmo Ricardo Mestre, uma das muitas vítimas de queda num percurso que De la Parte taxou de "muito perigoso", que saiu disparado da estrada numa curva, quando seguia a 70 km/h, e foi embater nos raids. O vencedor de 2011, que desceu ao 11.º lugar, foi transportado para o hospital, não se sabendo ainda se alinha na décima e última etapa.

No domingo, Veloso, Sousa e Delio, assim como o camisola da juventude David Rodrigues (Seleção Portuguesa), que roubou a camisola ao colombiano Heinar Parra (Caja Rural), e o da montanha António Carvalho (LA-Antarte), farão a festa nos 167,1 quilómetros da prova da décima e última etapa, entre Burinhosa e Lisboa.

Por entregar está apenas a camisola da regularidade, com Veloso a liderar com 90 pontos, ou seja, 13 de vantagem sobre o "sprinter" italiano Davide Vigano (Caja Rural).