Mais do que em anos recentes, a 76.ª Volta a Portugal parte para a estrada, quarta-feira em Fafe, sem um candidato óbvio a vitória final, com o estado de forma e anímico dos favoritos a ser uma grande incógnita.
David Blanco venceu a Volta a Portugal pela quinta vez (2012), estabeleceu um novo recorde e aposentou-se. No ano passado, estava aberta a luta pela sucessão, com dois dos seus melhores amigos, Alejandro Marque e Gustavo Cesar Veloso, a prolongarem a aura do galego, ao subirem ao primeiro e segundo lugares do pódio final em Viseu, depois de derrotarem Rui Sousa, o terceiro, no contrarrelógio.
O triunfo do Marque, o eterno trabalhador de equipa convertido, finalmente, em líder, não mereceu contestação, com o espanhol a ser aplaudido por todos, num momento raramente consensual no pelotão português. Mas o sonho rapidamente se transformou em pesadelo e, um positivo por betametasona ainda por ilibar/punir, impediu o homem de A Estrada, Pontevedra, de estar na quarta-feira em Fafe para defender o seu título.
Na ausência do vencedor, o mais fácil era apontar para o seu vice, mas Veloso está longe de ter tido a sua melhor época. Muito consistente na montanha e veloz no contrarrelógio, o ciclista da OFM-Quinta da Lixa parece ser o candidato mais consistente à vitória na 76.ª edição, no entanto, a falta de ritmo competitivo, causada por problemas internos na equipa (alegada falta de pagamento de salários), pode ser um “handicap” em 11 duríssimos dias de competição.
Esta Volta tem mais montanha – há quatro chegadas em alto, uma delas ao Larouco (3.ª etapa), o segundo ponto mais alto de Portugal continental, que se junta às famosas Senhora da Graça (4.ª), Senhora da Assunção (5.ª) e, claro está, a mítica Torre (7.ª) -, por isso, serão os trepadores a fazer a diferença.
Nesse setor, além dos companheiros de Veloso na OFM-Quinta da Lixa (há Delio Fernandez, o vencedor do Troféu Joaquim Agostinho, ou o também espanhol Arkaitz Duran), destacam-se Rui Sousa, que reparte a liderança da Rádio Popular-Onda com o sempre presente, mas não suficientemente diferenciador, Daniel Silva, ou Edgar Pinto, chefe de fila da LA-Antarte a par de Hugo Sabido.
Eterno candidato, o eterno líder da equipa de Paredes, que foi vice de Blanco em 2012, pode ver Pinto assumir definitivamente o relevo geracional (o primeiro tem 34 anos, o segundo 28), que começou no ano passado, quando uma lesão o impediu de fazer valer o dorsal número um.
Depois da estrondosa derrota na edição das “bodas de diamante”, a Efapel-Glassdrive chega a esta Volta com o último vencedor português da prova como líder, contudo, Ricardo Mestre é uma incógnita, depois da péssima experiência que teve no pelotão internacional.
Mais frágil psicologicamente do que os seus adversários, o resultado do ciclista de Castro Marim muito dependerá da estabilidade da sua equipa, que no ano passado se afundou em guerrilhas internas.
Entre os candidatos das equipas nacionais, sobre ainda Hernâni Broco (Louletano-Dunas Douradas) que, ao contrário dos seus rivais, não tem de partilhar responsabilidades, tendo uma equipa inteira a trabalhar pelo objetivo, nunca alcançado, de subir ao pódio da Volta a Portugal.
Com um pelotão consideravelmente mais fraco, pela qualidade das equipas estrangeiras, não se esperam grandes surpresas, já que apenas o espanhol Luis Leon Sanchez (Caja Rural), mais preocupado em preparar a Volta a Espanha, o alemão Stefan Schumacher (Christina Watches-Kuma) ou os trepadores da 4-72 Colombia apresentam currículo a não descurar.
Para os sprints, a aposta é Manuel Cardoso (Banco Bic-Carmin), o vencedor da camisola da regularidade na edição passada, que é, assumidamente, candidato a fazer o “bis” este ano, ao somar quatro vitórias nesta temporada.
A 76.ª Volta a Portugal arranca na quarta-feira, em Fafe, para 1613,4 quilómetros que decidirão quem, a 10 de agosto, subirá ao lugar mais alto do pódio em Lisboa.
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