O guarda-redes Bebé admitiu hoje sentir necessidade de alertar os jogadores mais jovens para a importância de pensarem no pós-carreira, considerando que os profissionais de futsal “vivem numa bolha”, na qual são pagos para “fazerem o que gostam”.
“Os profissionais vivem numa bolha, não sabem como é o verdadeiro futsal. Os amadores têm de trabalhar e treinar, e a maioria fá-lo sem receber. Essa é uma realidade que quem vive na bolha desconhece”, disse, admitindo: “Ser profissional é a melhor vida do mundo, pagam-te para fazer o que gostas.”
O guardião português, que se sagrou campeão mundial em outubro passado, admitiu terem existido ao longo da sua carreira três jogadores que sempre o incentivaram a estudar e a concluir a licenciatura em Educação Física.
“Foi difícil, quando entrei na universidade estava a jogar no Benfica”, afirmou Bebé, durante um painel no Congresso Mundial de Treinadores, que decorre em Lisboa, acrescentando: “O João Benedito, o Gonçalo Alves e o Miguel Fernandes, que estavam na universidade, sempre me disseram que deveria estudar, que deveria pensar no que poderia fazer depois de deixar de jogar.”
Bebé, que atualmente representa os Leões de Porto Salvo e trabalha diariamente no seu restaurante, considerou que a carreira dual [conciliação da vida desportiva com a académica] e o pós-carreira “devia ser um tema importante na agenda dos treinadores e dos jogadores mais velhos”.
O antigo judoca olímpico Pedro Dias, que representou Portugal nos Jogos Pequim2008, lamentou o facto de a “sociedade estar demasiado focada nos resultados” e lembrou que “o treinador deve ser muito mais do que alguém que ensina uma modalidade”.
“Não quero que os futuros atletas passem pelo mesmo que eu passei, quando a carreira chegou ao fim. Parecia ser um assunto tabu, nunca houve preocupação de consciencializar os atletas para a importância de se prepararem para o futuro”, disse o antigo judoca.
Pedro Dias considerou que as “estruturas ainda não estão muito empenhadas no assunto” e defendeu: “Nos cursos de treinadores, estes devem ser preparados para lidar com problemas como a ética, a formação e a carreira dual. As coisas só mudarão quando deixarmos de valorizar apenas os resultados."
A antiga basquetebolista Sofia Ramalho, que fez parte da carreira em Espanha, referiu ser também importante “os clubes estarem preparados para apoiar as jogadoras em momentos como a maternidade, compreendendo as suas limitações”, e admitiu: “As pessoas olham para nós como resultados. Se, há 20 anos, tivesse a informação que tenho hoje, tinha feito um curso nessa altura.”
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