Desde outubro de 2007 que Arnaldo Pereira passou a ter um novo adereço no braço esquerdo cada vez que joga por Portugal. Desde outubro de 2007 que a sua voz passou a ser mais ouvida, sem precisar de se fazer ouvir.

Hoje conta com 180 internacionalizações. Tem mais do que toda a gente, mais do que qualquer jogador na história desta seleção.

Mas qual é verdadeiramente o papel do capitão de equipa? O que faz Arnaldo Pereira de diferente dos seus colegas? O SAPO Desporto foi perceber isso junto do ala português.

SAPO Desporto (SD): O que é para si ser capitão de equipa?

Arnaldo Pereira (AP): Ser capitão de equipa é ser o pai da família, simplesmente isso. Passa por ajudar os meus colegas naquilo em que eles possam ter dificuldades, ajudá-los a sentirem-se bem neste magnífico ambiente que é a seleção.  Acho que, neste momento, qualquer jogador poderia ser o capitão porque todos eles são respeitadores e quase todos eles já são pais de família. É por aí que passa o papel do capitão de equipa.

SD: Tendo em conta a braçadeira que enverga dentro de campo, como é que faz sentir essa liderança?

AP: Tentando dar exemplos. Acho que isso é o melhor que se pode fazer para poder ter o respeito de todos, e assim liderá-los. Se nós dermos o exemplo, eles tentam seguir-nos e respeitam-nos. Dentro de campo é preciso fazer notar isso. Quando a equipa está em baixo, dar a motivação necessária para que os jogadores não se deixem ir abaixo.

SD: Já alcançou 180 internacionalizações e já marcou 93 golos. Olhando para estes números únicos na história da seleção, o que é que representam para si?

AP: Para mim é algo natural. Ao longo do anos tenho sido chamado à seleção, e nem me dei conta desses números. O assessor de imprensa é que nos vai avisando disso. Eu não me sinto mais ou menos importante por isso. Sinto-me a mesma pessoa. Agora, é óbvio que fico feliz por alcançar este números, porque sinto-me recompensado pelo meu trabalho, quer dizer que o estou a fazer bem.

SD: Tem alguma meta traçada neste seu percurso na seleção?

AP: Simplesmente deixo o tempo correr. Enquanto me sentir bem, sentir que posso ajudar a seleção, e o que o selecionador confia em mim, vou continuar. Agora, dizer que penso em alcançar as 200 internacionalizações ou fazer mais não sei quantos golos, isso não funciona assim. A única coisa que tenho pensado, desde que passei a envergar a braçadeira de capitão, é que gostava de conquistar um título aqui. Isso é o meu grande sonho e que gostava um dia de o concretizar. Não só por mim e pelo meu trajeto, mas acho que esta seleção, pelo trabalho que tem feito, já o merece.

SD: No jogo Portugal – Rússia, a seleção teve em vantagem, depois em desvantagem e acabou, no final, por empatar. Como é que se gerem todas essas emoções dentro de campo?

AP: Às vezes é difícil. No passado não geríamos isso muito bem e se calhar quando sofríamos um golo, acabávamos depois por sofrer um segundo e um terceiro. Mas com o aumento da maturidade dos jogadores, e os jovens também já trabalham nesse sentido, nós passámos a conseguir manter a concentração em todos os momentos do jogo, mesmo quando estamos a perder. Aparecemos neste Europeu muito concentrados. Sabemos o que queremos e para onde vamos.

SD: Que ilações se pode tirar do empate que Portugal alcançou diante da Rússia para o resto da prova?

AP: É óbvio que nos dá uma confiança extra para o resto da prova. Não tivemos nenhuma derrota. É verdade que ficámos em segundo do nosso grupo, mas isto dá-nos outro alento. Porém, acho que a confiança e o valor já tínhamos antes deste jogo. Se calhar faltava-nos uma ponta de sorte e que neste jogo apareceu. Tivemos em vantagem, sofremos um grande golo, ao qual temos de bater palmas. Mas o empate deu-nos alento para o que aí vem.

SD: O Arnaldo defrontou a Ucrânia em 2006, num jogo em que até marcou dois golos. O que é que se lembra desse jogo?

AP: Acabou de me lembrar desse jogo, que eu já nem tinha presente. São tantos jogos pela seleção que não nos lembramos de todos. O único jogo que me lembrava com a Ucrânia era aquela derrota de 7-4 que sofremos no meu primeiro Europeu (2003, Itália). Só espero que não se repita agora.

SD: Como é que tem visto a evolução da Ucrânia, tendo em conta esse confronto em 2003 e a seleção que agora surge neste Europeu?

AP: Têm evoluído mais como grupo. Antigamente, tinham um jogador que sobressaía muito: o Koridze. Neste momento jogam mais em equipa, mas não está tão forte como já mostrou no passado. Sabemos que eles têm pontos fracos e vamos explorá-los e tentar vencê-los. Eu acho que eles não são tão fortes como nós.

O jogo Portugal - Ucrânia, relativo aos quartos-de-final do Europeu de futsal, está marcado para as 17 horas desta segunda-feira.