É sob o signo da paz que PyeongChang recebe os 23.ª Jogos Olímpicos de Inverno, prova que arranca esta sexta-feira, 09 de fevereiro. A tensão entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul baixou de intensidade, há diálogos entre altos representantes dos dois países, que até formaram uma equipa mista para mostrar ao mundo que a unificação é possível.
Para ajudar a que tudo corra normalmente, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, por unanimidade, uma resolução que insta os países a respeitarem uma trégua olímpica, uma tradição da Grécia antiga, berço da competição, que se recuperou pela primeira vez em Barcelona1992. Este período de armistício, que começa sete dias antes dos Jogos Olímpicos e que termina uma semana depois do encerramento dos Jogos Paralímpicos, os países participantes devem evitar medidas que limitem a participação de atletas.
De 09 a 23 de fevereiro, perto de três mil atletas vão disputar 102 finais nas 15 disciplinas dos sete desportos representados. Portugal volta a dizer presente com um neto de emigrantes portugueses e um antigo refugiado do Vietname.
Guerras entre Coreias suspensa. É hora de deslizar na neve e no gelo
Pousaram as armas, suspenderam os exercícios militares, abraçaram-se e fizeram uma equipa conjunta. O desporto fez parar a tensão entre as duas Coreias e pode ser a ponte um entendimento para um conflito que ameaça não só a Ásia mas o mundo inteiro.
A paz entre a Coreia do Sul e do Norte pode ser apenas um sonho nesta altura mas os Jogos Olímpicos de Inverno tiveram o condão de lançar as bases sobre o que poderá ser o futuro entre os dois países. As delegações das duas Coreias tiveram a sua primeira reunião em dois anos para discutirem os moldes da participação da Coreia do Norte no evento que terá lugar em Pyeongchang, condado localizado na província de Gangwon, Coreia do Sul.
Seul tem-se esforçado por apresentar os Jogos Olímpicos de Inverno, que vão decorrer a aproximadamente 80 quilómetros da zona desmilitarizada (DMZ), como “Olímpiadas da paz”, mas, para que tal aconteça, terá de ter a participação da Coreia do Norte.
Mesmo com muita desconfiança de parte a parte, a verdade é que já se nota uma aproximação. Kim Jong-un, líder norte-coreano, já tinha dado um primeiro passo, ao agradecer, na sua mensagem de Ano Novo, a predisposição para o diálogo manifestada pelo seu homólogo Moon Jae-in e ao expressar o seu desejo de melhorar os laços com o Sul e enviar uma delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno, que vão decorrer em PyeongChang. Uma participação que poderá aliviar a tensão entre os dois países, depois de 2017 ter assistido ao lançamento de três ensaios nucleares e de múltiplos mísseis balísticos por parte da Coreia do Norte, e à retórica bélica do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem trocado insultos pessoais e ameaças de guerra com Kim Jong-un.
As reuniões tiveram os seus frutos, com as duas Coreias a acordarem formar uma única equipa feminina de hóquei no gelo e desfilar em conjunto na cerimónia de abertura nos Jogos Olímpicos. A Coreia do Norte vai a jogo com 22 atletas, apesar de apenas dois terem conseguido o apuramento para a prova. Os restantes estarão em PyeongChang por convite. Além disso, enviará 229 ‘cheerleaders’ e 120 artistas para ajudarem na festa.
Mão pesada contra o doping: Rússia afastada mas atletas podem competir
Da paz para o fair-play. PyeongChan não será palco para batoteiros. Em dezembro, o Comité Olímpico Internacional mostrou que não está para brincadeiras e resolveu excluir a Rússia dos Jogos Olímpicos de Inverno devido ao esquema de doping institucionalizado no país. O COI admitiu a participação de alguns atletas russos ´limpos`, mas estes terão de competir sob a bandeira olímpica. Se ganharem medalhas, serão tocado o hino olímpico e a bandeira olímpica hasteada.
Ao todo, serão 169 atletas russos que participarão sob bandeira neutra, depois de terem seus casos analisados individualmente para afastar qualquer possibilidade de envolvimento no escândalo de doping institucionalizado que causou a suspensão da Rússia. Muitos atletas russos recorreram ao Tribunal Arbitral do Desporto. Desses, 28 viram o TAS dar-lhes razão, mas o COI manteve a sua decisão em não permitir que participassem na prova.
Os números históricos de PyeongChang2018
Estes serão os maiores Jogos Olímpicos da história. Quase três mil atletas de 92 países estarão em prova, entre 09 e 25 de fevereiro na cidade sul-coreama de PyeongChang, um número que ultrapassa os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, Rússia, onde estiveram 2.858 atletas de 88 países.
Dos 92 países, destaque para os Estados Unidos da América que vão a jogo com a maior equipa de sempre numas Olimpíadas de Inverno, com 242 atletas. Segue o Canadá com 226.
Estarão em disputa um número recorde de medalhas de ouro – 102 no total – dado que as Olimpíadas vão ter novas disciplinas, como por exemplo esqui alpino por equipas.
A Coreia do Sul, país anfitrião, apresenta um número recorde de atletas numas Olimpíadas de Inverno, 144.
PyeongChang2018 marca também a estreia de Malásia, Singapura, Kosovo, Eritreia e Equador em Jogos Olímpicos de Inverno.
102 finais nas 15 disciplinas dos sete desportos representados
De 09 a 25 de fevereiro, serão disputadas 102 finais em 15 disciplinas dos sete desportos que constam no programa dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018. Há três modalidades de patinagem (patinagem artística, patinagem de velocidade e patinagem de velocidade em pista curta), seis de esqui (esqui alpino, cross-country, estilo livre, combinado nórdico, salto de esqui e snowboard) e três de deslizamento sobre o gelo (bobsleigh, skeleton e luge). As outras modalidades são o biathlon, o curling e hóquei no gelo.
Na 23.ª edição dos Jogos Olímpicos de Inverno, há que destacar seis novas provas que serão disputadas pela primeira vez: duplas mistas no curling, equipas mistas de esqui alpino e largada coletiva na patinação de velocidade. Em relação a 2014, o slalom paralelo foi substituído pelo big air no snowboard.
Portugal diz-se presente com um neto de imigrantes portugueses e um antigo refugiado do Vietname
Não é de estranhar o facto de Portugal ter apenas dois atletas nos Jogos Olímpicos de Inverno. E mesmo esses nem residem no nosso país. Sem tradição no desporto de inverno, Portugal é obrigado a recorrer ao estrangeiro para recrutar atletas. Nos últimos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi, o país esteve representado por Arthur Hanse, no esqui alpino e Camille Dias no slalom gigante.
Em PyeongChang2018 Portugal terá dois atletas em duas modalidades diferentes pela primeira vez. Arthur Hanse no esqui alpino, e Kequyen Lam, em esqui de fundo. O primeiro, neto de imigrantes portugueses, nasceu no Canadá, tem 24 anos e competirá no slalom e no slalom gigante. Já Kequyen Lam, 38 anos, estreia-se nos Jogos Olímpicos, na prova dos 15 km Cross Country.
Perto da qualificação estiveram também Hugo Alves, residente no Japão, no luge, e Christian Oliveira, luso-australiano de 18 anos a residir nos Estados Unidos da América, no snowboard.
Pedro Farromba, chefe de Missão de Portugal aos Jogos Olímpicos de Inverno PeyongChang2018, disse ambicionar que o país esteja representado "com dignidade" e com melhores resultados do que em Sochi2014.
"A nossa expectativa passa por representarmos com dignidade o nosso país. No caso do Arthur, queremos melhorar os resultados. Ficar na metade superior da tabela será sempre muito positivo", sublinhou, em declarações à agência Lusa, o também presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP), com sede na Covilhã.
Em Turim2006 e Vancouver2010, Dany Silva já tinha representado as cores nacionais nos 15 quilómetros de esqui de fundo [cross-country], pelo que o objetivo traçado para Kequyen Lam, que se estreia em Jogos Olímpicos, é melhorar o 93.º lugar alcançado na cidade italiana [no Canadá foi 95.º, o último entre os classificados].
"A nossa expectativa é melhorar em muito esse lugar. Creio que não vai ser difícil, porque as prestações do Kequyen dão-nos certezas de que teremos resultados muito melhores", vincou Pedro Farromba.
Os Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang decorrem entre 09 e 25 de fevereiro e os Paralímpicos entre 09 e 18 de março.
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