Chegou o dia por que todos os norte-americanos (e todos os amantes de futebol americano espalhados pelo mundo) anseiam todos os anos: este domingo joga-se o Super Bowl, final do campeonato de futebol americano organizado pela NFL (Nation Futebol League).

Este ano, o jogo dos jogos do 'desporto-rei' dos EUA joga-se na Califórnia, mais especificamente no SoFi Stadium, em Los Angeles, e colocará frente a frente, precisamente, uma equipa da 'cidade dos sonhos', os Los Angeles Rams (campeões da Conferência Oeste, a National Football Conference), e os bem menos cotados Cincinnati Bengals (surpreendentes campeões da Conferência Este, a American Football Conference).

Os Rams vão procurar conquistar o seu segundo título do Super Bowl, na sua quinta presença em finais, mas o primeiro com a equipa sediada em Los Angeles. É que os Rams conquistaram o título pela única vez em 1999 quando estavam sediados em St. Louis. Os Bengals, por seu lado, procuram efetivamente aquele que será o seu primeiro título do Super Bowl, naquela que será a sua terceira aparição no 'jogo dos jogos', onde não figuram desde 1988.

Ambas as equipas terminaram a fase regular da temporada como quartos cabeças de série nas respectivas conferência e este será o primeiro Super Bowl desde 1978 sem a presença um top 3 de pelo menos uma das conferências.

Favoritismo está do lado dos Rams, mas...

O SAPO Desporto falou com André Amorim, um dos mais profundos conhecedores de futebol americano em Portugal e comentador da NFL na Eleven Sports, que esta noite transmitirá para Portugal o Super Bowl.

"É um Super Bowl super improvável. Ninguém diria que os Bengals chegariam aqui. Eles passaram de ser a quinta pior equipa da temporada passada para, esta época serem uma das duas melhores", começa por apontar André Amorim, também antigo treinador de futebol americano no nosso país.

"Acho que é um jogo perigoso de se analisar. Se olharmos exclusivamente para os duelos individuais - ataque contra defesa, defesa contra ataque e grupos posicionais - os Rams têm muita vantagem. Não há outra maneira de o dizer. No entanto, a verdade é que os Bengals estiveram nessa situação toda a temporada: ninguém achava que eles iam ali estar, quando chegaram aos play-offs mostraram um nível de forma incrível e acho genuinamente que eles têm tudo para conseguir uma surpresa", acrescenta o comentador

"Uma forma muito interessante de rotular os Bengals é que é uma equipa resiliente, enquanto os Rams é uma equipa que está onde queria estar, depois de ter feito um investimento significativo ao longo da época e é uma equipa repleta de estrelas", resume André Amorim.

Um quarterback a dar que falar e dois treinadores jovens (e com história em comum) frente a frnete

No culminar de uma temporada de 2021 que significará o fim de uma era na NFL, depois do anúncio da retirada de Tom Brady, visto por muitos como o melhor quarterback de todos os tempos, não deixa de ser assinalável que - numa espécie de render de guarda quase poético - em campo neste Super Bowl XLI, do lado dos Bengals, vá estar um dos mais jovens e promissores quarterbacks atualidade, pronto para começar desde já a fazer história: Joe Burrow.

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"O Joe Burrow tem de ser mencionado. Está na sua segunda temporada da NFL e consegue chegar a este patamar Não só se poderá tornar na escolha n.º1 do Draft a demorar menos anos a conquistar o Super Bowl como pode fazer algo que nunca ninguém fez: juntar ao prémio de melhor jogador de futebol do ano de futebol universitário e ao título de campeão de futebol americano universitário, NCAA, que já conquistou, o título do Super Bowl. Nunca ninguém vez isso, lembra André Amorim.

Do outro lado da barricada, porém, estará também um antigo nº1 do Draft da NFL, embora oito anos mais velho: Matthew Stafford. Será apenas a segunda vez na história que frente a frente num Super Bowl estarãoo frente a frente dois quarterbacks que foram as escolhas nº1 do Draft no ano em que chegaram à NFL.

Mas não vai ser só no duelo de quarterbacks que vão estar os motivos de interesse. As atenções estarão também viradas para os treinadores. É que Sean McVay, treinador dos de 36 e Zac Taylor Taylor, de 38 anos, treinador dos Bengals, constituem o mais jovem par de treinadores de sempre num Super Bowl. Curiosamente, e para 'apimentar' ainda mais o duelo, Taylor fez parte da equipa técnica dos Rams já liderada por McVay entre 2017 e 2018.

Uma época pautada pelo equilíbrio

Este Super Bowl colocará ponto final a uma época que terá sido, para André Amorim, uma das mais equilibradas dos últimos tempos na NFL e que demonstra a competitividade da Liga.

"Esta foi, provavelmente, a época mais competitiva da história da NFL que me lembro de assistir, e já sigo atentamente desde pelo menos 2006. Acho que tivemos imensos jogos incríveis ao longo da temporada. Os play-offs divisionais foi do melhor que alguma vez pudemos ver, com quatro encontros decididos na última bola do jogo", lembra, antes de apontar o equilíbrio e as mudanças que se vêm a verificar na NFL.

"Em termos competitivos não existe nenhuma Liga como a NFL, em que uma equipa pode de um ano para o outro passar de ser uma das piores para ser uma das melhores, em que todos podem ganhar a todos. E cada vez mais é notória a procura das equipas em encontrar o próximo guru ofensivo e defensivo, tentando encontrar inovadores e deixando para trás aquele coaching mais antigo", termina.

O futebol americano em Portugal e o interesse crescente pela modalidade no nosso país

Se, há uns anos, eram poucos aqueles que seguiam o futebol americano não era muito seguido em Portugal, tal mudou significativamente nos últimos anos, com o surgimento de várias comunidades onde toda a temporada - e não só o Super Bowl - é acompanhada a par e passo com inúmeras discussões e comentários. André Amorim fez para o SAPO Desporto o ponto de situação do futebol americano em Portugal.

"O futebol americano em Portugal em termos desportivos deu um pouco um passo atrás com a pandemia, como sucedeu com todas as modalidades amadoras, mas estamos num processo de reconstrução e a Liga Portuguesa de Futebol Americano vai voltar a arrancar no final de fevereiro, com oito equipas a competir, o que é uma boa notícia. Em termos da NFL e do crescimento do seu acompanhamento, sinto que a Eleven Sports fez uma aposta muito grande em ser mais do que um canal apenas de futebol e ser efetivamente um canal de desporto. Isso foi visível com outras modalidades, como a Fórmula 1, e também com o futebol americano. Houve uma aposta de chegar a várias plataformas, com podcasts, e isso trouxe um crescimento absurdo a nível de interceções. Sinto cada vez mais jovens interessados neste desporto. E sendo o futebol americano um desporto tão visual, penso que isso prende muito os miúdos. A título pessoal, nas minhas redes sociais pessoais tenho cada vez mais jovens a virem colocar-me questões e a perguntarem onde podem aprender mais. Por isso, acho que tem sido um crescimento muito interessante", explica.

A 56ª edição do Super Bowl, Super Bowl LVI, joga-se então em Los Angeles a partir das 18h30 locais (23h30 de Lisboa). Resta, pois, saber se os Rams confirmarão o favoritismo que lhes é atribuído até pelas casas de apostas, ou se os Bengals vão continuar a surpreender.