Os Jogos do Mediterrâneo regressam ao continente africano pela primeira vez desde 2001 para a 19.ª edição, que sábado arranca na cidade argelina de Oran, com um contingente de cerca de 3.400 atletas de 24 modalidades.
Provenientes de 26 países com contacto ao mar do Mediterrâneo, entre eles Portugal, que se estreou há quatro anos nas competições disputadas em Tarragona, em Espanha, os atletas encontrarão na segunda maior cidade da Argélia, até 06 de julho, o primeiro evento em solo africano desde Tunis2001.
Para o conseguir, Oran teve de vencer precisamente outra cidade tunisina, Sfax, na votação final, deixando para trás Mostar (Bósnia-Herzegovina), Dubrovnik (Croácia) e Kotor (Montenegro) como candidaturas derrotadas.
A ‘cidade radiante’, como é conhecida, vai ser casa para um contingente europeu que ocupa mais de metade da lista de participação, seguido de mais de seis centenas de africanos e ainda quase 400 asiáticos, uma contagem que inclui a Turquia, embora daquele continente existam dois representantes 'claros': o Líbano e a Síria.
Ao todo, são mais de cinco mil os atletas e treinadores presentes, a que depois se somam árbitros, juízes, voluntários e outros funcionários envolvidos com a organização, um ‘teste’ para a capacidade argelina de receber grandes eventos.
O esforço – só a autarquia de Oran tinha previsto em 2018 um investimento superior a 32 milhões de euros – está lá, sobretudo na ‘menina dos olhos’ do Comité Organizador, o Estádio Olímpico, em Belgaïd, concluído em 2019 e com capacidade para cerca de 40 mil espetadores.
O complexo como um todo, que inclui várias outras infraestruturas, será o principal de mais de duas dezenas de locais de prova, e ainda o palco das cerimónias de abertura e de encerramento, recebendo o futebol, modalidade dominante em solo argelino, e a 'rainha', o atletismo, entre outras disciplinas.
Uma “Aldeia Mediterrânea”, criada de raiz, cobre 36 hectares e tem capacidade para acomodar 4.300 pessoas, com várias infraestruturas de treino, restauração e outros negócios.
Entre as maiores comitivas, além dos anfitriões, estão as seleções de França, Itália, Espanha ou Turquia, o ‘top 4’ do medalheiro global, liderado bem de longe pelos italianos, por 13 vezes os primeiros em número de pódios em cada edição.
Assim foi em Tarragona2018, em que Portugal se estreou com 24 medalhas, e Oran2022 fica ‘a caminho’ do regresso a Itália, para Taranto2026.
Em termos desportivos, o evento combina modalidades nas quais participam vários atletas e medalhados olímpicos, bem como equipas sénior, com eventos para jovens em busca de afirmação, como no caso dos torneios de futebol e polo aquático, destinados aos sub-18, algumas disciplinas paralímpicas e ainda desportos fora do programa olímpico, como a petanca.
A bacia mediterrânica viveu em 1951 os primeiros Jogos da região, em Alexandria, e em 1975 o evento foi atribuído a Argel, a capital do que é hoje o maior país da região, e do continente, por extensão, e o 10.º do mundo.
Grande fornecedor de gás natural à Europa e detentor de uma das maiores reservas de petróleo do mundo, a cultura rica, que mistura o povo berbere com outras etnias ficou também marcada pela colonização pela França, que invadiu o território em 1830.
Uma guerra pela independência chegou ao fim em 1962, o que significa que o país celebra em 2022 os 60 anos desde esse marco, que antecedeu uma Guerra Civil, entre 1991 e 2002.
Os protestos não cessaram, e em 2010 a Primavera Árabe também passou por aqui, levando a mudanças sobretudo no código eleitoral, e em 2019 demonstrações massivas acabaram por levar à queda do então presidente Abdelaziz Bouteflika, que procura uma quinta eleição.
Abdelmajid Tebboune é o homem à frente dos destinos do país e o nome indicado para declarar oficialmente abertos os Jogos na Radiante, uma cidade que combina influências francesas, otomanas, espanholas, árabes e africanas.
Em 1947, o filósofo e autor Albert Camus, um franco-argelino nascido em Dréan, publicou “A Peste”, um livro passado em Oran e inspirado num surto de cólera na própria cidade, que Portugal ocupou duas vezes no século XV, sempre por poucos anos.
Nascido em 1913, Camus passou muitos dos seus dias na Argélia, antes de se mudar para França, a jogar futebol, como guarda-redes da Universidade de Argel, na década de 1990, e chegou a dizer que tudo o que sabia sobre “moralidade e obrigações” tinha aprendido com o desporto, num país em que as claques e os movimentos sociais e políticos sempre andaram de mãos dadas, quer na resistência, como a seleção da FLN, o “onze da independência”, que fez um ‘tour’ pela Europa para pressionar a França, quer nos protestos mais recentes.
Portugal, cuja missão é dirigida pelo Comité Olímpico de Portugal (COP), vai competir pela segunda vez neste evento, que apresenta um total de 24 disciplinas e 244 provas disputadas em Oran, com Portugal presente em 20 disciplinas.
Em Tarragona2018, na estreia portuguesa nestes Jogos, Portugal conquistou 24 medalhas, três delas de ouro, duas no triatlo, por Melanie Santos e João Pereira, e outra pela equipa de obstáculos, em equestre, bem como oito de prata e 13 de bronze.
A 19.ª edição da prova arranca no sábado, com a cerimónia de abertura, e decorre até 06 de julho.
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