O russo antigo campeão do mundo de xadrez Boris Spassky, eternizado no ‘jogo do século’, durante a Guerra Fria, que perdeu para o norte-americano Bobby Fischer, faleceu hoje aos 88 anos.

No auge das tensões entre a União Soviética (URSS) e os Estados Unidos, Spassky e Fischer disputaram em 1972 um duelo memorável, até hoje considerado o mais emblemático da história, tendo em conta as tensões geopolíticas entre o Este e o Oeste.

Nascido em Leningrado, atual São Petersburgo, em 1937, o desportista russo aprendeu a jogar xadrez aos cinco anos, num orfanato, depois de conseguir fugir, com a família, de Leningrado, vítima do terrível cerco nazi durante a II Guerra Mundial.

Aos 18 anos, com um estilo de jogo agressivo, tornou-se campeão mundial júnior e, à época, o mais jovem grande mestre da história.

O Estado incentivou-o ao conceder-lhe uma bolsa de estudos e um treinador, mas Spassky nem sempre esteve no auge, ao qual voltou em 1961 ao vencer o campeonato da União Soviética.

Em 1969, superou o seu compatriota multicampeão Tigran Petrossian para o destronar do título mundial, que conservou por três anos.

Em 1972, na Islândia, o jogo que marcou a sua vida, contra o prodígio americano Bobby Fischer, um desafio com nuances de confronto geopolítico Este-Oeste, que ficou para a história como o ‘jogo do século’.

A URSS dominava o desporto a nível internacional, até que surgiu o americano de 29 anos, que criticou os jogadores soviéticos, mexendo com o orgulho do país que ficou ferido, já que, após um início desastroso, Fischer venceu e acabou com uma série ininterrupta de campeões mundiais soviéticos, desde 1937.

“Nem imaginam o quão aliviado fiquei quando Fischer me tirou o título. Libertei-me de um fardo muito pesado e passei a respirar livremente”, lembrou o grande mestre, quase 40 anos mais tarde, referindo-se ao duelo que inspirou inúmeros filmes, livros e documentários.

Caído em desgraça, mudou-se para França em 1976 e em 1992, na antiga Jugoslávia, teve a oportunidade de se desforrar, não de forma oficial, mas voltou a perder e, gradualmente, foi perdendo o interesse pela modalidade.

Depois de anos atribulados, em 2008, num pequeno cemitério islandês, visitou o túmulo de Bobby Fischer, falecido nesse ano, perguntando aos jornalistas, visivelmente emocionado, se achavam que o lugar ao lado estaria disponível.