A pandemia de COVID-19 afetou o mundo do desporto e o Padel, modalidade em franca afirmação em Portugal, não foi exceção. O SAPO Desporto esteve à conversa com Leninha Medeiros, uma das principais jogadoras nacionais, que representa regularmente a seleção nacional e que é ao mesmo tempo instrutora de Padel, para perceber como está a lidar com o confinamento.
Depois de um ano de 2019 em que se concentrou mais na seleção, focada no campeonato da Europa e participando num número limitado de torneios, Leninha começava a preparar o calendário para 2020 quando o estado de emergência foi decretado em Portugal. Aos 36 anos, e com vários outros projetos em mãos, não sabe ainda como vai ser o resto da época, mas diz que o facto de esta vir a ser mais curta até a poderá beneficiar.
Para já, e enquanto a "vida normal" não regressa, vai-se dedicando a um projeto que já estava previsto, mas que teve de ser adaptado às contingências atuais - a World Padel TV. Partilha os treinos que vai realizando em casa e aproveita para aperfeiçoar os seus dotes culinários. Ao SAPO Desporto relatou como tem sido o seu dia a dia em isolamento e olhou para as dificuldades que os clubes de Padel enfrentam e vão enfrentar face a esta pandemia.
SAPO Desporto: Como tem vivido este período de isolamento e onde tem passado?
Leninha Medeiros: Tenho-o passado em casa. Só saio, basicamente, para ir ao supermercado. Sou uma pessoa que sofre um pouco de ansiedade e esta experiência até tem sido um bom desafio para melhorar muitos aspetos da nossa vida, para aprendermos a mantermo-nos calmos e saudáveis. Uma das coisas que fiz foi mudar drasticamente a minha alimentação e fazer o dobro do exercício que fazia. Tento estar muito ativa a nível físico e com uma alimentação saudável, para a cabeça estar sempre estabilizada.
Se estivermos mais sedentários facilmente começamos a ficar mais irritados. De repente parar, não ter horários, deixar de ter noção dos dias da semana...São pormenores que mudam e que fazem a nossa cabeça mudar também. Portanto, para contrariar isso há que ter muita atividade física, uma boa alimentação e hidratar bem.
SD: Como é treinar em casa?
LM: Há que saber improvisar. Utilizo garrafões de água de cinco litro ou garrafas de litro e meio, pacotes de arroz para exercícios mais simples. Por exemplo, há pouco queria treinar exercícios de braço de força e não tenho absolutamente nada sem ter as garrafas. Então improvisei com as garrafas, umas toalhas e uns elásticos, que têm mais flexibilidade. Temos de improvisar sempre um bocadinho e isso é bom, faz-nos puxar pela criatividade. E, claro, também há muitas ideias na internet. Felizmente, estamos a passar uma fase de isolamento, mas com um apoio tecnológico espetacular. E esse poder da tecnologia tem ajudado muito.
SD: O que mais tem feito, para além de treinar?
LM: Tenho-me dedicado ao projeto 'World Padel TV', que ocupa um bocadinho do meu tempo, mas que me dá uma motivação para me manter um ativa. Trata-se de um canal digital de Padel, de uma empresa portuguesa, que estava a arrancar precisamente quando a competição foi interrompida devido a esta situação.
Eu estou a contribuir com conteúdos para esse canal. Perante esta situação tivemos de improvisar um bocado e eu estou a fazer exercícios em casa, sem material de treino, também para mostrar às pessoas que não têm ginásio em casa a importância de, ainda assim, fazerem exercícios, nem que seja 10 a 15 minutos todos os dias. Exercícios curtos, que lançamos de segunda a sexta-feira, fáceis, para que toda a gente os possa fazer. Adaptámos um bocadinho o projeto à situação que estamos a viver. E vamos também lançar um programa a falar sobre padel, com tácticas, técnicas e análises de vídeo, para manter as pessoas ativas e com o bichinho do padel bem vivo, dentro das possibilidades.
SD: Como é o seu dia a dia?
LM: Acordo, tomo um bom pequeno almoço, treino, depois vou almoçar e, normalmente, depois do almoço pego um pouco no computador e começo a planear os treinos do dia a seguir. Faço um pouco de trabalho online, publico no Instagram e no Facebook os treinos anteriores e, depois, volto a treinar mais um pouco à tarde e, a partir daí, talvez por volta das 17h00, tomo banho, vejo uma série, começo a preparar o jantar...tudo flui normalmente.
SD: E a nível da alimentação, como tem sido?
LM: Tenho visto bastantes vídeos e receitas no youtube e na internet e tenho tentado fazer um planeamento com alimentos mais saudáveis. Aprendi a fazer hambúrgueres de couve flor, de brócolos, de beterraba...Não sofro para fazer uma dieta. Fui buscar alimentos que gosto, que sinto prazer em comer, e tenho conseguido fazer uma alimentação saborosa, o que é fundamental. Porque se já estamos com tantas restrições, ter de fazer ainda mais uma dieta não ajudará em nada a nossa cabeça.
Tenho comido coisas saudáveis, saborosas e com a percentagem calórica que eu preciso para aquela refeição. Mas é importante que seja bem saboroso! Por isso tenho até vindo a ganhar outros dotes na cozinha que não tinha. Há que ter alguma vantagem no meio disto tudo!
SD: Para além de jogadora, também dá aulas de Padel. Como estão os clubes a reagir?
LM: Penso que esta não é uma fase fácil para ninguém. Ninguém no mundo estava preparado para isto. Com tantos meses parados, a nível de contas e obrigações, para os clubes e mesmo para nós, professores, acredito que seja muito complicado. Em especial para clubes que abriram há relativamente pouco tempo. Acho que vai ser uma fase bem complicada e que, por isso, quando voltarmos vamos precisar todos de trabalhar o triplo.
Lançou-se uma iniciativa – a SOS Padel 2020 – para dar uma ajuda aos clubes, porque sem eles não há treinadores e não há Padel. Espero que esta iniciativa corra bem. Eu própria já fiz um vídeo a alertar as pessoas e pedir que ajudem na causa com o que puderem, para que possamos manter a modalidade viva, ativa e sem quebras de clubes.
SD: Como pensa que vai ser o regresso à competição?
LM: Vai variar muito de atleta para atleta, até porque nem todos têm tido condições semelhantes para treinar durante este período. Há quem tenha casas com jardim, há quem já tenha ginásios no prédio, e isso vai causar diferenças. Mas a base de tudo é que ninguém está a jogar padel e perde-se um pouco a sensibilidade da pancada. O nível técnico sofrerá mais, porque a nível físico, com mais ou menos material, ninguém está parado e consegue-se chegar lá, o que não acontece em relação às rotinas de jogo.
Mas, claro, vai ter de haver uma fase de adaptação e acredito que vão dar um período – talvez um mês – para voltarmos às competições convenientemente preparados.
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