Cerca de 80 atletas da patinagem artística do Sacavenense vão deixar de ter acesso ao pavilhão do clube para treinar, a partir de 03 de outubro, confirmaram à Lusa vários responsáveis e pais das patinadoras.
O pavilhão vai ser alvo de obras de beneficiação, de acordo com o estipulado num protocolo assinado entre o clube do concelho de Loures e o Sporting, que irá centralizar naquele local os seus escalões de formação de hóquei em patins.
O acordo, anunciado pelos 'leões' em 03 de setembro, apanhou de surpresa os pais das jovens patinadoras do Sacavenense, entre os 3 e os 18 anos, que se dizem “desalojadas”, de acordo com uma carta aberta enviada à agência Lusa.
“As atletas vão ficar sem um local onde treinar e competir. O que se fez foi totalmente irresponsável e de uma falta de caráter enorme”, acusou Marco Sebastião, pai de uma das atletas afetadas.
Segundo os encarregados de educação, a maioria dos pais e atletas tomaram conhecimento da situação, em 03 de setembro, “através de publicações nas redes sociais de ambos os clubes e pela Sporting TV”.
Três dias depois, “pressionada pela secção de patinagem” do Sacavenense, a direção do clube comunicou aos pais “a sua decisão e estratégia”, explicaram os encarregados de educação, apresentando uma alternativa (Pavilhão do Beato) que se encontrava apenas “apalavrada” e “não reunia condições” para a prática da modalidade.
Na última terça-feira, a direção do Sacavenense voltou a reunir com os responsáveis da secção de patinagem e apresentou outras alternativas, que não são, no entanto, “comportáveis para crianças e adolescentes, quer em termos de condições, mas sobretudo de horários”, lamentou Marco Sebastião.
Nessa mesma noite, a secção de patinagem informou os pais de que entre as alternativas encontradas pela direção está o Pavilhão do Beato, de segunda-feira a sexta-feira, entre as 21:00 e as 23:00 e sábados de manhã ou durante todo o dia.
O Pavilhão do Olivais e Moscavide estaria disponível à terça-feira, entre as 18:00 e as 22:00, mas trata-se de um espaço com dimensões reduzidas que “serve apenas para as atletas de iniciação”, segundo Marco Sebastião, assim como o do Beato.
O Pavilhão do Sanjoanense seria aquele que reúne condições mais adequadas, entre as alternativas apresentadas, mas está disponível apenas entre as 23:00 e a meia-noite, à segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira, e entre as 22:00 e as 00:00 à terça-feira e quinta-feira, horários “incompatíveis” com os períodos de descanso e escolares das crianças.
Foi ainda apresentada a possibilidade de utilizar o Pavilhão dos Bombeiros de Sacavém, alternativa essa, desde logo, ‘chumbada’ pela equipa técnica do clube, pois considera que “não serve para patinar”.
Contactado pela Lusa, o presidente do Sacavenense confirmou as alternativas apresentadas e admitiu que os horários são “terríveis”, mas frisou que a direção do clube continua a trabalhar “outras opções”.
“Apresentámos as alternativas e estamos a aguardar respostas da secção de patinagem. Infelizmente não são as ideais, mas é um esforço que lhes vou pedir até ao final do ano, devido a esta necessidade de avançar com as obras do pavilhão”, disse Manuel do Carmo.
Depois disso, a patinagem artística do Sacavenense terá de prosseguir “sempre em pavilhões de fora”, uma vez que o protocolo estabelecido com o Sporting “deixa muito poucas horas” disponíveis para o clube.
Atualmente, as cerca de 80 patinadoras do Sacavenense têm acesso ao pavilhão do clube durante 16 horas semanais para treinos.
No entanto, Manuel do Carmo frisou que, a partir de janeiro do próximo ano, o clube terá horas disponíveis em pavilhões de “São João da Talha e Loures”, pelo que o “esforço” que está a pedir à secção é apenas "até ao final do ano".
Além disso, está a tentar a utilização de um outro pavilhão “em Sacavém”, pelo menos no mês de outubro, que “tem condições e horas disponíveis”, mas cujos responsáveis “não querem lá a patinagem porque têm receio que estrague o piso”.
O clube pediu também ao Sporting para “adiar o início das obras no pavilhão para novembro”, revelou Manuel do Carmo, adiantando que “ainda não obteve resposta”.
Ainda na reunião de terça-feira, segundo a informação prestada pela secção de patinagem aos encarregados de educação, o presidente do Sacavenense “fez questão de esclarecer que não pretende acabar com a modalidade”, mas sim “arranjar soluções para terminar a época e começar a criar condições para iniciar a próxima”.
“O seu objetivo de criar e manter mais modalidades no clube continua, tendo a assinatura do protocolo com o Sporting sido de extrema necessidade para garantir a continuidade do futebol (equipa sénior), sendo esta a razão de existência do clube e satisfação dos seus sócios”, revelou a secção de patinagem numa missiva à qual a Lusa teve acesso.
O Sporting é também visado na carta aberta enviada pelos pais das patinadoras, que acusam o clube ‘leonino’ de não estar “isento de culpas face às circunstâncias” e de saber “de antemão” o que estava em causa no processo de assinatura do protocolo.
Segundo Marco Sebastião, o Sporting foi contactado pela secção de patinagem do Sacavenense “após a divulgação do protocolo” e terá referido já ter conhecimento da situação, tendo os seus responsáveis manifestado disponibilidade para “ajudar a encontrar uma alternativa”, o que não se verificou até ao momento.
Através da assessoria de imprensa, uma fonte oficial dos ‘leões’ negou à Lusa, no entanto, “quaisquer responsabilidades” do clube de Alvalade no diferendo entre o Sacavenense e a sua secção de patinagem.
Por outro lado, a secção de patinagem do Sacavenense enviou também apelos e exposições sobre o problema "à Federação Portuguesa de Patinagem, Associação de Patinagem de Lisboa, Instituto Português do Desporto e da Juventude, gabinete do secretário de Estado da Juventude e do Desporto e Direção Geral de Educação".
Foi solicitada a “intervenção e apoios” destas entidades no sentido de obter “uma solução”, mas, segundo os encarregados de educação, não foi recebido “qualquer contacto até ao momento” por parte de nenhuma delas.
“Neste momento não temos para onde ir, mas não quero acreditar que não haja uma solução. Se não for encontrada, provavelmente há atletas que irão desistir, outras irão procurar outros clubes”, admitiu Marco Sebastião.
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