103 dias depois de Max Verstappen vencer o último Grande Prémio da temporada de 2020, em Abu Dhabi, a Fórmula 1 está de regresso esta sexta-feira, com o Grande Prémio do Bahrein, a prova que dá a partida para uma temporada de 23 Grandes Prémios e, de novo, com passagem por Portugal marcada.

A temporada de 2021 traz novidades à grelha de partida, com o regresso de Alonso, a mudança de Vettel para uma Aston Martin que regressa à modalidade, bem como a estreia de três pilotos na principal prova motorizada do mundo, um deles, Mick Schumacher, com um apelido bem conhecido no 'paddock'.

Os testes, realizados no Bahrein, no início de março, fizeram levantar sobrancelhas, com uma Mercedes a ficar abaixo das expetativas e uma Red Bull a dominar. Será isto um sinal do final da hegemonia da equipa da 'estrela de três pontas'? O que esperar da temporada depois do que se viu nos testes de pré-temporada?

Foi isso e muito mais que o SAPO Desporto foi tentar perceber junto de uma das caras e das vozes da Fórmula 1 em Portugal, Óscar Góis, comentador da ELEVEN.

"Os testes não correram bem e isso foi por demais evidente. Por muito que tenham andado a esconder o jogo, não conseguem esconder que passaram por grandes dificuldades, e os grandes responsáveis técnicos da Mercedes no projeto de Fórmula 1, James Vowles [Chefe de Estratégia da Mercedes] e o James Allison [Diretor Técnico] assumem isso. Também o próprio Toto Wolff [Chefe de equipa] e os pilotos já vieram assumir isso", nota.

Apesar de este poder ser um sinal de que a Red Bull se poderá intrometer na luta pelo Mundial de Construtores, o comentador preferia que a luta não fosse apenas entre duas equipas.

"Gostava que a Ferrari pudesse voltar aos bons velhos tempos, aos tempos em que lutava pelo campeonato mundial de construtores. Gostava que a Aston Martin se conseguisse intrometer nesta luta, e gostava que a McLaren, agora que volta aos motores Mercedes, voltasse também aos bons velhos tempos, daquele carro prateado que nos deixou excelentes memórias com o Jenson Button, Lewis Hamilton e Alonso", afirma.

Contudo, para a equipa do 'Touro Vermelho' se intrometer verdadeiramente na luta, é importante que a equipa de Verstappen e Perez não repita erros do passado.

"Não podemos é ter uma Red Bull como a que temos tido nos últimos anos, que antes da temporada começar, promete, mas que quando começa e avança a coisa não corre muito bem e a Mercedes vai-se embora sozinha. Espero bem que sim, que consigam andar mais taco a taco, mas gostava que não se cingisse às duas", realça.

Mesmo com uma pré-temporada menos positiva, Óscar Góis aponta a Mercedes e Lewis Hamilton como os grandes favoritos da temporada que agora começa, porque "sabemos que se há equipa que é capaz de dar a volta por cima e de responder às adversidades com vitórias é esta".

O 8.º e as 100 de Hamilton

Depois de uma época em que igualou os sete títulos de campeão mundial de Michael Schumacher, o piloto britânico entra em pista com o objetivo de se tornar no mais vitorioso de sempre, além de perseguir outros dois registos: as 100 vitórias em Grandes Prémios (GPs) e as 100 'poles positions'.

Este último pode ser mesmo atingido em Portimão, no terceiro Grande Prémio da temporada, o que deixaria Portugal de novo na história da modalidade, tal como na temporada passada, quando Hamilton ultrapassou o recorde de vitórias em GPs.

"Seria interessante se Hamilton chegasse às 100 ‘poles’ no Grande Prémio de Portugal. Para isso acontecer, ele tem de fazer ‘pole’ num dos dois primeiros grandes prémios da temporada e depois fazer ‘pole’ em Portugal. Seria bom e importante para nós, porque no ano passado, no Grande Prémio de Portugal, tornou-se no mais vitorioso de sempre, com as 92 vitórias, entretanto o número já subiu, mas foi aqui, no nosso país, que se tornou no mais vitorioso de sempre em Grandes Prémios".

"Se no ano a seguir conseguir chegar às 100 ‘poles’ aqui, será fantástico", afirma o comentador, que acredita ainda que a temporada trará a 100.ª vitória de Hamilton num Grande Prémio.

Revista do Ano: Outubro 2020
A festa de Hamilton no GP de Portugal. (JORGE GUERRERO / AFP) créditos: AFP or licensors

Quem se intromete?

Hamilton, Bottas e Mercedes têm sido nomes que dominam a Fórmula 1 nos últimos anos, mas um irrequieto e talentoso Verstappen já mostrou por várias vezes que se pode intrometer entre a equipa de Brackley.

Mas além do holandês da Red Bull, que outros pilotos se poderão intrometer nesta luta por pódios?

"Gostava de ver um Sebastian Vettel de regresso aos bons velhos tempos da Red Bull, em que foi campeão do mundo. Depois teve a proposta de ir para a Ferrari e a coisa não correu bem. Precisava verdadeiramente de um novo projeto. Gostava de ver um Sebastian Vettel a intrometer-se na luta por vitórias. Acho que querer um Vettel a intrometer-se na luta pelo campeonato não é bem realista", afirmou.

Também Sérgio Perez, nova contratação da Red Bull, poderá trazer mudanças nos pódios, ainda que não seja para já, pela habituação necessária ao RB16B, carro da equipa britânica.

"Não vai ser nos primeiros grandes prémios que Sergio Perez vai conseguir, acredito eu, extrair o máximo do RB16B, mas ali para meio da temporada penso que se pode intrometer na luta por vitórias", notou.

Contudo, estes dois, considera Óscar Góis, não se deverão intrometer na luta pelo Campeonato do Mundo, que deverá ficar entre Hamilton e Verstappen.

"Acho que a luta do campeonato do Mundo provavelmente vai-se cingir apenas a Hamilton e Verstappen. Em vitórias acredito que estes dois pilotos se vão intrometer, tal como Bottas, que já vai na versão 4.0 e acredito que vai querer alcançar vitórias".

"Depois é ver o que os Grandes Prémios nos podem dar daqui até ao final da temporada, porque podemos ter surpresas como as que tivemos no ano passado", recorda.

A luta pelo "Best of the rest"

Com a Mercedes e a Red Bull a lutarem num campeonato à parte, outro dos pontos interessantes na Fórmula 1 desta temporada é olhar para as 'equipas do meio da tabela' e encontrar o 'Melhor do resto' ['Best of the Rest' em inglês].

Depois da época passada ter terminado com Renault, McLaren e Racing Point a lutarem pelo 3.º posto do campeonato de construtores até à última corrida (a McLaren levou a melhor), o que é que os testes de pré-temporada disseram sobre esta luta?

Óscar Góis aponta a Alphatauri como a equipa em vantagem, mas alerta: "são testes… e nos testes não se tem a real noção e a real perceção do que é verídico ou não".

"Essa pergunta poderá começar a ser respondida no próximo sábado, mas só terminará de ser respondida ali no 20.º, 21.º, senão no 23.º Grande Prémio da temporada, como tivemos no ano passado".

"Acredito que tendo em conta o que se viu nos testes de pré-temporada a Alphatauri parte em vantagem, mas cuidado… cuidado com o que pode vir desta Aston Martin, desta McLaren e não podemos descartar, creio eu, a Alpine", realça.

É na Alphatauri que está a maior dúvida do comentador da ELEVEN para a nova temporada, Yuki Tsunoda que se estreia na F1 ao serviço da equipa irmã da Red Bull, "um piloto bastante competente, bastante regular, mostrou-o no campeonato de Fórmula 2 e dos três 'rookies' [novatos - os outros é aquele que claramente tem um carro melhor, porque o Mazepin e o Schumacher vão andar lá para trás".

"Outra coisa, que eu acho que tem, é a estabilidade emocional para aguentar a pressão de 23 grandes prémios. Acredito que tem essa pressão, trabalha muito a parte mental também, mas é sobretudo o ter calma, não ser um Max Verstappen da Alphatauri. E isto não é pejorativo, é sim, ser um piloto que saiba quando pode atacar e quando deve levantar o pé e fazer ‘lift and coast’", acrescenta.

Yuki Tsunoda
Yuki Tsunoda créditos: AFP

Um interesse crescente em Portugal

Apesar do futebol dominar a esfera mediática, o interesse na Fórmula 1 tem crescido em Portugal, na perspetiva da voz que dá a partida das corridas na ELEVEN sempre que há Grandes Prémios.

Óscar Góis considera que esse aumento de interesse está relacionado, não só com a aposta em novos formatos por parte da própria Fórmula 1, mas também pela aproximação do canal aos fãs dos motores.

"A interação com o público, a aposta em novos formatos, a aposta num passe como temos este ano, para quem é amante do desporto motorizado a um preço mais do que acessível. A aproximação aos novos públicos, com os podcasts, os 'lives' de Facebook, a interação através das 'hashtags' nas redes sociais: tudo isto contribui para o crescimento da modalidade. Também o saber reinventar que a própria Liberty [organizadora do Mundial de F1] tem tido, tem apostado na criação de novos formatos. Tudo isto ajuda a crescer o interesse na F1", começa por explicar.

A mudança nos hábitos de consumo do desporto tem sido acompanhada pela Liberty, para dar o que um "público mais irrequieto" quer - "seja através de 'highlights' [melhores momentos da corrida], quer seja de outro tipo de produtos que explora, porque tem meios para isso, falamos de uma máquina gigantesca".

A série 'Drive To Survive', da Netflix, é um dos formatos que tem trazido novos adeptos à Fórmula 1. Ainda que o comentador da ELEVEN realce que a série "não transparece com clareza aquilo que é a realidade, porque sabemos que é ‘scriptado’" é um produto que está a cativar novos fãs para a modalidade.

Óscar Góis realça ainda a possibilidade de os espetadores acompanharem os pilotos do futuro, com as transmissões de Fórmula 2, 3 e outras fórmulas de promoção no canal, bem como do "produto premium, especializado, com tempo de análise, com programas de estúdio, antevisões, em que se procura dar mais ao público, diferente do que tínhamos até então", considerando que o canal "soube pegar na F1 e ajudar a aumentar este interesse pela modalidade em Portugal".

O Grande Prémio do Bahrein começa esta sexta-feira, com a 1.ª sessão de treinos livres, a partir das 11h10. A corrida está marcada para o próximo domingo a partir das 15h55.