Quem olha para 28 medalhas conquistadas em Jogos Olímpicos, 23 de ouro, pode ter a tentação de imaginar um percurso repleto de sucesso alavancado por um mar de conquistas. Essas, são factuais, mas poucos conhecem de perto a realidade diária de um atleta de alta competição e a forma como, não raras vezes, sofre psicologicamente durante o processo de alcançar as metas a que se propõe.
Sem meias palavras, como habitual, Michael Phelps voltou a assumir momentos de profunda angústia durante a carreira, relatando perante uma generosa plateia alguns dos episódios mais difíceis que ultrapassou, marcados por uma terrível fase de ideação suicida.

"Eu não queria estar vivo. Não comia, não bebia, fui para um centro de recuperação. Estava a lutar pela minha vida mais do que as pessoas poderiam imaginar". O testemunho contado na primeira pessoa é revelador, mas não surpreendente. Não é a primeira vez que o nadador americano revela em público os problemas de saúde mental por que passou e voltou a fazê-lo, agora em Madrid, no Fórum Empresarial Mundial, ao lado da também lenda da modalidade, a atleta paralímpica espanhola Teresa Perales.

Citado pela Marca, a propósito de uma segunda depressão por que passou em 2014, depois de já ter enfrentado o mesmo problema em 2004, o ex-atleta de 38 anos aproveitou para recordar as suas primeiras braçadas numa modalidade solitária como a natação.
Agora, após quase duas décadas de competição ao mais alto nível, é altura de novas conquistas, igualmente importantes.
"Estou confortável, mas sei que há muitas pessoas que têm problemas de saúde mental. Uma em cada quatro pessoas tem um problema de saúde mental e não fala sobre isso. Se todos conversássemos, seria algo normalizado. É claro que, com a pandemia, a questão evoluiu. Se alguém estiver a sentir-se solitário, como fez na pandemia, é bom que partilhe as suas emoções", destacou, deixando ainda alguns conselhos a quem passe por este problema.

"Tirem 10 ou 30 minutos por dia para vocês mesmos, vão ao ginásio. Devem procurar algo pelo qual sejam apaixonados. Foi difícil para mim encontrá-lo. Eu roía as unhas, não sabia o que fazer", recordou.

E é com base na sua própria experiência que Phelps lança o repto a todos os jovens que sofrem na expectativa de alcançar determinado objetivo, lembrando que a partilha é sempre o ponto de partida de quem se sente mal:

"Quero ajudar as pessoas que estão a lutar. Quero salvar vidas. Também pensei em cometer suicídio e quero ajudar essas pessoas. Há luz no fim do túnel. Falar sobre essas questões salvou a minha vida. Quero lembrar as pessoas que não estão sozinhas", confessou, aquele que é para muitos o maior atleta olímpico de sempre.