Um projeto de inclusão social pela via da natação criado em 2002 tem hoje um forte impulso e permite a jovens de famílias em dificuldades económicas de Vila d’Este praticar a modalidade em Vila Nova de Gaia.
Os nomes "Tubarões de Gaia" e Bairro de Vila d'Este complementam-se quando se fala de natação em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, fruto do trabalho iniciado em 2002 pela Associação de Proprietários da Urbanização de Vila d'Este (APUV) e que na piscina municipal permite a prática da modalidade a 21 crianças entre os seis e 12 anos.
O treinador, Luís Costa, contou à agência Lusa que o projeto surgiu "para tirar os meninos de situações menos próprias no bairro de Vila d'Este", relatando que "muitos deles, que não todos, estavam ao abandono, brincavam na rua até altas horas da noite e que, assim, estão integrados num desporto e longe de ambientes e situações menos próprias, guiando-se pela prática desportiva".
Considerando, por isso, "altamente inclusivo", o "Tubarões de Gaia" evoluiu do acolher jovens de um bairro problemático para passar hoje a permitir a "meninos a pagar apenas meia mensalidade e a outros nem isso devido às dificuldades económicas" dos pais, frisou Luís Costa.
Olinda Paulo, mãe de atleta e dinamizadora do projeto, reiterou à Lusa a faculdade social do projeto bem como a necessidade do grupo de cerca de 40 pais dos 21 atletas que integram o projeto, "suportarem as mensalidades de quem não pode pagar" em nome de um bem comum.
"Dessa forma conseguimos obter resultados a nível nacional, porque temos um treinador [Luís Costa] que se empenha pela saúde física deles e pela parte desportiva", salientou ao mesmo tempo que chamou a atenção para outro problema, a "falta de apoio da câmara".
"São precisas mais pistas e horas de treino", revelou a progenitora.
E o treinador acrescentou: "estamos gratos à câmara pela ajuda, mas temos cada vez mais meninos a quererem entrar. A lista de espera (cerca de 30) é grande e precisamos de mais pistas e mais tempo para treinar".
Ainda assim, 2018 tem sido um ano "coroado com vários títulos", entre eles o "Festival Regional de Cadetes, em que foram "campeões pela primeira vez também a nível individual", acrescido da convocatória de quatro atletas e um treinador para uma seleção nacional", destacou o treinador.
A coordenadora técnica, Ana Silva, explicou à Lusa que o clube AP Natação, que emana da APUV e tutela os "tubarões" tem no "total 180 atletas", sendo que muitos deles são de fora do bairro, pois é o único clube de natação do concelho, integrando desde os escalões "mais jovens até à reabilitação aquática, destinada à geração sénior".
Sobre a inclusão social que o seu trabalho proporciona acrescentou haver "muitos meninos que, após a escola, não têm atividade física", acabando a "natação por ser para eles não apenas um desporto, mas também uma forma de aprender a estar no meio social e em comunidade".
Sílvio Santos, de 11 anos, é "tubarão" há quatro anos e disse à Lusa estar a cumprir um "sonho", pois além de querer "conhecer novos espaços" queria "fazer novos amigos", destacando, por isso, a entreajuda existente.
Já para Lara Vieira, de 10 anos, também no projeto há dois anos e residente em Vila d’Este, a aposta passa pela melhoria dos "resultados, como toda a gente", enquanto que aumentar o contingente feminino nos treinos parece ser uma tarefa mais complicada.
"Há algumas que querem vir, mas outras apenas pensam nisso", relatou.
Hugo Teixeira, de 11 anos, residente em Vila d’Este, chegou à equipa há dois anos e justifica-o recorrendo a um pensamento próprio de escalões mais avançados: "estar aqui ajuda-me a não perder aquela parte que eu tinha de melhorar a cada treino".
E quando questionado sobre a tentativa de levar mais amigos para o projeto, a resposta do "tubarão" remete para as eventuais arestas ainda por limar na comunidade: "já tentei trazer para cá amigos, mas as mães deles não deixaram".
Os treinos decorrem de segunda-feira a sábado de manhã.
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