Jannik Sinner testou positivo a uma substância proibida por duas vezes, em março, durante o torneio Indian Wells.

No entanto, foi ilibado pela Agência Internacional para a Integridade do Ténis (ITIA), e, agora, a Agência Mundial Antidoping (WADA) contesta a decisão. Resta saber como é que vai acabar este caso e o que pode acontecer ao número um do mundo.

Enquanto o italiano jogava o seu melhor ténis e a sua carreira estava melhor do que nunca, foi tornado publico que tinha sido acusado de testar positivo para clostebol, em março.

O caso foi apresentado pela Agência Internacional de Integridade do Ténis a um painel independente, que defendeu que a justificação dada pelo tenista era “confiável”, alegando que “não houve culpa ou negligência”.

Apesar de ter sido autorizado a manter a atividade enquanto tenista, a decisão da ITIA foi contestada pela Agência Mundial Antidoping, que apresentou um recurso no Tribunal Arbitral do Desporto.

Para entender melhor este caso, a BBC Sports analisou algumas das questões que não saem da mente dos apreciadores da modalidade.

Sinner poderá ser banido e perder os títulos?

Estas são, possivelmente, as questões mais vezes feitas e têm respostas bastante diferentes.

Jannik Sinner pode sofrer uma suspensão, até porque a Agência Mundial Antidoping alega que o italiano deve encarar uma proibição de um a dois anos, que teria início a partir da data de decisão do Tribunal Arbitral do Desporto.

A questão que se impõe é que, pela primeira vez, a Wada contestou uma decisão da Agência Internacional de Integridade do Ténis, uma vez que a Wada acredita que não foram seguidas as regras estabelecidas neste tipo de casos.

Apesar de não ter questionado a veracidade da explicação de Sinner sobre o motivo pelo qual a substância estava no seu organismo, acredita que o jogador deve assumir a responsabilidade de uma situação grave como esta.

No entanto, não é provável que o tenista perca os seus títulos, até porque a Agência Mundial Antidoping assegura que não procura nenhuma perda de resultado, além das sanções já aplicadas pelo tribunal independente. É de relembrar que Sinner perdeu os pontos de classificação e o prémio ganho pelas semifinais no Indian Wells.

Há prazos para o Tribunal Arbitral do Desporto tomar uma decisão?

Não costumam existir prazos para estes procedimentos, mas tal como é enunciado na BBC, é provável que o caso de Sinner tenha uma longa espera. O Tribunal Arbitral do Desporto, depois de ter recebido o recurso da Agência Mundial Antidoping, anunciou que os procedimentos tinham sido iniciados e que está a ser formado um grupo que vai tomar a decisão.

Assim que o painel estiver formado, terá que emitir instruções processuais e dar início à audiência. A decisão deste grupo será final e cada parte terá o direito de apresentar um recurso ao Tribunal Federal Suíço, no prazo de 30 dias.

O que é o clostebol e qual foi a explicação dada pelo tenista?

Clostebol foi a substância que deu origem a todo este caso e é, no fundo, um esteroide anabolizante. Esta substância pode ser utilizada para melhorar o desempenho atlético com base no aumento da massa muscular.

Desde 2004 que é considerado, pela Wada, uma substância proibida e é, normalmente, utilizado num creme ou spray dermatológico, chamado Trofodermin, que pretende tratar feridas ou cortes na pele. Mesmo que em Itália seja possível adquiri-lo sem receita, segundo a lei italiana, a embalagem do Trofodermin deve ter um símbolo visível que indique a presença da substância proibida na sua composição.

Para justificar a utilização do medicamento, a equipa de Sinner alegou que o fisioterapeuta Giacomo Naldi estaria a utilizar o produto para curar um corte na sua mão. Depois de fazer massagens, diariamente, ao tenista, Naldi terá transferido a substância por não utilizar luvas.

É importante realçar que o tal Trofodermin terá sido dado pelo personal trainer de Sinner, Umberto Ferrara, que é farmacêutico.

Sinner foi beneficiado por não ter deixado de jogar?

Muito se questionou sobre este caso, principalmente pelo facto de Jannik Sinner não ter sido impedido de jogar, uma vez que os seus advogados apresentaram recursos imediatos à decisão, nas duas vezes em que testou positivo, que foram aceites ao fim de um e três dias.

Como a explicação dada por Sinner, de que não tinha acontecido nada de forma intencional foi aceite, foi autorizado a jogar. Karen Moorhouse, presidente executiva da Agência Internacional para a Integridade do Ténis, rejeitou as acusações de um alegado favorecimento ao número um do Ranking ATP.

“A maneira como gerimos os casos não se alteram, independentemente do perfil do jogador em questão. A maneira como o caso se processa é determinada pelas suas circunstâncias e factos próprios”, argumentou Karen.

Como reagiram os restantes tenistas?

Qualquer tenista terá ficado surpreendido com esta notícia e, alguns deles, fizeram questão de mostrar o seu desagrado e desconfiança relativamente à forma como o caso foi tratado.

Um dos mais críticos foi Nick Kyrgios, que nunca deixa nada por dizer, e apelidou a situação de “ridícula”, defendendo que o italiano deveria ser afastado durante dois anos.

Djokovic e Federer apelaram a que todas as situações devem ser tratadas da mesma forma, independente da classificação, riqueza ou influência do jogador visado.

Dennis Shapovalov, antigo top-10, indignou-se na rede social X dizendo que existem “regras diferentes para jogadores diferentes”.

Tara Moore, uma das tenistas que acusou doping, que mais tarde viu a suspensão provisória ser levantada depois de se ter conseguido inocentar, afirma que existe um tratamento diferente entre os atletas. Em causa está o facto de a sua sanção ter sido imposta no final de maio de 2022 e só ter sido autorizada a voltar às competições em dezembro de 2023.

Este caso está longe de estar terminado, não só porque a decisão ainda não foi tomada, mas também porque o fisioterapeuta de Sinner, que logo depois da polémica foi despedido pelo italiano, promete contar tudo aquilo que aconteceu assim que o puder fazer.