Rui Machado, o segundo melhor tenista português de sempre, pôs hoje um ponto final na sua carreira, cedendo a um pedido do seu corpo, mas despedindo-se realizado com a sua carreira.
"Estou aqui para comunicar-vos que, depois de uma reflexão profunda, decidi terminar a minha carreira. Estou bastante confiante que estou a tomar a decisão mais acertada. Garanto-vos que foi uma decisão muito pensada, muito ponderada", começou por dizer o jogador algarvio, numa conferência de imprensa no Complexo do Jamor (Oeiras).
Machado, que assegurou sentir-se realizado como tenista, confessou que há vários meses que o seu corpo está a pedir descanso.
"Mesmo estando habituado a levar o corpo a ultrapassar todos os limites variadas vezes, percebi que chegou o momento de respeitar os sinais que o meu corpo me tem dado ao longo dos últimos meses", disse no momento em que deu por terminados 15 anos de dedicação exclusiva ao ténis.
Emocionado, aquele que é um dos principais rostos do ténis nacional nas últimas duas décadas, assumiu que enveredar por uma carreira profissional foi a decisão mais acertada da sua vida.
"Não vou dizer que o ténis me deu tudo, mas ensinou-me a ser humilde. As lições que tirei ao longo destes anos de carreira penso que me vão servir para o resto da minha vida", considerou, recordando uma carreira com "muitos momentos inesquecíveis e muitas semanas difíceis".
O jogador farense garantiu que não só sai orgulhoso com os resultados que conseguiu alcançar, mas também pelas dificuldades que ultrapassou, numa carreira marcada por adversidades físicas.
"Quando aos 15 anos, me aventurei a ir para Barcelona, parti para perseguir um sonho, mas também com a pressão de todos aqueles que tentaram e não conseguirem. E levava também o peso da responsabilidade dos meus pais. Quero deixar uma palavra de agradecimento aos meus pais que me permitiram seguir um sonho", sublinhou.
Rui Machado lembrou que durante a sua carreira teve a oportunidade de trabalhar com grandes profissionais e a sorte de se ter cruzado com grandes seres humanos, que o ajudaram a ser melhor atleta e, sobretudo, melhor pessoa.
O abandono do tenista luso acontece poucas semanas depois de este ter deixado no ar a dúvida quanto à sua continuidade nos ‘courts', quando, na sua última conferência de imprensa no Estoril Open, falou em tom de despedida e brincou com os jornalistas, ‘acusando-os' de não lhe terem feito a pergunta do "milhão de euros".
O segundo melhor tenista português de sempre - foi 59.º do ‘ranking', a 03 de outubro de 2011 - pôs assim um ponto final numa carreira que só não subiu mais alto porque o seu corpo não deixou.
Foram oito os títulos no circuito ‘challenger' - Szczecin, Poznan, Rijeka e Marraquexe, em 2011, Assunção e Nápoles, em 2010, e Atenas e Meknes, em 2009 -, dez presenças no quadro principal de torneios do ‘Grand Slam', com a segunda ronda do Open dos Estados Unidos de 2008 e de Roland Garros de 2009 a figurarem como melhores resultados, 28 chamadas à seleção portuguesa da Taça Davis e quatro títulos de campeão nacional.
Mas, mais do que os números, o algarvio de 32 anos será recordado pela sua atitude incomparável em campo. Verdadeiro ‘motor' da seleção portuguesa em variadíssimas ocasiões, Rui Machado transcendia-se a jogar por e em Portugal, como demonstrou no Estoril Open do ano passado, quando bateu João Sousa, o homem que o sucedeu como melhor tenista português de sempre.
Astuto e observador, o farense aliou a garra e ‘raça' em ‘court' à inteligência e evidente capacidade oratória fora dele, sendo também o presidente da Associação dos Jogadores de Ténis de Portugal (AJTP).
"O que vou fazer no futuro? Sinceramente, não sei", concluiu, prometendo que o seu percurso continuará ligado à modalidade que é a sua vida desde sempre.
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