A velejadora Mariana Lobato está prestes a fazer história, ao tornar-se, no próximo domingo, na primeira portuguesa a competir na classe IMOCA da Ocean Race, ao serviço da Biotherm, após ter velejado no VO65 Racing for the Planet.
Depois de integrar a tripulação 100% nacional da Mirpuri Foundation Racing Team na primeira etapa, entre Alicante e Cabo Verde, a velejadora olímpica portuguesa está de volta à equipa do skipper francês Paul Meilhat, com a qual assinou contrato em agosto de 2022, tendo em vista a estreia na mais dura regata oceânica do mundo.
“Já estou em Itajaí. Estamos a acabar de preparar o barco e está a correr bastante bem. A equipa de terra fez um excelente trabalho, porque o barco chegou a Itajaí com alguns danos e conseguiram reparar tudo a tempo e já conseguimos navegar. O barco está bastante bem”, começou por contar Lobato à Lusa, antes da partida, em 23 de abril, do Brasil rumo a Newport.
Mariana Lobato fez algumas regatas com a Biotherm Racing Team em setembro de 2022 e uma transatlântica, “já como treino no barco”, no último mês de novembro, e garante estar a ser “muito bem recebida” e ser “sempre bom voltar à equipa”, que ocupa o quarto lugar da classificação, concluídas três etapas da mais difícil prova de circum-navegação à vela por equipas.
“Está a correr bastante bem este ‘team work’ e o ambiente que se vive aqui. Ser a primeira portuguesa a navegar num IMOCA, que é uma classe muito específica e em que existem poucas oportunidades, é um grande orgulho e espero que abra as portas a mais oportunidades a outras velejadoras portuguesas para conseguirem chegar a este nível”, comentou a atleta.
Além de reconhecer que “agora já há mais oportunidades para as mulheres no desporto", Mariana Lobato, de 35 anos, acredita que as mentalidades na vela estão a mudar.
“Já há mais abertura para podermos saltar a bordo e ter oportunidade de conhecer o barco para poder evoluir. Acho que a mentalidade está a mudar um bocado, o que é ótimo”, sublinha a campeã do mundo de Match Racing, em 2013.
E como exemplo aponta o caso da Biotherm Racing Team e do skipper gaulês Paul Meilhat, que levará a bordo na quarta ‘leg’ três mulheres, a britânica Alan Roberts (participou nove vezes na ‘Solitaire du Fígaro’), a olímpica francesa Marie Riou (quatro vezes campeã mundial de Nacra 17 e campeã da Volvo Ocean Race 2018 com a Dongfeng Racing Team) e a portuguesa Mariana Lobato, numa iniciativa inédita na história dos 50 anos da prova.
“A equipa da Biotherm com o skipper Paul Meilhat tem esta mentalidade muito aberta, que é uma das coisas que valorizo imenso. Não vêem diferenças entre homens e mulheres. Isto é muito importante para nós velejadoras, ter este reconhecimento e mostrar para fora também que podemos ter menos capacidade física, embora isto não seja só força, e que é preciso ter cabeça e os outros skills. É bom mostrar que conseguimos e o Paul [Meilhat] está a fazer um trabalho realmente espetacular neste aspeto, dando oportunidade de sermos mais mulheres que homens a bordo”, destacou.
“Uma inovação” que a portuguesa espera que “mude a mentalidade de muitos”.
A celebrar o 50.º aniversário desde o nascimento em 1973, a Ocean Race mudou este ano de formato e coloca duas classes em competição na mais difícil prova de circum-navegação à vela por equipas. Os IMOCA 60 vão dar a volta ao mundo, cumprindo sete ‘legs’, enquanto os VO65 fazem três etapas, pontuáveis para a Ocean Race Sprint Cup.
Na 14.ª edição da Ocean Race participam na classe VO65 a embarcação portuguesa da Mirpuri Foundation Racing Team, Team JAJO, Viva México, Ambersail 2, WindWhisper Racing Team e a Austrian Ocean Racing powered by Team Génova, enquanto a volta ao mundo é disputada por cinco IMOCA 60, o 11th Hour Racing Team, Guyot environnement – Team Europe, Team Holcim – PRB, Team Malizia e o Biotherm.
Comentários