
"Apesar dos esforços contínuos, as lacunas e inconsistências significativas continuam a dificultar a capacidade de satisfazer as necessidades das populações afetadas (...), o financiamento para a resposta humanitária em Moçambique continua a ser criticamente baixo", lê-se num relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) sobre a assistência às comunidades afetadas pelo ciclone, consultado hoje pela Lusa.
Em causa está o ciclone Jude, o mais recente a afetar o país, que entrou em Moçambique através do distrito de Mossuril, tendo feito, pelo menos, 43 mortos, dos quais 41 em Nampula, afetando ainda Tete, Manica e Zambézia, no centro, e Niassa e Cabo Delgado, no norte.
A última atualização do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) apontava para, pelo menos, 384.877 afetados.
Segundo o OCHA, são necessários cerca de 63,7 milhões de dólares (56 milhões de euros) para fornecer assistência e proteção a 778 mil pessoas carenciadas até junho no país.
"O apelo relâmpago continua sem financiamento, com a resposta humanitária a depender de recursos fornecidos por um número limitado de doadores", refere-se ainda.
De acordo como o relatório, desde a passagem do ciclone, até 11 de abril, o 'cluster' de abrigo da ONU atingiu 16% do seu objetivo, fornecendo artigos não alimentares e lonas, enquanto o setor da água, saneamento e higiene atingiu 6%, através da promoção da higiene, do transporte de água e da distribuição de `kits´ de limpeza nas comunidades afetadas pela catástrofe natural.
Só em Cabo Delgado - que também enfrenta uma insurgência armada desde 2017 - o plano de resposta humanitária e apelo devido à seca contou com um financiamento de apenas 21%, avança-se no documento.
"No setor da segurança alimentar e meios de subsistência, apenas 19% da população alvo foi atingida. No entanto, esta conquista representa apenas uma semana de distribuição de alimentos, enquanto será necessária uma assistência sustentada até à época da colheita", explica-se.
Devido às "graves deficiências", a agência das Nações Unidas avança que há incapacidade para transferir os recursos entre operações de ajuda, o que deixa "necessidades críticas sem atendimento".
"É necessário apoio urgente para resolver crescentes necessidades humanitárias na região (...), com a estação das chuvas e dos ciclones, bem como a estação de escassez, continuando até abril", sendo que "as necessidades urgentes incluem alimentos, sementes, materiais de construção e assistência", acrescenta-se no relatório.
Moçambique está em plena época chuvosa, que decorre entre outubro e abril, período em que, além do Jude, registou ainda os ciclones Chido, em 14 de dezembro, e Dikeledi, em 13 de janeiro, totalizando estes três cerca de 170 mortos.
O país é considerado um dos mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.
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Lusa/Fim
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