Estamos de partida para a última etapa do rali. Como de costume, a alvorada foi às quatro da manhã, temos dormido pouco e o cansaço começa a perturbar. Para além disso, hoje é etapa maratona. Vamos andar durante dois dias a disputar uma classificação sem ter a mínima noção se estamos a fazer bem ou mal, ou se estamos a fazer melhor ou pior do que as outras equipas. Isto é absolutamente desconcertante. Nos outros ralis acabo sempre por ter uma noção se vou à frente ou atrás, sei se ultrapassei ou se fui ultrapassada e consigo manter um certo ânimo ou ficar completamente desanimada. Pois este rali não é nada assim. Estamos dois dias inteiros sem saber o nosso posicionamento face às outras equipas.
Cada uma faz as suas opções de caminho, nós fazemos o que nos parece melhor, elegemos o percurso mais reto, aquele em que se faz menos quilómetros e não percebemos porque razão as outras equipas tomam opções diferentes. Será que nos enganámos ou estarão as outras enganadas?! Terão de passar dois dias inteiros para termos a resposta... Chegaremos ao acampamento e entregaremos a nossa carta de controlo e nem nesse momento ficaremos a saber quem foi a vencedora. Teremos ainda que esperar até que cheguem todas as outras, até que se analise todos os aparelhos e se perceba se há ou não penalizações para atribuir. Esperamos e desesperamos... e só lá bem tarde se saberá quem, de facto, teve o melhor desempenho.
Por outro lado, as surpresas são sempre grandes nesta última etapa. O cansaço é o nosso grande inimigo pois o rali é muito longo e caracteriza-se pelas poucas horas de sono. Há sempre uma ou duas equipas, daquelas que lideram a classificação, que comentem erros crassos e provocam grandes alterações na classificação final. Houve anos em que beneficiei com esses erros. O ano passado, pelo contrário, fomos nós as vítimas dessa fadiga. Para além de todas as dificuldades que tivemos de enfrentar para sobreviver numa categoria que é a mais difícil de todas, tivemos uma outra. A temperatura subiu a valores exagerados, ultrapassando largamente os 40 graus. A minha companheira belga, sempre bem adaptada ao frio, acabou por sofrer um desgaste físico superior ao normal porque calor é algo a que não está habituada. E pronto, "metemos os pés pelas mãos" e acabámos por não chegar a tempo à última bandeira. Quando tínhamos esperança de ganhar eis-nos a descer, incompreensivelmente, para o sexto lugar. Ficámos muito abatidas. Este ano estamos mais habituadas a trabalhar em conjunto e temos esperança de fazer uma última boa etapa, sem erros desproporcionados.
Amanhã veremos a classificação!
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