Os pensamentos e as estratégias dos técnicos umas vezes resultam, outras não. Jesualdo Ferreira apresentou no Dragão a mesma estratégia que utilizou na Luz: um posicionamento defensivo e conservador, o qual visava o contra ataque. Quando era para defender, só Eder ficava na frente e Alan entre este e os recuados colegas. A preocupação visava reduzir espaços, anular os avanços dos laterais dos campeões e, aquando da recuperação da bola, aproveitar a inteligente visão de jogo de Alan e a velocidade dos seus extremos.

Se Pardo aproveitasse a flagrante oportunidade logo aos três minutos esta ideia tinha resultado em pleno e teria agravado os distúrbios emocionais das hostes portistas, os quais estavam presentes na ansiedade nas bancadas e nos próprios jogadores, que falhavam demasiados passes perante a densidade de bracarenses no seu meio campo e por falta de corretas solicitações. Na primeira parte, o futebol resumiu-se à oportunidade perdida pelo Braga e por um excelente remate de Josué.

No futebol há males que vêm por bem e esse foi o caso da lesão que forçou a troca do adinâmico Lucho por Carlos Eduardo. A entrada deste jogador, e o simultâneo golo de Jackson, desinibiram os dragões para uma excelente segunda parte. Segundo alguns, as justificações desta mutação devem-se «à inversão do triângulo do meio campo e aos pivôs». Desconheço se algum treinador é dentista, mas que Paulo Fonseca - ao introduzir o ex-jogador do Estoril - implantou outro ritmo, outra dinâmica e outra velocidade, lá isso é verdade.

Escrevi há dias que o futebol é mobilidade, é interação entre os sectores, é o pressionar, é o atacar, é o passa e desmarca, é a criatividade, é a inteligência de optar pela finta, pelo passe ou pelo remate. Ontem, na segunda parte, gostei de ver o trio do meio campo solto, móvel, sem posições fixas. Danilo a iniciar uma jogada no seu corredor, a infletir e a realizar duas tabelas que terminaram com um remate à baliza no corredor oposto; as saídas com bola de Mangala; a excelente prestação de Varela, com as suas fintas, a sua velocidade e o passe para o segundo golo, o que fez dele o melhor em campo.

Paulo Fonseca tem matéria-prima para colocar o Porto a praticar um futebol produtivo. Este jogo transmitiu-lhe vários indicadores. O futebol dos 45 minutos iniciais, o qual foi intragável, por ineficaz, só com um remate à baliza. E o da excelente segunda parte, onde os portistas praticaram talvez o melhor futebol coletivo da época, jogado ao primeiro e segundo toque. Para este jovem treinador voltar à ribalta, falta-lhe descobrir o que ocasionou este jogo, onde aconteceu, o oito e o oitenta, para definir uma média positiva!