Já afirmamos várias vezes: as equipas de futebol são uma espécie de franchising. O futebol e os sistemas que se vendem por esse mundo fora são iguais, idênticos e imitativos. O rendimento da qualidade de jogo depende do poder económico para comprar os melhores jogadores e dos administradores que têm grande influência na preparação da apresentação do produto. Contudo, existe nas equipas uma enorme irregularidade que não satisfaz os assíduos clientes. Claro que, entre os superintendentes, uns gerem melhor que outros.
Um desses gerentes saiu do franchising e criou um modelo original. Parabéns, Guardiola, por criares no Barcelona este tipo de jogo inovador, o qual é, e será por muito tempo um quebra-cabeças para quase todos os seus estudiosos, e inadaptados homólogos. No futebol basta engendrar um modelo diferente para confundir a rotina dos costumes e dos habituais sistemas de jogo. Os moldes vivem de ciclos. Este já é copiado por todas as seleções espanholas. Os antecedentes modelos também andaram de pé em pé.
Este introito vem a propósito do jogo de ontem entre o Benfica-Barcelona. Como espero aprender até morrer, mantenho uma contínua aprendizagem. Escuto e leio tudo a respeito dos jogos que vejo. Uns dizem que Jesus fez bem em encurtar as linhas. Cada um sabe com as linhas com que se cose. Outros comentam que o plano de Jesus para se opor condignamente ao Barcelona e a Messi não resultou. Acontece aos melhores. Mantenho que dos treinadores portugueses empregados Jesus é o melhor taticamente.
Por isso, esperava uma estratégia diferente. Mesmo sabendo que este jogo deveria ter uma abordagem específica para anular parcialmente o futebol do Barcelona. Mas tal não aconteceu, porque o Barcelona, apesar de já estar a pensar no Real Madrid, não impôs ao seu futebol o habitual ritmo diabólico. Manteve a envolvência constante das movimentações habituais. Com todos os jogadores a mexer, ativos, desinibidos, agressivos e inteligentes. Jogou ao primeiro toque. Fazendo o seu jogo de "flippers": passa, desmarca, recebe e remata. Este Barcelona baralha tudo. Os comentadores não conseguem descobrir quem é o 6, o 8, o 9, e o 10. Que confusão!
Até 5 de Dezembro, Jesus vai ter tempo para estudar a melhor forma de defrontar os catalães, para lhe reduzir o tempo de posse de bola. Se só há uma bola? Então as águias quando de posse da mesma, não a deveriam perder, para não andarem a cheirá-la durante 70 minutos. Faz parte dos princípios do jogo, que quando se recupera o esférico, deve-se mantê-lo, pois na sua posse a equipa progride com a finalidade de criar situações para marcar golos.
Pelo que se afirmou fica-se com a ideia de que o Barcelona é incontrolável? É difícil, mas não impossível. Todos os adversários, talvez com exceção do Real Madrid, levam para os jogos o síndrome de Messi e companhia. Mas o Barcelona também tem pontos fracos. Precisamente a defender. Então se esse é o ponto débil, porque não se joga mais ao ataque? Sabendo da lentidão dos centrais, talvez com 2 pontas de lança à imagem do Sevilha, o Benfica fosse mais perigoso. Lima teve uma excelente oportunidade nos minutos iniciais, mas perdido na segunda parte tocou apenas 2 vezes na bola! É muito pouco ou nada.
“Colar” o setor do meio campo ao setor defensivo e deixar só na frente Lima parece encurtar o espaço ao ataque do Barça, mas na realidade só parece. Para o anular é preciso pressionar e o Benfica joga como todas as equipas, à zona. Deixar soltos tecnicistas deste cariz é andar a correr atrás da bola, descarrilados. Tentar defender com Sálvio e Gaitan, que não têm hábitos defensivos, não resulta. Deram azo a que os laterais do Barcelona fossem mais extremos do que defensores.
É importante pressionar o portador da bola e os possíveis recetores. O pressing reduz a criatividade e a rapidez mental do adversário, obriga-o à improvisação e ao fracasso de continuidade coletiva, ao dificultar a progressão, o adversário perde a bola, e pode ser surpreendido com um contra ataque letal. Jesus apostou no contra e na velocidade de Sálvio e Gaitan. Mas faltou “terem mais bola”.
Esta equipa do Barcelona tem uma filosofia atacante. Já li que na formação da Academia “La Masia” de Barcelona, «é proibido dizer a palavra defender». Talvez a razão por que as suas lacunas morem na organização defensiva e o mérito esteja nas funções ofensivas. Ontem, mesmo sem meterem “o prego a fundo”, marcaram dois golos e poderiam marcar o dobro ou até mais...
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