O campeonato voltou em 2024 e houve um bocadinho de tudo, assim como na feira.
Em Alvalade o Sporting arrumou facilmente com o Estoril por uns esclarecedores cinco a um. Os canarinhos foram presa fácil para um Sporting que tem em Gyokeres uma Amazônia a dar oxigénio ao planeta leonino.
No norte, no mesmo dia, jogou-se o dérbi da Invicta, um sempre apetecível Boavista-FC Porto. Apesar de ser um dérbi, costuma ser mais desiquilibrado do que um elefante em cima de uma placa de esferovite. Costuma mas desta vez, não foi, o Boavista conseguiu sacar um ponto para si e dois aos azuis e brancos. O FC Porto vê agora o primeiro lugar mais longe um pouco.
Em Arouca, o Benfica arrumou com a equipa local por três golos sem resposta mas poderiam ter sido bem mais. Sabem aquela treta que dizemos que as equipas pequenas deveriam jogar de peito aberto para tornar os jogos mais interessantes? É isto que acontece quando um David tenta ganhar a um Golias numa luta corpo a corpo.
O foco da minha crónica é tradicionalmente sobre os três grandes, mas hoje irei dedicar-me mais ao dérbi do Minho que se jogou ontem em Braga.
De um lado onze guerreiros romanos, do outro onze cavaleiros medievais, o dérbi minhoto nem parece futebol, parece um jogo de "Age of Empires".
Durante a semana, a comunicação social fartou-se de apelidar este dérbi como o maior de Portugal porque transcende o desporto e parte para o regionalismo. Não tenho grandes duvidas que dói bastante aos vitorianos ao preencherem os papéis no registo civil, terem de colocar como seu distrito Braga, assim como, deverá doer bastante aos braguistas, nas aulas de História, terem que colocar como berço da nação a cidade de Guimarães.
Uns chamam aos outros espanhóis (aos de Guimarães) e Marroquinos (aos de Braga), e sim, já estamos a falar de duas cidades e dois países diferentes, portanto é um dérbi bastante regional e capaz de confundir o mais simples dos "Paulos Fonsecas" desta vida.
Vamos ao jogo, começou praticamente com um golo do Sporting de Braga mas...foi anulado.
O VAR trouxe esta maravilhosa sensação de falso orgasmo ao futebol. Lembra-me os meus tempos de adolescência, em que uma amiga tinha uma casa daquelas tipo filme americano, com piscina, campo de futebol, tudo o que uma pessoa pode querer para umas mega festas, mas tinha sempre os pais em casa. Um dia ela liga ao pessoal a dizer que os pais iam para fora. Obviamente lançamos o telemóvel ao ar e abraçamo-nos em festa, finalmente iríamos usar e abusar daquele monumento, só que não. Logo de seguida ela retomou a chamada para nos dizer que durante esse tempo iria para a casa de uma tia. Basicamente foi isto que aconteceu ontem em Braga, 20 mil almas viram a bola do Zalazar ir para a casa da tia de Guimarães.
O Sporting de Braga teve sempre maior ascendente sobre o Vitória, tem melhor equipa, melhores jogadores, não vale a pena sequer discutir isso. O Vitória dependia muito das investidas suicidas de Jota, que se lançava para cima da defesa do Braga, na maior parte das vezes com a mesma lógica dos terraplanistas.
O Sporting de Braga ia tentando e chegou ao golo pelos pés de Vítor Carvalho. Estava inaugurado o marcador e o Municipal de Braga explodia em festa. O Sporting de Braga esteve perto do segundo golo, numa das situações, Abel Ruiz, isolado frente a um 'castelo escancarado' conseguiu enviar a bola para o 'fosso'.
Quem não marca, arrisca-se normalmente a sofrer e basicamente foi isto que aconteceu. Nos últimos dez minutos, o Vitória pegou no jogo e começou a encostar o Sporting de Braga às cordas. João Pinheiro deu cinco minutos de descontos, os quais, o Sporting de Braga decidiu queimar de lança chamas em riste. Foram três substituições, foi Matheus esticado no relvado e com isto o jogo alongou-se.
Aos 98 minutos, João Mendes manda um daqueles bilhetes só de ida que levantam as bancadas de qualquer estádio, pena o jogo ser na Pedreira e só ter duas para levantar.
Matheus ainda deve estar para perceber que objeto foi aquele que lhe passou por cima.
Em dia de Reis dividiu-se o bolo pelas duas cidades, ficando com um ponto cada uma.
Sejam espanhóis, marroquinos ou o diabo que os carregue, o jogo de ontem foi sem dúvida um sinal que o futebol português tem muito mais para oferecer do que apenas os três grandes.
Viva o futebol.
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