Meia época chegou para despontar uma das maiores promessas do futebol mundial. Ao leme de Rui Vitória e posteriormente Bruno Lage que lhe deu o devido protagonismo, o Benfica lançou João Félix que, depois de pouco mais de 6 meses no campeonato português, decidiu rumar ao Atlético de Madrid.

As dúvidas nas nossas cabeças deverão ter sido as mesmas do João. O meu estilo de jogo encaixa nesta equipa? Simeone vai jogar com um nº10? E se não consigo ter bola para mostrar o que valho? Vou passar a maior parte do tempo em processo defensivo?

Nunca foi consensual entre os adeptos e muito menos pelo seu treinador que quase se viu obrigado a colocar João Félix em campo uma vez que o clube despendeu na sua contratação 120 milhões de euros. Existe aprendizagem (principalmente no momento defensivo) pelo caminho, porém nunca uma confirmação do seu verdadeiro potencial, apesar de até ter conseguido ser campeão nacional ao serviço dos madrilenhos.

Ruma por empréstimo para um Chelsea em fase 0 da sua construção, completamente desequilibrado, sem estrutura e começa inclusive com uma expulsão no seu primeiro jogo. Dentro do pouco sucesso desportivo dos blues, Félix foi ganhando minutos, contudo nada que sustentasse a sua contração. Começa esta época sem clubes capazes de exercer a sua transferência, à exceção dos clubes árabes - para onde Félix apenas em último caso ponderaria rumar.

Surgem as hipóteses de empréstimo: Benfica (apesar de sempre desmentido) e Barcelona. No Benfica, onde foi tão feliz, voltaria a ter a oportunidade de brilhar, com um nível de exigência abaixo daquele é a La Liga, seria pedra basilar da equipa, perfeitamente enquadrado na posição de nº10 de Roger Schmidt. Já em Barcelona, a concorrência é maior e, mesmo em casos de igualdade qualitativa, a escolha do treinador e dirigentes deverá passar por aqueles que pertencem ao clube, isto é, os que não são emprestados.

Surgem as dúvidas do seu potencial rendimento porque dificilmente ocupará as mesmas zonas que ocupou no Benfica nos seus tempos áureos. As probabilidades de jogar enquanto avançado interior, a começar a partir do corredor lateral, são altas. Ocupará sempre o corredor central com maior frequência até porque é a sua natureza e, ao contrário do que acontecia em Madrid, terá maior liberdade criativa e posicional.

Esta pode ser a melhor época da sua carreira? Pode. As características, a liberdade e todo o contexto existente parecem indicar que este pode mesmo ser o projeto perfeito para a sua carreira, ainda que a sua transferência fosse algo importante de se concretizar. Se jogar com regularidade, não tenho a mínima dúvida que estaremos perante um dos maiores casos de sucesso na Europa. Enquadrado com o campeonato espanhol, falta ganhar entrosamento com a equipa.

João Félix é um dos nomes a guardar na presente temporada. Agora não existem desculpas. O contexto é perfeito para aplicar o seu jogo. Resta apreciar.

PS: Rafael Pacheco, treinador de futebol, tem nas bancas o livro 'Rogerball - O Benfica de Schmidt', onde analisa a época do Benfica em 2022/23, que levou os encarnados ao título de campeão nacional e aos quartos de final da Liga dos Campeões.