Tradicionalmente as famílias marroquinas vivem juntas. Por exemplo, o Baba tem três irmãos e partilham a mesma casa com os pais, as mulheres e os filhos. São onze as crianças lá de casa. Cada casal e os respetivos filhos até aos três anos ocupam um quarto. As crianças com mais de três anos dormem juntas noutro quarto, um para rapazes outro para as raparigas. As mulheres tomam conta da casa. Uma faz a comida, outra as limpezas, outra o pão... a outra trata dos animais... e, ao longo da semana, vão rodando as atividades, sem conflito. Os homens têm atividades no exterior, o Baba e dois dos seus irmãos exploram o café, um outro faz manutenção de bicicletas.
No interior da casa há apenas o essencial e um simples tapete no chão substituiu muitas das peças de mobiliário das nossas casas. As mulheres comem separadas dos homens, não em mesas diferentes mas em salas diferentes. Elas lá em baixo, perto da porta e da cozinha, porque fazem muito barulho, diz o Baba, e os homens cá em cima. As crianças também se dividem. As meninas comem com as mães e os meninos com os pais. Por isso quando o Baba nos convidou para almoçar questionei-me se iria almoçar com as mulheres. Fiquei sem saber se me saberia comportar de acordo com os seus princípios culturais... mas não. Tal como na Mauritânia, onde vivi uma experiência idêntica, ser convidado para uma casa marroquina não significa privar com a família. É mais como ir a um restaurante particular onde temos uma sala de jantar só para nós e não pagamos a conta.
Antes da refeição tomámos o tradicional chá de menta, descalços, sentados em frente a duas pequenas e baixas mesas redondas. Quatro crianças curiosas observavam-nos atentamente. Fátima, uma menina de três anos, disse que ia almoçar connosco. O Baba explicou-lhe que ali só almoçavam os homens e ela declarou que era um rapaz... o que o fez rir. Quando as travessas da comida, misteriosamente entraram na sala, as crianças desapareceram discretamente, sem qualquer ruído e apenas o seu filho mais novo de três anos comeu connosco.
À saída chamou a mulher do lado de fora da porta para que me viesse conhecer. A resposta foi um silêncio profundo como se não estivesse ninguém em casa. Voltou a insistir. Da resposta gerou-se uma incompreensível troca de palavras em árabe. “Anda...que está tímida!" Disse-me fazendo-me entrar naquela escura sala vazia onde um único tapete acolhia todas as mulheres da casa e as crianças mais pequenas.
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