uase 120 processos contraordenacionais estão em curso junto da Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD) devido a invasões de recinto desportivo, estima o presidente Rodrigo Cavaleiro.
“A esmagadora maioria tem a ver com futebol, mas estamos a falar em muitas situações de espetáculos de âmbito distrital, nos quais as medidas de proteção física não são tão impeditivas para estas ocorrências. Felizmente, há uma minoria de situações em provas profissionais”, enquadrou o líder do organismo estatal, em declarações à agência Lusa.
Os processos instaurados desde a criação da APCVD, em outubro de 2018, decorrem de invasões sem perturbação direta em eventos desportivos e já levaram à aplicação de quase 35 condenações efetivas e 25 sanções acessórias de entrada interdita em recintos.
“O panorama nacional acompanha a tendência internacional. Na conferência anual de segurança da UEFA, que teve lugar este mês em Lausana, na Suíça, a invasão de recintos desportivos foi apontada como uma das situações que causa preocupação aos organizadores e às autoridades. Está associada à mediatização e promoção através das redes sociais, que são identificadas nesse contexto como um combustível”, sinalizou.
Além dos casos menos graves, com coimas entre 1.000 e 10.000 euros ou uma sanção acessória até três anos de interdição, a invasão do terreno de jogo pode constituir crime se afetar diretamente o evento, podendo implicar até dois anos de prisão e um a cinco anos de acesso proibido a recintos desportivos.
“Com o advento das redes sociais, há uma outra vaga e uma nova motivação para que as pessoas procurem este tipo de exposição e tenham aqui um outro canal privilegiado na chegada às massas e na obtenção de toda a atenção que procuram”, notou Rodrigo Cavaleiro.
As invasões de campo intensificaram-se no Europeu, entre 14 de junho e 14 de julho, na Alemanha, onde vários episódios aconteceram durante e no final da maioria dos jogos da seleção portuguesa até à eliminação perante a vice-campeã mundial França nos quartos de final.
“Julgo que tem sido por fases. Há mais de uma década que se verificam situações destas. Todos nos lembramos de passarem imagens televisivas de pessoas que invadiam recintos. Faziam-no de uma forma quase desinteressada ou por motivações de obtenção de rendimentos através da publicidade, havendo também quem tentasse expor causas em jeito de protesto”, lembrou.
Os adeptos invasores em encontros da seleção nacional no Euro2024 tiveram como alvo prioritário o capitão Cristiano Ronaldo, junto do qual acorriam aparentemente para obter apenas uma foto com o seu ídolo em pleno relvado.
“Em termos de medidas preventivas, estas invasões levaram a um acordo e à boa prática de evitar a sua transmissão televisiva, de modo a não incentivar as pessoas a procurarem este tipo de exposição pública e mediática. Apesar disso, basta que uma outra pessoa esteja coordenada com o invasor e grave com o telemóvel para facilitar a publicação de imagens nas redes sociais e aumentar imediatamente a audiência”, admitiu Rodrigo Cavaleiro.
O Europeu teve dezenas de invasões quase sempre pacíficas, mas, no final da vitória de Portugal sobre a Turquia (3-0) na segunda jornada do Grupo F, um assistente de recinto desportivo escorregou na tentativa de proteger Cristiano Ronaldo da aproximação de um dos prevaricadores e chocou de forma involuntária contra Gonçalo Ramos, deixando o avançado do tricampeão francês Paris Saint-Germain visivelmente queixoso e a coxear.
“Podemos falar em prevenção geral, fazendo, posteriormente, a publicitação das punições e do efeito que podem ter para que outras pessoas que pensem em ter semelhantes atos percebam que há consequências gravosas e sejam desincentivadas”, direcionou.
As invasões em jogos de Portugal voltaram a ser notícia em 08 de setembro, quando a entrada de um espetador em campo quebrou um ataque iminente da equipa das ‘quinas’ na reta final da vitória caseira sobre a Escócia (2-1), na segunda jornada do Grupo A1 da edição 2024/25 da Liga das Nações.
“Depois, há a questão da formação dos próprios intervenientes, seja dos assistentes de recinto desportivo ou dos gestores e das forças de segurança, de forma que estejam preparados e percebam de que forma poderão intervir eficazmente e minimizar este tipo de ocorrências”, considerou o presidente da APCVD.
Ao contrário do habitual, Cristiano Ronaldo, que tinha saído do banco de suplentes para marcar o golo da vitória frente à Escócia, mostrou desagrado pela interrupção da jogada.
“Será importante trabalhar também nas motivações ou nos resultados que os infratores esperam alcançar com essas ações. Isso significa atuar, de alguma forma, junto às principais plataformas de redes sociais, para desativar essas publicações, reduzindo o alcance e retirando o benefício que os infratores obtêm ao divulgar as imagens gravadas”, finalizou.
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