O criador do Football Leaks, Rui Pinto, está em França a colaborar com autoridades europeias num processo e vai, por isso, falhar o debate instrutório em Lisboa do processo no qual é acusado de 377 crimes.
“Informámos o tribunal de que o Rui Pinto não vai estar presente, porque está em Paris a colaborar com as autoridades”, disse esta quinta-feira à Lusa o advogado Francisco Teixeira da Mota, confirmando a realização da diligência para as 10:00 desta sexta-feira no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC).
Rui Pinto, de 35 anos, já tinha colaborado anteriormente com a justiça francesa ainda antes do julgamento do processo Football Leaks, no qual acabou condenado, em setembro do ano passado, pelo Juízo Central Criminal de Lisboa, a quatro anos de prisão com pena suspensa, por um crime de extorsão na forma tentada, três de violação de correspondência agravado e cinco de acesso ilegítimo.
Já em novembro, o criador do Football Leaks foi também condenado em França a seis meses de prisão, com pena suspensa, pelo Tribunal Judiciário de Paris, por aceder ilegalmente a emails do Paris Saint-Germain.
Em relação ao processo cuja instrução chega agora à reta final, com a realização do debate instrutório, Rui Pinto responde por 377 crimes relacionados com o acesso aos emails do Benfica e de outros clubes, Liga de clubes, empresas, advogados, juízes, procuradores, Autoridade Tributária e Rede Nacional de Segurança Interna.
Segundo a acusação, estão em causa 202 crimes de acesso ilegítimo, 134 de violação de correspondência, 23 de violação de correspondência agravado e 18 de dano agravado.
A acusação, assinada pela procuradora Vera Camacho, indica que Rui Pinto sabia que lhe era vedado o acesso a tais dados, atuando “com intenção de se introduzir indevidamente nos sistemas informáticos”, o que fez através da captura de credenciais de utilizadores daquelas entidades, conseguindo “retirar toda a informação que ali estivesse de seu interesse”.
Sobre o acesso aos e-mails do Benfica, após elencar as caixas de correio eletrónico de dirigentes que foram visadas, o Ministério Público (MP) refere que Rui Pinto decidiu em abril de 2017 partilhar a informação com o diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, além de ter passado a publicar em dezembro desse ano no blogue 'Mercado de Benfica'.
A acusação realça ainda os indícios de acesso informático a clubes e instituições estrangeiras, como Atlético de Madrid, Mónaco, Villarreal, Shakhtar Donetsk, FC Barcelona, Manchester City, Real Madrid, Inter Milão, Juventus, Ajax, FIFA, UEFA, Landscape, Sable, Grupo Fosun, King and Wood Mallesons, LIAN Sports & Partners, Rui-Huerta & Crespo Abogados. Por isso, considerando que “a dispersão a nível mundial de entidades afetadas é de tal ordem vasta”, o MP decretou a transmissão da informação recolhida através da Eurojust.
Contudo, a investigação a Rui Pinto vai além desta acusação, com o MP a dar conta da extração de certidão para outro inquérito sobre alegados acessos ao sistema informático e e-mails de FC Porto, Nacional, Tondela, Câmara de Cascais e ao seu presidente, Carlos Carreiras, a empresa Promovalor – do ex-presidente do Benfica Luís Filipe Vieira – e outros escritórios de advogados.
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