"O nosso objetivo é voltar a colocar o Estrela no lugar onde esteve, que é a Primeira Liga!" Esta é a ambição apontada por Rui Silva, presidente do Clube Desportivo Estrela, equipa que trouxe de volta o futebol à Reboleira.

Sim, leu bem. Oito anos depois, o futebol sénior regressou esta época a uma das cidades mais populosas do nosso país. Já não com a designação de Clube de Futebol Estrela da Amadora, mas com o nome de Clube Desportivo Estrela, uma equipa com "estatutos modernos, inspirados nos anteriores estatutos do Clube de Futebol Estrela da Amadora", explicou o presidente.

Mas puxemos o filme atrás para lhe contar como, em 2011, este clube se refundou a partir do antigo Estrela da Amadora para ressuscitar a mística e homenagear a história da equipa que na época 1989/90 conquistou a Taça de Portugal.

Clube extingue-se em 2011 por milhões em dívidas

O clube que lançou para o estrelato jogadores como Jorge Andrade, Paulo Bento ou Abel Xavier, e que teve treinadores como Fernando Santos, Jorge Jesus ou João Alves – José Mourinho também foi adjunto do Estrela -, foi declarado insolvente e extinto em 2011 devido a problemas financeiros, dois anos depois de ter caído administrativamente da I Liga.

O pedido de insolvência foi interposto pelo Estrela da Amadora, impedido de se inscrever na Liga portuguesa de futebol na temporada de 2009/2010, alegando o clube impossibilidade de cumprir pontualmente com as suas obrigações, uma vez que não detinha meios próprios ou de crédito.

"O nosso objetivo é voltar a colocar o Estrela no lugar onde esteve, que é a Primeira Liga!"

Por não cumprir os requisitos estabelecidos pela Federação Portuguesa de Futebol no processo de inscrição nas provas de seniores, o Estrela da Amadora, 10.º na II Divisão nacional na época de 2009/10, apenas competiu na época de 2010/11 nos escalões jovens, pela primeira vez desde que foi fundado, em 1932.

João Alves, o homem da Taça de Portugal na Amadora

O Estrela da Amadora viveu o ponto mais alto da sua história na temporada 1989/90, sob o comando técnico de João Alves, quando conquistou a Taça de Portugal depois de vencer o Farense na finalíssima por 2-0 – nessa época, em caso de empate no jogo da final, não havia direito a prolongamento e jogava-se uma finalíssima (Estrela venceu depois de uma empate a uma bola no primeiro jogo).

Na época seguinte, o clube da Reboleira participou na Taça das Taças, eliminando os suíços do Neuchâtel na primeira ronda e caindo na segunda eliminatória, frente aos belgas RFC Liège. A melhor classificação dos ‘tricolores’ na I Liga aconteceu na temporada 1997/98, quando o Estrela alcançou um sétimo lugar que valeu o apuramento para a extinta Taça Intertoto. Os estrelistas acabaram por ser eliminados logo na primeira ronda pelos polacos do Ruch Chorzów.

Jogadores do Estrela da Amadora mostram a Taça de Portugal ganha ao Farense na época 1989/90
Jogadores do Estrela da Amadora mostram a Taça de Portugal ganha ao Farense na época 1989/90 Jogadores do Estrela da Amadora mostram a Taça de Portugal ganha ao Farense na época 1989/90 créditos: Direitos Reservados

"Senti-me muito emocionado. Depois a festa que houve na Amadora foi lindíssima. Já tinha ganho Taças de Portugal, mas tinha sido no Benfica e no Boavista, e aí é mais fácil. No Estrela da Amadora foi numa situação em que não é muito normal clubes com a dimensão do Estrela ou do Farense estarem presentes numa final da Taça. A festa da Taça foi lindíssima porque teve de haver uma finalíssima. Foi uma festa do futebol fantástica", contou João Alves ao SAPO Desporto, treinador que agora orienta a Académica de Coimbra.

"No final, os ‘motards’ de Faro despediram-se da equipa do Estrela com as suas motas. Coisas fantásticas que realmente o mundo do desporto proporciona às pessoas e que cada vez vão rareando mais nos tempos atuais. Naquela altura era possível ir ao futebol com respeito pelos adversários e participar numa festa tão bonita como foi aquela na final da Taça", acrescentou.

SAPO Desporto – Como foi ver o clube ser extinto em 2011?

João Alves – "Senti-me triste e envergonhado pela forma como deixaram acabar um clube dessa dimensão e chegar as coisas a esse ponto."

SD – É visto como um ‘herói’ por causa da conquista da Taça de Portugal. Concorda com esta distinção?

JA- "Sinto-me muito orgulhoso e contente por me considerarem um herói. Passei anos maravilhosos na Amadora, fomos campeões nacionais da divisão de honra, subi uma ou outra vez o Estrela à primeira divisão e estive na estreia do Estrela na I Divisão como técnico. As coisas correram de uma forma muito positiva e é normal que se criasse um laço de amizade, de admiração, entre mim e o clube e entre mim e as pessoas da Amadora."

SD – Acredita que o clube estará em pouco tempo de regresso à I Liga?

JA – "Primeiro têm de subir de divisão um ano de cada vez. O caminho faz-se caminhando e as escadas vão-se subindo. Degrau a degrau é que se chega ao topo. O mais importante agora é pensarem na divisão que vão ter pela frente e tentarem alcançar um objetivo de cada vez. O CD Estrela está inserido numa cidade com grande densidade populacional. É possível revitalizar o clube ao ponto de criar vontade para que isso venha a acontecer."

"Sinto-me muito orgulhoso e contente por me considerarem um herói"

A realidade do Clube Desportivo Estrela agora é outra. Depois de em 2011 ter sido formado por 13 sócios que não quiseram deixar ‘morrer’ o Estrela, a equipa dedicou-se à formação, ao atletismo, ao ténis de mesa, judo, ginástica e esgrima. O caminho foi feito pedra sobre pedra, com a introdução de um escalão a cada época. Nesta temporada foi a vez dos seniores. A equipa começou na I Divisão distrital da Associação de Futebol de Lisboa. Pela frente terá ainda a Divisão de Honra, a Pro-Nacional, o Campeonato de Portugal, a II Liga e, finalmente, a tão ambicionada I Liga. Uma escalada que pode ser de apenas cinco anos, mas muito difícil.

"O processo de refundação é a longo prazo, ambicioso, mas que abrange várias vertentes. Primeiro é recuperar as modalidades que fizeram história no clube. Queremos ser um clube eclético. Poderemos e queremos ter outras modalidades, mas vamos recuperar as modalidades que fizeram história no clube. O atletismo porque fez história no Clube de Futebol Estrela da Amadora, o futebol que assumimos como a nossa modalidade principal, e o ténis de mesa que teve uma história de sucesso. Começámos o ténis de mesa no ano passado e fomos campeões distritais, acabando por subir de divisão. Ao nível do futebol a nossa ambição é ir à I Liga. Vai dar trabalho a chegar lá, mas essa é a ambição que nós temos desde início. O nosso objetivo é chegar à I Liga, mas não sei quanto tempo vai demorar", começou por dizer Rui Silva que em 2018, com a saída de António França da presidência, deixou o cargo de Presidente-Adjunto, assumindo a liderança do Clube Desportivo Estrela.

"Todas as infraestruturas fazem parte de uma massa insolvente e o que fizemos foi um acordo com o administrador de insolvência. Temos um contrato que nos permite utilizar o estádio mediante um pagamento e cuidamos do que está aqui. O que nós encontrámos em 2011 não era nada bonito, era um espaço degradado. Crescia mato nas bancadas, o relvado não existia, os muros não eram brancos. O mínimo que podemos ir fazendo é recuperar o estádio para dar condições condignas aos nossos atletas", referiu o dirigente, antes de separar aquelas que são as dívidas do Clube de Futebol Estrela da Amadora, que nada têm a ver com as do Clube de Futebol Estrela:

"Quanto ao processo, ele está no Tribunal de Sintra. Conhecemo-lo por alto porque não fazemos parte dele. São dívidas avultadíssimas que existem por pagar a uma série de credores, mas que fazem parte de um processo de insolvência do Clube de Futebol Estrela da Amadora e que nada têm a ver com o atual clube. Nós somos uma associação diferente nesse aspeto. Nós temos as nossas contas para pagar e, felizmente, está tudo em dia. Foi um processo que nos entristeceu bastante e que nos entristece que ainda se mantenha. Agora a realidade é outra completamente diferente e aqui o ar é respirável."

A ideia é suportar a equipa sénior através das camadas jovens, muito à semelhança do que acontece com outros clubes europeus, como o Atlético de Bilbao, até porque o antigo Estrela da Amadora sempre foi um viveiro de grandes jogadores. Paulo Bento, Abel Xavier, Miguel, Jorge Andrade ou Calado foram jogadores que despontaram na Reboleira e depois saíram para FC Porto, Sporting ou Benfica, alguns tornando-se internacionais.

"O Estrela da Amadora sempre deu grandes atletas e não foi só no futebol. Se nos lembramos do ténis de mesa, temos o Tiago Apolónia que é actualmente um dos melhores jogadores. É internacional português e já deu muitas conquistas a Portugal. No futebol, este clube deu muitos jogadores. A Amadora é um viveiro de grandes atletas. Se começar a desfiar o rol de atletas que o clube deu e que são internacionais nunca mais acabava. Jorge Andrade, Abel Xavier, treinadores como o Jorge Jesus, o Mourinho que foi treinador-adjunto do Manuel Fernandes, o João Alves que é para nós o treinador que nos trouxe aquela que é a maior conquista da história do Estrela da Amadora que foi a Taça de Portugal", recorda Rui Silva, antes de projetar o futuro com recurso às camadas jovens.

"A cidade da Amadora é um viveiro de atletas e nós sentimos isso porque estamos numa cidade muito populosa, uma das mais populosas do país. Muitos dos atletas que temos aqui são de diversos estratos sociais. Há aqui muito atleta de muito boa qualidade que serve não só o nosso clube, como também outros clubes do concelho da Amadora. E grandes clubes do distrito de Lisboa", atirou.

Treinos das camadas jovens no estádio José Gomes
Treinos das camadas jovens no estádio José Gomes Treinos das camadas jovens no estádio José Gomes créditos: SAPO Desporto

Todos os escalões de futebol treinam no relvado do estádio José Gomes, apesar da infraestrutura não pertencer ao clube. Mas nem sempre foi assim. Quando começou, o Clube de Futebol Estrela estava bem longe daquela que é agora a sua ‘casa’.

"O Estrela da Amadora sempre deu grandes atletas e não foi só no futebol"

"O primeiro obstáculo que encontrámos foi campo para treinar e para ter a nossa primeira equipa que foi a de benjamins. Foi num campo sintético em Alfragide que começámos. Só viemos para o Estádio José Gomes em 2015. Quando viemos para aqui foi através de um acordo que conseguimos com o administrador de insolvência. Nessa altura finalmente conseguimos abrir o leque de oportunidades para termos mais atletas. Ficámos mais próximos da cidade e depois estamos na ‘nossa casa’ porque a casa do Estrela é esta. O Estrela não é proprietário deste espaço, mas esta é a nossa casa nesse sentido porque é isto que nos identifica com o Estrela da Amadora", diz, com entusiasmo, reconhecendo que ele próprio ‘despe’ a profissão de advogado para limpar o estádio quando é preciso.

"É muito difícil imaginar o que iria acontecer se não estivéssemos aqui. Como acontece em qualquer espaço devoluto é tomado pelo abandono. Nem quero imaginar o que aconteceria se não estivéssemos aqui. E quando falo em nós sou eu e outros elementos dos órgãos sociais, assim como alguns voluntários. Quando é preciso sai a camisa e entra uma t-shirt velha e vamos para a bancada limpar mato se for necessário. Vamos limpar balneários se for necessário. E também no meu caso como também em outros somos atletas com orgulho e prazer. Uma das coisas que mais gozo me dá é vestir a camisola tricolor e correr com ela", afirma, sublinhando que, para já, o clube não tem possibilidade para comprar o estádio José Gomes.

Estádio José Gomes, na Reboleira
Estádio José Gomes, na Reboleira Estádio José Gomes, na Reboleira créditos: Facebook Clube Desportivo Estrela

"Nós não temos condições para adquirir o Estádio José Gomes. Por agora não temos essas condições, mas não quer dizer que no futuro não possa surgir essa hipótese. Se tivéssemos esse parceiro já tínhamos adquirido o estádio. O Estrela identifica-se com este estádio como é lógico. O nome deste estádio é José Gomes porque ele foi o presidente mais simbólico e importante que este clube já teve. O estádio acaba por ser um símbolo do Estrela, mas o Estrela, e qualquer outro clube, é mais do que isso porque o clube é feito pelos sócios, pelas pessoas que trabalham nele, pelos seus atletas. É isso que faz um clube. Seja dentro deste estádio ou fora, seja no pavilhão, no ténis de mesa ou na estrada a correr o Estrela está lá", diz Rui Silva, assumindo ainda que a entrada de um investidor não está posta de parte:

“O clube tem uns estatutos modernos, inspirados nos anteriores estatutos do Clube de Futebol Estrela da Amadora. Para já não temos SAD, mas não quer dizer que não estejamos interessados nisso. Basta que haja um investidor que esteja interessado em ser nosso parceiro. Atualmente temos um parceiro internacional para o futebol sénior que é a Valeo (uma academia de futebol norte-americana). O parceiro é para o futebol sénior, mas se viermos um dia a ter alguém que queira ser parceiro nosso estaremos abertos a isso.”

"Por agora, nós não temos condições para adquirir o Estádio José Gomes"

Para dar a cara por este projeto do futebol sénior foi escolhido Ricardo Monsanto, treinador já com experiência nesta divisão uma vez que foi campeão da 1.ª Divisão da AF Lisboa pelo Torreense B em 2006-07. O técnico sublinhou, em entrevista ao SAPO Desporto, que não lhe foram impostos quaisquer objetivos pela Direção liderada por Rui Silva, mas deixou escapar que gostaria de subir de divisão já esta temporada.

“Eu já treinei esta divisão em 2006/2007 com uma equipa B do Torreense. Na altura até fomos campeões distritais. Foi uma época que correu muito bem tanto na série como depois na disputa do título. Fomos campeões, portanto eu conheço a divisão. Entretanto a minha carreira foi progredindo […] e já não me via a treinar nestas divisões. Acontece que o Estrela da Amadora é o Estrela da Amadora e tendo em conta todo o histórico do clube, todos os treinadores que passaram pelo Estrela antes de mim, todos os jogadores internacionais que passaram pelo Estrela, tudo aquilo que eu vi o Estrela fazer durante a minha adolescência e já em fase adulta também me levou a dizer que tinha que aceitar o Estrela”, revelou Ricardo Monsanto.

“Para esta época só me pediram para fazer uma equipa sénior que honrasse a camisola do Estrela da Amadora. É o ano zero, não é o ano em que estamos a pensar que temos que subir já ou que temos que fazer “x” pontos ou que temos de fazer “x” vitórias. Pediram-me ‘Ricardo, forma uma equipa que orgulhe a camisola que tem vestida’”, acrescentou.

“O que eu gostava era se pudesse subir no primeiro ano era subir logo, mas nós temos de fazer uma avaliação até ao final da primeira volta que vai acabar no mês de janeiro. Temos de fazer até esse mês uma avaliação do que temos e do que não temos, e depois se conseguirmos fazer alguns reajustes no plantel suficientes ou não para atacarmos a segunda volta e subirmos de divisão. Qualquer treinador se puder subir não vai deixar de o fazer”, assumiu Ricardo Monsanto, não sem antes revelar que viu mais de 400 jogadores em captações antes de escolher um plantel formado por apenas 26.

“Eu já vi um dos nossos adversários nesta divisão a dizer que o objetivo era subir em cinco anos cinco divisões. O nosso objetivo não é esse, em termos orçamentais não temos essa condição, fizemos uma equipa baseada em captações. Tivemos aqui mais de 400 jogadores em captação para escolhermos 26. Alguns tinham alguma qualidade e, por isso, foram escolhidos e muitos tinham muito pouca qualidade e, por isso, não foram escolhidos. Também posso ter cometido aqui alguma injustiça, é normal, mas relembro que o Deco esteve a treinar com o plantel do Benfica à experiência mais de um mês e não ficou. As injustiças podem acontecer e só no futuro é que vamos ver”, atirou.

Alguns jogadores que já tinham sido identificados foram convidados pela equipa técnica e integraram a equipa principal. Um deles é Paulo Varela.

“O que me motivou foi a grandeza do clube. Por mais que esteja na última divisão basta vir-se aqui aos domingos, nos jogos em casa, para perceber que isso não se vê em mais lado nenhum, tirando se calhar o Belenenses que também está na mesma divisão. De resto, acho que neste clube ninguém sente que joga na última divisão quando se joga cá em casa. Mesmo quando se joga fora os adeptos vão sempre em massa”, conta o jovem de 24 anos que é irmão de Nani, jogador que representa o Sporting.

“Acho que dentro do amadorismo temos sempre que ser profissionais. Tenho esse exemplo em casa, tenho o meu irmão que passa-me sempre esse pensamento de treinar sempre porque nunca é demais treinar. O descanso é muito importante, mas temos o sábado. Temos o sábado, que é a véspera de jogo, para descansar e durante a semana temos de dar carga física para no domingo estarmos minimamente bem, dentro da nossa realidade, para fazer bons jogos e conseguir os resultados”, acrescentou.

Se por um lado há quem já conte com alguns anos de experiência ao mais alto nível, ainda que em divisões inferiores, por outro também há quem com esta mudança para o Clube de Futebol Estrela tenha tido a primeira experiência num relvado natural.

“Estou a cumprir um sonho, nunca treinei num relvado. Sempre treinei em sintéticos. Acho que sou o único que veio de clubes de distritais mesmo. Vim do Talaíde, comecei lá muito novo. Relativamente aos treinos é muito complicado. Treinamos em relvado e depois em sintético. É bom para nos adaptarmos aos campos sintéticos (a maioria dos adversários tem relvados sintéticos), o mister pensa sempre muito bem. Os pensamentos do mister são sempre a pensar em nós em primeiro lugar”, diz Bernardo Vunge.

Equipa do Clube de Futebol Estrela
Equipa do Clube de Futebol Estrela Equipa do Clube de Futebol Estrela créditos: Facebook Clube Desportivo Estrela

A equipa treina três vezes por semana – terça, quarta e sexta-feira – duas vezes no relvado natural do estádio José Gomes e uma no sintético do Complexo Desportivo do Monte da Galega, na Amadora. Uma mais-valia que, segundo os jogadores, dá uma vantagem quando jogam em casa.

“O facto de jogar num relvado para nós é uma mais-valia sempre que jogamos em casa. Tanto nós, como no caso do Belenenses, somos os únicos clubes que temos relvado natural. É uma mais-valia porque os jogadores que vêm cá jogar não estão habituados, cansam-se muito mais depressa, a circulação de bola é completamente diferente. Quando jogamos fora também fazemos questão de fazer treinos em sintético, principalmente à sexta-feira, para nos ambientarmos mais ao tipo de terreno e acaba por facilitar um bocadinho o facto de ir jogar fora em campos sintéticos”, afirma o guarda-redes Bruno Velez, reconhecendo que o facto de terem havido muitas captações pode ter deixado a equipa “em desvantagem em relação a todos os outros clubes.”

Regresso do futebol sénior trouxe mais sócios e adeptos às bancadas

O regresso do futebol sénior, anunciado em agosto através das redes sociais, teve impacto já esperado pela direção do Clube de Futebol Estrela. Ainda assim, o apoio dos adeptos, do povo da Amadora e dos amantes do futebol, superou quaisquer expectativas.

Bancadas preenchidas no jogo contra o Belas
Bancadas preenchidas no jogo contra o Belas Bancadas preenchidas no jogo contra o Belas créditos: Facebook Clube Desportivo Estrela

“Quando anunciámos os seniores em agosto o crescimento de adeptos foi enorme. Antes de anunciarmos os seniores, nós tínhamos cerca de 1200 sócios que na sua maioria são pessoas que gostam do Estrela, e depois atletas e pais de atletas. Desde que anunciámos os seniores em agosto já fizemos cerca de 300 novos sócios. O anúncio dos seniores trouxe muito mais gente ao Estrela e muitas pessoas se calhar nem sabiam que estávamos com este projeto já desde 2011. Sentimos que todas as pessoas são bem-vindas. O que gostamos de ver é estas bancadas cheias de adeptos e de preferência do Estrela”, referiu Rui Silva, antes de acrescentar:

“Quem esteve aqui e viu o jogo de seniores com uma bancada cheia de gente ficava surpreendido (consta que estiveram mais de mil adeptos). Até a mim me surpreendeu. Mas o que eu mais gostei de ver não foi só a quantidade de pessoas, foi a alegria que se vivia na bancada porque não era isso que se vivia aqui quando o Estrela estava a terminar. Era muito pouca gente, um ambiente pesado, de tristeza. Nesse jogo as pessoas estavam alegres, sorriam, havia até quem chorasse. Eu fiquei com os pêlos arrepiados porque é ver algo nascer com saúde e que representa a cidade da Amadora. A população da Amadora estava sedenta disto. Este é um espírito que acho que se vai prolongar no tempo. E nós estamos cá para isso.”

Da parte do treinador, Ricardo Monsanto, o feedback também é positivo. “Ainda este fim de semana (jogo com o Belas) tivemos aqui 2500 adeptos. Isto não é um jogo de distrital, não acontece em distrital nenhuma.”

As gentes da Amadora têm respondido em massa no que toca ao apoio a esta nova equipa, seja nos jogos em casa seja fora. Os encontros no estádio José Gomes têm registado audiências superiores a 1000 espectadores e muitas vezes os bilhetes disponibilizados para os jogos esgotam.

“O maior orgulho agora é esta direção que tomou conta do clube. Já aumentámos cerca de 300/400 miúdos e agora apareceu o futebol sénior. Isto é uma carolice porque isto estava parado há alguns anos e agora começou a dar. Isto é muito bom aqui para a zona. Neste jogo que houve fez domingo oito dias (contra a Associação da Torre) e que ganharam 2-0 o estádio estava completamente cheio. Deu na televisão e tudo. O clube movimenta muita coisa, e é muito bom para os cafés. Os adeptos agora fazem uma grande festa no estádio. É um espetáculo. Houve um jogo até em que acabaram os bilhetes”, diz o adepto José Duarte.

“Só começamos a ter futebol sénior esta época, mas a nível das camadas jovens sentíamos uma agitação diferente quando havia aqui jogos das camadas jovens. Com o aparecimento do futebol sénior a afluência das pessoas ficou cinquenta vezes superior. Houve um jogo em que tivemos mais público do que o antigo Estrela em jogos da I Liga. Vamos ver se conseguimos manter. A fasquia está elevada, mas depende dos resultados. Se a equipa for mostrando bons resultados, os sócios vão aparecer cada vez mais”, afirma, com alegria, Vítor Sousa, outro adepto do CD Estrela.

“O regresso do futebol sénior é um passo gigante para o clube. O Estrela tem sete anos, tem poucas possibilidades financeiras. Está num estádio que é alugado e a qualquer momento, por via da insolvência do Estrela, pode sair se o espaço for vendido. Foi um passo difícil de dar, mas ao mesmo tempo era preciso ser dado se não o clube estagnava e não andava para a frente. Foi com muita alegria que vi o regresso do futebol sénior, a cidade está a reagir positivamente e vamos ver se as coisas evoluem. Era importante subir já esta época, mas a equipa também foi feita um bocado à última da hora. Se não subirmos estamos cá para a luta”, acrescentou.

“Sinto-me triste por ver o clube nas condições em que está. Agora está a renascer e espero que se torne num clube sério. O regresso do futebol sénior é bom porque fez renascer a cidade e o clube também”, projeta José André.

“A cidade da Amadora perdeu muito com o fim do clube. A cidade tinha autênticas procissões de pessoas quando havia jogos do Estrela. Agora com o novo clube penso que as coisas vão andar para a frente porque tenho visto que há um esforço muito grande no sentido de renascer em força o Estrela da Amadora”, atira, orgulhoso, o adepto conhecido como Comendador Costa Cabral.

Clássico na Reboleira em Dia de Reis

Existe, de resto, uma curiosidade a envolver o regresso do Estrela: o clube da Reboleira inicia o seu percurso na Série 2 da 1.ª Divisão Distrital da Associação de Futebol de Lisboa, a mesma em que se encontra o Belenenses. A equipa do clube, claro está, pois a da SAD disputa a I Liga, com os seus jogos em casa a serem disputados no estádio do Jamor.

"Acredito que dá um gosto também pela parte do Belenenses porque existe uma rivalidade saudável entre os dois clubes."

Os dois históricos do futebol português têm o primeiro confronto marcado para o dia 6 de janeiro, na Reboleira. “Acho que certamente dá um gosto especial à Associação de Futebol de Lisboa, porque é um caso inédito no país, ter dois clubes históricos a disputar a última divisão da distrital, o Estrela e o Belenenses, e ainda mais ter esses dois clubes históricos que muitas vezes se encontraram na I Liga. A situação do Belenenses é diferente, mas a do Estrela também o é. As razões do Estrela e do Belenenses estarem aqui são diferentes, mas que nos levaram a estar nesta competição. Acredito que dá um gosto também pela parte do Belenenses porque existe uma rivalidade saudável entre os dois clubes. Poder estar a disputar a distrital com o Belenenses também, e ainda por cima estamos na mesma série porque vão haver dois jogos aqui e no Restelo, dá-nos um gosto especial”, atira Rui Silva.

“Não sendo um jogo da I Liga, eu acho que toda a gente vai sentir que se parece como se fosse um jogo da I Liga. No jogo que tivemos contra a Torre tínhamos mais gente a assistir do que teve o Estrela quando tinha os seniores no tempo do antigo clube. E acredito que se calhar não há jogos da I Liga que tenham tanta gente como tivemos aqui. Quando acontecer o jogo Estrela-Belenenses vamos ter, não diria casa cheia, mas muita gente do estádio. E provavelmente acontecerá a mesma coisa no Restelo”, acrescenta.