O ano de 2024 trouxe muitas novidades ao panorama desportivo mundial, tendo marcado o fim de uma era e o nascer de uma revolução no Futebol Clube do Porto.
Jorge Nuno Pinto da Costa liderou os destinos do emblema azul e branco durante 42 anos e deu lugar a André Villas-Boas, pondo fim a um longo reinado que parecia impossível de terminar. Além dessa grande mudança, também Sérgio Conceição abandonou o clube, depois de sete anos à frente da equipa principal e de muita cumplicidade com os adeptos portistas.
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O fim da era Pinto da Costa
Antes destas eleições, realizadas em 28 de abril, nunca Pinto da Costa tinha tido uma oposição à altura, que realmente fizesse duvidar sobre quem seria o homem certo para o cargo. A situação foi-se alterando ao longo deste último mandato, uma vez que tanto o panorama financeiro como desportivo estava em claro declínio, o que abriu portas à entrada de André Villas-Boas.
Se no início parecia impossível o presidente dos últimos 42 anos ser deposto, o cenário foi ganhando força após decisões que colocaram em causa a saúde financeira do clube e a crescente falta de competitividade com os rivais (Benfica e Sporting) seja na captação de talentos como no nível exibicional apresentado pela equipa de futebol. Além disso, a perda da força nas modalidades também foi agravando o caso.
Começaram a formar-se grupos contestatários da Direção vigente à altura e o que parecia um cenário impossível começou a parecer plausível.
Seguiu-se o período de campanha, onde a Direção liderada por Pinto da Costa deu vários "tiros nos pés" e foi dando força às listas rivais de André Villas-Boas e Nuno Lobo, embora a primeira parecesse claramente muito mais opção do que a segunda.
A sinceridade do atual presidente relativamente à grave situação financeira do FC Porto foi um choque para muitos portistas, que sabiam das dificuldades mas não faziam ideia de quão grave a mesma era. O facto de Villas-Boas apresentar uma série de ideias revolucionárias como a criação de uma equipa de futebol feminina e a implementação do futsal no clube também ajudaram a conquistar os sócios.
Pinto da Costa, outrora um excelente comunicador capaz de agregar o auditório com uma sagacidade muito particular, também já não demonstrava essa capacidade, que em tempos ajudou a aguentar a confiança dos sócios nos momentos mais difíceis.
E, se no início da campanha Pinto da Costa surgia como um vencedor quase certo, à medida que as semanas iam passando, a dúvida ficava cada vez maior. Nas sondagens iniciais o cenário dividia os sócios 90%/10% a favor de Pinto da Costa, mas a campanha foi agregando pessoas à candidatura de Villas-Boas, que iam percebendo que se calhar a mudança não era assim tão impossível.
O presidente mais titulado do Mundo só pedia mais um mandato antes do fim (que mais tarde viríamos a saber que também estava relacionado com a doença que sofre), mas os portistas não quiseram oferecer essa dádiva a Pinto da Costa.
Até que chegou o dia 28 de abril, que fez história no FC Porto. Num resultado unânime nas 44 mesas de voto, André Villas-Boas tornou-se o novo presidente do clube e da SAD portista, somando uns impressionantes 1.489 votos (ou seja, 80,3 por cento), superando por larga margem a lista encabeçada por Pinto da Costa, que teve 5.224 votos (19,5 por cento).
Embora este cenário não tenha caído bem em muitos adeptos, que faziam sentir a contestação nos primeiros dias após a decisão eleitoral, os sócios foram soberanos e não deixaram margem para dúvidas. Estava na altura de uma nova liderança, que através da modernidade dos 47 anos do atual presidente, pudesse contrastar com os 86 anos do antigo líder azul e branco.
Os primeiros meses foram duros, muito por causa da mudança de treinador (que será abordada mais à frente) e da situação financeira que impôs muitos cortes no clube, mas com o passar do tempo, Villas-Boas foi conquistando a paciência dos adeptos. Agora, embora não estejam totalmente confiantes em Vítor Bruno, parecem estar a dar o benefício da dúvida e, paulatinamente, mais crentes de que poderá levar a equipa a bom porto.
Assim, Jorge Nuno Pinto da Costa deixou o FC Porto com mais de 1300 títulos em todas as vertentes que o clube integra, sendo que 58 foram no futebol sénior:
2 Taças Intercontinentais (1987, 2004);
2 Liga dos Campeões (2004) / Taça dos Campeões Europeus (1987):
2 Taça UEFA (2003) / Liga Europa (2011);
1 Supertaça Europeia (1987);
23 Campeonatos de Portugal / I Liga (1985, 1986, 1988, 1990, 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2011, 2012, 2013, 2018, 2020 e 2022);
15 Taças de Portugal (1984, 1988, 1991, 1994, 1998, 2000, 2001, 2003, 2006, 2009, 2010, 2011, 2020, 2022 e 2023);
22 Supertaças (1983, 1984, 1986, 1990, 1991, 1993, 1994, 1996, 1998, 1999, 2001, 2003, 2004, 2006, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2018 e 2020 e 2022);
1 Taça da Liga (2023).
Sérgio Conceição e Pepe abandonaram o barco com Pinto da Costa
Com a saída de Pinto da Costa houve outras rodas da engrenagem a sair. Mesmo que tenham renovado contrato com o FC Porto perto do dia das eleições, numa manobra de cativar adeptos que estivessem na dúvida e fossem seduzidos por estas duas figuras emblemáticas do clube, não foi suficiente para ficarem.
Pepe, como já revelou, até estava disposto a ficar mais uma temporada, mas acabou por terminar a carreira já este ano.
Quanto a Sérgio Conceição, o treinador que foi o líder da equipa de futebol nas últimas sete temporadas, saiu visivelmente desgastado com a situação do clube.
O técnico fez muito com pouco e conseguiu vários títulos com orçamentos bastante inferiores ao dos rivais e com jogadores que para muitos "treinadores de bancada" não eram suficientemente bons para honrar os pergaminhos do clube.
Ainda assim, Conceição nunca virou a cara à luta e foi sempre conseguindo ser competitivo, sendo que quando não dava na qualidade, a chamada "raça" e a alma da equipa transcendiam os jogadores para um plano que muitas vezes roçou a excelência.
Além de sete temporadas de valorização de ativos, o antigo treinador dos dragões conquistou três Ligas Portuguesas, quatro Taças de Portugal, três Supertaças e uma Taça da Liga, além das campanhas na Liga dos Campeões onde o FC Porto se bateu com algumas das melhores equipas do Mundo.
Sendo claramente um favorito dos fãs, mostrou-se um eterno inconformado, que nunca deixava nada por dizer. Essa vertente mais combativa trouxe-lhe tantos admiradores como adversários, mas Sérgio Conceição soube sempre navegar nesse mar atribulado com categoria.
No final, quebrou-se a relação com um dos melhores treinadores da História do clube, mas o seu legado ficará para sempre marcado através das conquistas e das memórias que foram sendo criadas em sete longas temporadas de muito futebol.
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