Rui Pinto, criador da plataforma eletrónica Football Leaks, que começa a ser julgado na sexta-feira, classificou hoje o Benfica como “um polvo de influência” e afirmou que os responsáveis do clube “pensam que dominam o país”.
“Este clube é como um polvo de influência. Há um pormenor muito importante sobre o qual quero que o público pense. Ao mesmo tempo que as autoridades portuguesas enviavam um pedido às autoridades húngaras para alargar o meu mandado de detenção europeu, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria recebeu dois bilhetes VIP para jogos do Benfica e teve encontros no estádio do Benfica. Isto é o Benfica”, disse Rui Pinto, em entrevista à revista alemã Der Spiegel, publicada pelo hoje pelo Expresso.
Rui Pinto afirma que “depois da publicação de e-mails do Benfica, todos começaram a perceber que o modus operandi dos seus dirigentes era alargar a influência, muitas vezes por cortesia, para alcançar os seus objetivos” e entende que o clube “foi uma das partes mais interessadas no alargamento do mandado de detenção europeu”.
O criador do Footbal Leaks, plataforma através da qual divulgou milhares de documentos confidenciais do mundo do futebol e alegados esquemas de evasão fiscal cometidos em diversos países, garante que não se considera um ‘hacker’ e defende o papel do 'whistleblower' (denunciante).
“Alguém que procura, recebe e analisa informação relativa a crimes relevantes como corrupção e fraude fiscal e decide partilhá-la com media internacionais ou diretamente com as autoridades deve ser considerado um whistleblower. Tomemos os Panama Papers como exemplo. Hoje, a maior parte das pessoas já se esqueceu de que foi um ato de ‘hacking’ (pirataria informática)”, afirma.
Rui Pinto, que está em liberdade e, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial, admite sentir-se “um pouco triste porque o Football Leaks não atingiu tudo o que esperava no início”.
“Para os denunciantes, o mundo do futebol não é o sítio mais fácil para entrar. Creio que o Football Leaks foi uma das mais perigosas fugas de informação. Os denunciantes do futebol correm muito mais perigo do que os de outros negócios, como os dos Panama Papers ou dos LuxLeaks”, disse.
Também responsável pelo processo Luanda Leaks, Rui Pinto considera que as denuncias que envolvem Isabel dos Santos mudaram a sua imagem perante a opinião pública.
“Houve uma mudança na imprensa relativamente a mim: alguns jornalistas que me chamavam sempre pirata ou hacker ou espião informático agora chamam-me whistleblower. Antes, todos tratavam o Football Leaks como uma guerra tonta entre clubes de futebol. Mas, quando apareceu o Luanda Leaks, todos perceberam que havia muito mais que isso. Até os procuradores acabaram por perceber que isto era maior do que o que esperavam. Este projeto acabou por me ajudar a finalmente sair da prisão”, refere.
Rui Pinto, um autodidata ao nível dos conhecimentos de informática, começa a ser julgado na sexta-feira por 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 crimes de violação de correspondência, seis crimes de acesso ilegítimo, sabotagem informática à SAD do Sporting e extorsão, na forma tentada, este último, crime pelo qual o advogado Aníbal Pinto também foi pronunciado.
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