A "batalha campal" de Belgrado foi a última prova de que, contra o desejo de muitos, política e desporto continuam a ser indissociáveis. O episódio do drone munido de uma bandeira representativa de uma "Grande Albânia", que reivindica territórios kosovares, sérvios, montenegrinos, macedónios e até gregos, levou a um motim em pleno relvado e trouxe à memória outros momentos em que a política se intrometeu no desporto.
Durante os Jogos Olímpicos de 1956, em Melbourne, uma partida de pólo aquático entre a União Soviética e a Hungria acabou conhecida como o jogo do "Sangue na Água". Tinham-se passado meras semanas desde os eventos da Revolução Húngara, que levaram à morte de mais de 2,500 soldados húngaros e cerca de 700 soviéticos, e todo o jogo estava envolto em tensão política. Os ânimos acenderam-se na água e um jogador húngaro abandonou a piscina a sangrar copiosamente da cara. Não fosse a intervenção da polícia e teria havido um motim em pleno jogo. Os eventos inspiraram até um documentário, "Freedom's Fury".
Tommie Smith e John Carlos, dois atletas negros norte-americanos, protagonizaram um momento de protesto contra o racismo durante os Jogos Olímpicos do México, em 1968. Smith e Carlos tinham acabado de conquistar o primeiro e terceiro lugares, respetivamente, na final dos 200 metros, e tiveram a "ousadia" de erguer os braços durante o hino dos Estados Unidos da América em apoio ao movimento do "Black Power" (poder negro). Na altura, o gesto foi duramente criticado pelo Comité Olímpico Norte-Americano mas defendido pela comunidade negra.
Um ano depois, uma série de manifestações contra o "apartheid" marcou a visita da equipa de râguebi da África do Sul a Londres. Num dos episódios mais conhecidos, o autocarro da formação sul-africana, composta inteiramente por jogadores brancos, foi sequestrado por um manifestante. Um dos jogadores conseguiu agarrar o condutor pelo pescoço e o veículo embateu numa série de carros estacionados. Em outros jogos da digressão em Inglaterra houve invasões de campo e jogos disputados em recintos rodeados por arame farpado.
O "massacre de Munique", durante os Jogos Olímpicos de 1972, é talvez o mais mediático de todos os eventos do género no mundo do desporto. O atentado da organização palestiniana Setembro Negro resultou na morte de onze membros da comitiva israelitas (cinco atletas e seis membros do corpo técnico). Um oficial da polícia alemã e cinco membros da Setembro Negro também morreram nos eventos, que deram origem a um filme realizado por Steven Spielberg em 2005.
Em 1980, 62 países boicotaram os Jogos Olímpicos de Moscovo, incitados pelo presidente norte-americano Jimmy Carter. Na origem do protesto estava a entrada das forças soviéticas no Afeganistão, em 1979, que originou uma guerra que durou nove anos. Apenas 80 países participaram nos Jogos de 1980. Quatro anos depois, 14 países do bloco soviético recusaram-se a participar nos Jogos de Los Angeles.
Em 2004, Carlos Delgado, jogador porto-riquenho de basebol, recusou-se a levantar-se durante o "God Bless America", uma canção patriótica norte-americana. O conhecido pacifista fê-lo em protesto contra a utilização da ilha de Vieques, em Porto Rico, como zona de teste de bombardeamentos por parte do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Delgado opunha-se ainda às intervenções norte-americanas no Afeganistão e no Iraque.
Ao longo de toda a sua carreira como futebolista, Paolo di Canio ficou conhecido pelo apoio demonstrado a ideologias fascistas. O antigo jogador italiano, que passou por Juventus, Milan e Lazio, fez por diversas ocasiões a saudação fascista associada ao regime de Mussolini durante partidas, em particular em jogos contra o Livorno, clube conotado com a política de esquerda. Na sua auto-biografia, di Canio descreveu Benito Mussolini como um "indivíduo de princípios" que era "mal compreendido". A afiliação política do antigo avançado continua a ser contestada até hoje.
A 3 de março de 2009, homens armados dispararam sobre um autocarro da equipa de críquete do Sri Lanka, que se deslocava para o Estádio Kadhafi em Lahore, Paquistão. Seis membros da equipa ficaram feridos, enquanto seis oficiais da polícia paquistanesa e dois civis perderam a vida. A culpa do atentado recaiu sobre militantes do Lashkar-e-Jhangvi, grupo que até hoje se envolve frequentemente em atentados contra muçulmanos xiitas.
Menos violento foi o protesto dos Phoenix Suns, em 2010, contra a lei de imigração do estado norte-americano do Arizona. O ato legislativo que foi apresentado pelo Senado do Arizona como "Safe Neighborhood Act" ("Ato para um Bairro Seguro") gerou controvérsia e os Phoenix Suns tiveram uma palavra a dizer. A equipa norte-americana envergou camisolas com as palavras "Los Suns" como forma de homenagear os seus adeptos das comunidades latinas.
Já no atual ano, o Campeonato do Mundo de futebol, realizado no Brasil, motivou inúmeros protestos da população brasileira contra a realização do evento. As manifestações contra a realização da prova foram particularmente frequentes nos meses que a precederam e resultaram em dezenas de feridos nas principais cidades brasileiras, em confrontos entre a população e a polícia. Romário, antigo jogador e atual senador do estado do Rio de Janeiro, apelidou o evento de "maior roubo da história" e alegou que os gastos públicos terão atingido os 36 mil milhões de euros.
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