Gilberto Madail, líder federativo durante cerca de 15 anos, reconheceu em entrevista à agência Lusa que a derrota de Portugal com a Grécia na final do Europeu de futebol de 2004 foi o seu “pior momento”.

“Foi o momento pior que eu tive, aquela derrota na final no Estádio da Luz”, afirmou Madail, acrescentando: “Até as pessoas da UEFA que estavam cá a trabalhar, pois tínhamos uma sociedade em parceria com a UEFA para organizar o Euro2004, choraram por Portugal não ter ganhado o Campeonato da Europa”.

Depois de quase um mês em festa, Portugal caiu na final com a Grécia, por 1-0, em 04 de julho de 2004, na Luz, fechando o Europeu da mesma forma que o tinha iniciado, em 12 de junho, no Dragão, então com um desaire por 2-1 com os helénicos.

“[Faço agora] O balanço que fiz na altura, que foi um momento de grande alegria e, ao mesmo tempo, de frustração, porque faltou-nos, de facto, conquistar a taça de campeões da Europa. Mas, de grande alegria por tudo aquilo que o futebol foi capaz de proporcionar aos portugueses, uma alegria imensa”, frisou.

Madail recorda que muitos foram os que gostariam de repetir a experiência.

“Tive muitas pessoas que me abordaram mais tarde na rua, que me perguntavam quando é que nós organizávamos outro Euro2004. Pessoas idosas, que viveram intensamente e com alegria o Euro2004”, lembrou o ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), entre 1996 e 2011.

O clima de festa ficou também interligado à contratação do treinador brasileiro Luiz Felipe Scolari, que chegou para suceder a António Oliveira, depois de levar o Brasil ao penta no Mundial de 2002, prova em que Portugal se ficou pela fase de grupos.

"Foi difícil. Antes disso, tivemos outras opções, mas era importante ter alguém como o Scolari para um evento com a importância do Campeonato da Europa. O Scolari foi uma referência, que nos ajudou a que as coisas corressem bem no Campeonato da Europa”, lembrou Madail.

O ex-dirigente luso recorda um selecionador que se adaptou muito bem ao país e “teve um papel muito importante, naquilo que incutiu aos jogadores, a alegria, o orgulho em Portugal”.

No Euro2004, Portugal, que chegou pela primeira vez à final de uma grande competição, depois da ‘queda’ nas meias-finais do Mundial de 1966 e dos Europeus de 1984 e 2000, acabou por falhar o título, mas a prova deixou mais do que isso.

“[O Euro2004] Trouxe estádios, há quem diga que em demasia, nomeadamente este [o Municipal de Aveiro], mas é preciso ver que, na altura, a Espanha apresentava uma candidatura com 16 estádios, a candidatura austro-húngara apresentava 12 estádios e nós apresentámos 10”, afirmou.

Madail recorda que “os estádios estão aí, uns mais utilizados, outros menos utilizados”, e que “três deles, o Estádio da Luz, o Estádio de Alvalade e o Estádio Dragão, vão servir de base, de referência para” o Mundial de 2030.

“Portanto, deixou ficar sementes. Além disso, trouxe inovações, a questão dos stewards foi introduzida com o Euro2004, isso não existia em Portugal. E todo um conjunto de inovações que advieram da realização do torneio”, precisou.

O líder federativo evocou outras “boas recordações”, nomeadamente o “logótipo humano, uma coisa também inédita, que surpreendeu a UEFA e demonstrou a vontade, não só da federação, mas do povo, dos portugueses em ter o Euro2004”.

Vinte e seis anos depois do Euro2004, Portugal vai acolher o Mundial2030, mas apenas em Lisboa (Luz e Alvalade) e no Porto (Dragão), e numa organização conjunta com Espanha e Marrocos, e que também terá jogos na Argentina, Paraguai e Uruguai.

“Gostava [que fosse como o Euro2004], mas tenho algumas dúvidas, porque não há envolvência, não há o carinho, não há a afetividade que houve com o Euro2004. O Mundial são quatro ou cinco jogos cá, em Marrocos, no Uruguai, na Argentina, é uma coisa híbrida, que não é português apenas, é diferente”, concluiu.