Os escalões do futebol feminino estão desenhados à luz do modelo masculino e devem ser reformulados, nomeadamente antecipando a entrada nos seniores, concluiu uma tese de doutoramento da Universidade de Coimbra.
A tese, intitulada “Crescimento e maturação em atletas e não-atletas femininas”, foi realizada por Diogo Martinho, entre a Faculdade de Ciência do Desporto da Universidade de Coimbra e a Universidade de Loughborough (Inglaterra).
O estudo é focado no contexto do futebol, modalidade em que, para além da “deficitária taxa de participação” de mulheres, os clubes “reservam somente dois escalões de participação, juniores e seniores”, para estas atletas, disse à agência Lusa o investigador.
Para a tese, foram realizados dois estudos (um com uma amostra de mais de 400 atletas), no qual que foi possível, através dos dados de idade óssea, recomendar que a formação das jogadoras possa acontecer numa idade mais precoce do que acontece no setor masculino.
Todas as atletas analisadas, com 17 anos, já eram classificadas “como esqueleticamente adultas”, e, mesmo aos 16 anos, a maioria poderia subir “sem reservas” ao nível competitivo mais exigente, disse à agência Lusa o investigador.
Face a essa diferença entre homens e mulheres, Diogo Martinho considerou que os escalões e idades associadas aos mesmos para o futebol feminino não deveriam estar vinculados, por defeito, ao modelo do futebolista masculino.
Nesse sentido, propõe a subida ao escalão sénior no futebol feminino aos 17 anos.
Para além da necessidade de redução da idade dos escalões seniores para o futebol feminino, o investigador defendeu também a criação de escalões específicos em idades mais baixas.
Diogo Martinho explicou que, atualmente, as jovens têm de optar entre treinarem juntamente com os rapazes nos escalões de infantis, iniciados e juvenis, ou solicitar a subida de escalão para competirem apenas no futebol feminino.
O investigador notou que vários estudos apoiam a possibilidade de participação mista no escalão de infantis (idades em que as meninas até são mais altas e pesadas que os rapazes), mas defendeu que deveria haver uma diferenciação “logo a partir dos iniciados”.
Diogo Martinho recordou que a adolescente tem um impulso de crescimento aos 12 anos, enquanto os rapazes só por volta dos 14 anos.
“Acresce que as transformações do salto de crescimento pubertário entre os rapazes correspondem a um acréscimo de massa muscular, ao contrário das futebolistas, que aumentam a massa gorda com a idade”, notou.
Na tese, é também sugerida uma alteração ao exame médico-desportivo que é exigido por lei aquando do pedido de dupla subida de escalão.
No caso das raparigas, neste momento, são analisados os valores da massa ventricular esquerda, tendo a tese concluído que a melhor análise seria a partir da idade óssea através de raio-x ao pulso e mão esquerda.
Para o autor da tese recentemente defendida, as mudanças que sugere poderão ajudar o futebol feminino em Portugal a “dar um salto”.
“O desenvolvimento da atleta a longo prazo é fundamental”, notou.
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