Na Escócia, Nuno Varandas viu os árbitros a receberem dinheiro das equipas antes dos jogos (não, não é corrupção). Ficou admirado por não haver policiamento nos jogos e triste por ver que, nos próximos anos, pode não haver evolução no futebol escocês a não ser que haja uma mudança.
O técnico de 40 anos sonha voltar a Portugal para treinar, seja onde for, depois da sua aventura na Escócia, onde emigrou há três anos para atalhar caminho na sua formação. E conta tudo na nossa rubrica, 'Mister, mudei de casa', numa agradável conversa telefónica onde revisitou o passado, explicou o presente na University of Stirling Football Club e projetou o futuro.
Nuno Varandas queria ser treinador. E, para isso, teria de estudar, fazer os cursos. E foi saber como seria. Fez as contas e percebeu que até chegar ao nível A da UEFA, podia levar até 10 anos em Portugal. 10 anos é muito tempo. Nuno não tem tanto tempo e não quis esperar.
Descobriu que na Escócia podia fazer o mesmo caminho por menos de metade desse tempo. Partiu, fez um plano a cinco anos e, em três, vai cumprir os objetivos de completar os cursos de UEFA B e UEFA A para treinador.
Naquele país britânico onde vive com a mulher as duas filhas, encontrou uma realidade diferente da que estava habituado em Portugal. Adaptou-se com alguma dificuldade, mostrou o seu trabalho, agradou e ficou. Mas o objetivo passa por treinar em Portugal. As saudades da praia, dos cheiros do mar falarão mais alto.
Lesão grave acelerou o sonho de ser treinador
O bichinho de treinador começou a roer a mente de Nuno Varandas desde os primeiros anos de jogador, quando começou a interessar-se verdadeiramente por todos os aspetos do jogo. Após uma carreira no semiprofissional em Portugal como lateral direito ou médio direito, sem possibilidade de dar o salto (jogou no Sintra Football, Novasemente, SC Arcozelo, CD Portugal, Gondim-Maia, entre outros), percebeu que a sua carreira podia passar pelo banco.
Uma lesão grave nos ligamentos do joelho, aos 35 anos, precipitou o fim da sua carreira. Após a operação, decidiu "ganhar juízo e deixar de jogar", para começar "os treinos mais a sério, no Coimbrões", o clube onde tinha feito a sua formação e onde jogou a nível sénior.
Durante anos foi acumulando experiência de treino, desde a Academia, passando pelos escalões de formação até concluir o nível I de treinador.
Com o diploma de Nível I de treinador da UEFA, Nuno quis subir de patamar e atacar a próxima etapa, mas descobriu que em Portugal os caminhos são mais espinhosos, as escadas são mais longas. Sentiu que "ia ser quase inacessível alcançar o nível UEFA A".
" Tinha o nível I e pensava começar a tirar os níveis II e III, mas vi que ia ser muito difícil por não ter um historial de jogador profissional", conta ao SAPO Desporto
Mas porque é tão difícil estudar para ser treinador em Portugal?
"As barreiras têm a ver com os critérios de entrada para os cursos de UEFA A [Na Federação Portuguesa de Futebol]: currículo de treinador e jogador e historial de futebolista profissional. Já vi treinadores-adjunto da Primeira Liga serem admitidos em detrimento de treinadores principais da I Liga. Tem tudo a ver com o currículo. Dão prioridades à I Liga e depois II Liga e depois III Liga. Começando por baixo e sem historial de jogador profissional, pode-se demorar entre cinco a 10 anos para conseguir o nível de UEFA A de treinador em Portugal. Já nem falo no UEFA Pro, que é muito mais difícil", explica.
Foi assim que, ainda em plena pandemia, Nuno Varandas decidiu deixar o cargo de treinador nas camadas jovens do Coimbrões e seu trabalho como motorista da Uber para ir atrás do sonho em solo britânico. Foi arriscado, mas valeu a pena.
"Pesquisei como funcionavam cá os cursos e conclui que seria mais fácil entrar num curso de UEFA A para treinador se seguisse os parâmetros que eles têm aqui", conta. Ter família a viver na Escócia também facilitou na escolha.
Adaptação: frio e sotaque não ajudaram
Quando Nuno Varandas aterrou em Perth, na Escócia, o país (e o resto da Europa) ainda estava em plena pandemia de COVID-19, embora com menos restrições. Nos primeiros seis meses, quase que não saiu de casa. As restrições de circulação "eram muito sérias" e só se podia "sair para comprar bens alimentares, não se podia sair para passear".
Assim, o primeiro ano do antigo defesa direito na Escócia "foi um bocado fora do normal". Para trás, ficava o mar, o cheio a maresia, a boa culinária portuguesa e o convívio com amigos em cafés e bares.
"A diferença foi grande. Vivia em Gaia, a 10 minutos da praia e na Escócia deparo-me com muito frio, um grau ou dois de temperatura, poucos dias de sol, uma realidade de às 16h00 estar a ficar de noite. Em Portugal cinco graus são toleráveis, mas na Escócia já não é assim tanto, principalmente a noite", confessa.
A língua foi outra barreira. Apesar de estar mais ou menos a vontade no inglês, os primeiros meses não foram fáceis:
"O sotaque foi uma das coisas que tive de me adaptar […] Usam muito o calão inglês, uma linguagem muito própria, [...] comem sempre um bocado as palavras e isso atrapalhou-me", diz-nos, contando também que tem saudades de socializar.
"Aqui as pessoas ainda são um pouco fechadas, pacatas, não são muito de socializar. A partir de certas horas não se vê ninguém na rua. Ao fim de semana saem. Às vezes questiono a minha esposa, 'Mas aqui as pessoas vão dormir às 07h da tarde?' Não vemos luzes nas casas", explica.
Entrada na Universidade de Stirling: uma feliz coincidência
Foi através dos cursos da UEFA que está a fazer na Federação Escocesa de Futebol que este português de 40 anos foi parar à Universidade de Stirling, onde desempenha atualmente as funções de treinador principal dos sub-20 e treinador-adjunto da equipa universitária, que compete numa liga comparada à Liga 3 ou o Campeonato de Portugal.
Depois de lhe terem indicado um cargo na Universidade de Stirling, Nuno Varandas entrou em contacto com os responsáveis e, após uma troca de e-mails e conversas telefónicas, "surgiu a oportunidade para fazer a pré-época como teste assim que os campeonatos começassem".
O seu trabalho impressionou os responsáveis e assim foi nomeado treinador-adjunto da primeira equipa e treinador principal dos sub-20.
O trabalho é de segunda a sábado, com treinos de segunda a sexta. Nuno Varandas é o responsável por preparar os treinos das duas equipas no terreno, com liberdade na equipa de sub-20 (sempre com o aval do treinador da equipa principal). Além de organizar e conduzir os jogos da formação de sub-20, analisa os jogos da primeira equipa e discute com o treinador principal as medidas a implementar.
Na Universidade de Stirling, Nuno Varandas encontrou um ambiente diferente do vivido num clube, com jogadores jovens, com idades entre os 18 e os 24 anos. A partir dos 24 anos, a Universidade é obrigada a libertar os atletas até porque é nessa idade que costumam concluir a sua licenciatura. Todos os jogadores são estudantes universitários, onde o futebol é apenas mais uma etapa da sua formação.
95 jogos por época: não há policiamento mas paga-se aos árbitros
O técnico português já vai implementando uma ou outra ideia sua, "sempre com o aval do treinador principal" que lhe dá "liberdade para experimentar" coisas novas nos sub-20. É Nuno quem faz a ponte entre os sub-20 e a equipa principal e isso se vê também na organização dos treinos: as duas equipas treinam sempre uma a seguir a outra, no mesmo espaço.
Em 2021/22, os sub-20 fizeram 95 jogos, muitos deles na liga universitária escocesa, "que pode ser comparada a Liga 3 ou ao Campeonato de Portugal". A equipa é um misto de sub-19 e Liga Revelação. Os jogadores utilizados não podem ter mais de 20 anos, mas cada equipa pode utilizar, em três jogos, um jogador mais velho. Os jogos são realizados à sexta-feira à noite.
E como é o seu dia a dia?
"Trabalhamos de segunda a sábado, treinamos de segunda a sexta, devido ao aglomerado de jogos. Treinamos ao início da tarde ou final da manhã, treinamos uma vez à noite, na 5.ª feira. Nos dias dos jogos, tenho a manhã livre, aproveito e vou levar os meus filhos ao infantário. Depois sigo para a Universidade, tento estar o mais cedo possível para preparar as coisas, tenho reunião com o treinador principal sobre planos de treinos e o que fazer durante a semana. Os treinos são sempre de duas horas e são sempre seguidos: primeiro a equipa principal e depois a de sub-20 ou primeiro a de sub-20 e depois a principal", explica.
Domingo é o único dia livre. Entre os sub-20 e a equipa principal, Nuno Varandas tem jogos às quartas, sextas e sábados. É jogar, recuperar, jogar, recuperar. Os sub-20 jogam a Taça da Escócia, as Taças locais, a Liga Universitária e ainda participam em campeonatos universitários em Inglaterra.
Nos primeiros dias de jogo, Nuno Varandas deparou-se com uma situação inusitada que lhe chamou a atenção: responsáveis da equipa da casa a entregar dinheiro aos árbitros com uma folha com os nomes dos jogadores e os quilómetros percorridos pela equipa de arbitragem
"Vi uma das pessoas responsáveis pela organização dos jogos a levar dinheiro aos árbitros antes do jogo, pelos árbitros. Perguntei a mim mesmo: 'O que estou a ver? Será que estão a subornar o árbitro?'
"Tentei saber e disseram-me: 'Nós é que pagámos as despesas do árbitro, incluindo deslocações, eles recebem por cada quilómetro percorrido'".
O próprio Nuno Varandas já foi entregar dinheiro à arbitragem, algo que, recorda, em Portugal teria logo outra interpretação.
"Às vezes coincide estarmos a dar o dinheiro ao árbitro no seu balneário e estar lá um elemento da equipa adversária a dar a ficha de jogo e vê tudo. Tive de lhes dizer que em Portugal quem fazia isso era a Federação ou a Associação de Futebol [que paga as deslocações aos árbitros]. E que se uma equipa o fizesse e um adversário visse, seria logo acusado de suborno", recorda.
Este é um dos pontos positivos destacados pelo treinador. A outra é a falta de policiamento nos jogos dos seniores, algo impensável em Portugal. A educação e o respeito pelo próximo e pelo futebol levam a que não seja necessária, mesmo quando o clima aquece. Para ilustrar este dado, Nuno recorda que o espaço entre os bancos de suplentes das duas equipas é de metros, são muito próximos. Aqui respeitem uns aos outros.
Escócia: um futebol parado no tempo
Se em Portugal são os três grandes - Benfica, FC Porto e Sporting - que dominam o futebol e conquistam a maior parte dos títulos (tirando alguma intromissão do SC Braga ou outro clube na Taça de Portugal ou Taça da Liga), na Escócia tudo gira à volta do Rangers e do Celtic, os emblemas mais titulados do país.
O Celtic tem 53 ligas escocesas, 37 Taça das Escócia e 21 Taças da Liga. Já o Rangers ostenta 55 campeonatos locais no seu palmarés, a que se somam 34 Taça das Escócia e 26 Taças da Liga Escocesa.
Em 2019 o Rangers chegou à final da Liga Europa mas perdeu com o Eintracht Frankfurt nas grandes penalidades. Em 2003 o Celtic tinha perdido a final da extinta Taça UEFA diante do FC Porto. Os sucessos destes dois gigantes escoceses passam muito pelo investimento que fazem nos jogadores estrangeiros e não tanto pelos futebolistas locais.
"Quando o Rangers foi à final da Liga Europa em 2019 [perdeu para o Eintracht Frankfurt], o único escocês era o guarda-redes [Allan McGregor], o resto era tudo estrangeiro [n.d.r. tinham ainda Ryan Jack e Scott Wright]", lembra.
Nuno Varandas defende que é preciso investir no jogador escocês, desformata-lo da cultura do jogo direto e dar-lhe um toque mais latino.
"O futebol ainda é um bocado direto, de segundas bolas e muita luta a meio-campo. O jogador escocês é interessante tecnicamente, mas falta-lhe criatividade, a magia de um jogador latino ou sul-americano para dar perfume ao jogo. E isto acontece pelo facto de haver muita luta a meio-campo e o jogador criativo, que por norma joga no centro do terreno, se for de baixa estatura, não têm hipótese", analisa.
"O futebol é muito a base da primeira bola, de jogo no ponta de lança, alto e forte que todas as equipas aqui têm, de onde partem para construir o jogo", diz-nos o técnico
Os próprios adeptos também querem esse tipo de futebol com a "bola perto das balizas". "Posso meter a minha equipa a sair a jogar, mas se meto uma bola longa no ponta de lança, o público fica logo empolgado, o jogador apercebe-se disso e começa a entrar nisso e a jogar direto", completa.
Em todos os cantos e espaços livres do país foram criadas condições para que os mais novos possam desenvolver as suas capacidades, tanto no futebol como no râguebi. Nuno conta que há sempre duas balizas de futebol ou de râguebi espalhados pelos espaços vazios onde os mais novos podem dar azo a sua criatividade e imaginação.
Também falta profissionalizar o futebol de todas as equipas, como acontece, por exemplo, com os clubes que disputam uma League 2 inglesa (terceiro escalão). O técnico luso explica que há "muitas equipas da League 1 e League 2 escocesas com futebolistas em part-time".
O clima também não ajuda a que se procure um futebol mais perfumado, com toque latino: "O facto de os campos serem pesados por causa do clima, ajuda a que se aposte muito no futebol direto. Porque às vezes começas a jogar, o campo está bom, começa a chover ou a nevar, o campo fica pesado e isso obriga a um futebol de bolas longas".
O investimento em treinadores de outras paragens também podia ajudar a melhorar o futebol escocês, defende Nuno, como aconteceu em Inglaterra, que reforçou o estatuto de melhor liga do mundo com a aposta em técnicos de outros países. Mourinho deu uma ajuda nesse sentido, pelo que conquistou e como conquistou no Chelsea.
Tirando o Celtic e o Rangers, todas as outras equipas da primeira divisão têm treinadores escoceses ou britânicos. Mas também será preciso remodelar os campeonatos. O Championship, a League 1 e a League 2 tem o mesmo formato: 12 equipas cada uma, a jogar três vezes uma contra a outra, ou seja, três voltas.
Nuno Varandas é de opinião que, juntando as League 1 e League 2, podia-se criar um campeonato com 24 equipas que depois podia ser reduzido a 18, o que iria aumentar a qualidade.
"Mas eles podem dizer. 'Mas nós também temos ideias, pensamos o futebol'. [...]. Eles deviam pensar do porquê de o País de Gales fazer mais pontos que eles e irem Europeus e Mundiais, sendo um país mais pequeno que a Escócia. [...] . Aqui no meu curso de UEFA A, 60 e 70 por cento dos alunos são de outros países como EUA, Canadá, temos africanos, sul-americanos. Se calhar pensam assim: 'Porque havemos de mudar se já tantos estrangeiros a procurar os nossos cursos?'.
Quando as saudades apertam: dos aromas da panela aos aromas do mar
Longe de Gaia, do seu Norte, Nuno Varandas vai mantendo-se ligado a Portugal pelos cozinhados da mulher que, lá longe, a 2700 km de casa, tenta recriar os aromas e sabores nacionais, com os produtos que encontra em Stirling. Uma vez por mês, os supermercados Lidl fazem a Semana Ibérica. Nuno e a esposa vão sempre na expetativa de encontrar algo 'Made In Portugal', mas é sempre quase tudo de Espanha. Safa-se uma das cervejas nacionais.
Dos grelhados nacionais, às vezes apertam as "saudades de um bom frango no churrasco". Não que não haja grelhados em Stirling, só que "não tem nada a ver com o nosso". "Aqui comem mais carnes pesadas, mais gordurosas, é muita comida já feita, é só meter no micro-ondas e já está", confessa.
Na Escócia, Nuno teve de se adaptar aos pequenos almoços à inglesa - feijão, batatas fritas, ovos mexidos, cogumelos, salsichas, bacon - mas também ao frio e ao que o tempo britânico oferece.
"Na altura da primavera/verão, com tempo mais ameno, temos dia até às 10h da noite. E no outono/inverno, o dia termina às 04h da tarde. No verão vou ao parque com os meus filhos ou fazer algo fora de casa. Nas outras alturas do ano estou mais por casa. O frio é tanto que não nos convida a sair para fazer algo fora, estamos melhores no quentinho. E eu ainda não consegui adaptar-me ao frio. Às vezes quando vou aos jogos à noite às sextas-feiras, levo três camadas de roupa e às vezes não chega", desabafa.
Os famosos pubs britânicos podem ser uma tentação mas o técnico de 40 anos não gostou do ambiente que encontrou.
"Em Portugal temos a cultura de ir ao café ou a um bar com os amigos. Aqui é mais os pubs. Tentei ir com a minha mulher e é um bocado pesado. As conversas são muito pesadas, experimentei e achei que não era ambiente para mim, atira.
"Tenho saudades do sol, da praia, de estar à beira mar, do aroma da praia, de socializar-me e da comida", confessa
Nas finais de época ou em dias de folga, Nuno e família aproveitam para conhecer o país de norte a sul. E recomenda: "É bastante bonito, quem vier sai daqui maravilhado com a imensidão de espaços verdes, montanhas, castelos. Aconselho a visitar a ponte onde foi filmado o filme Harry Potter, é exatamente como no filme, as ruinas, etc. Há monumentos antigos que retratam também a história do país".
E o futuro? Portugal, claro
Apesar de reconhecer que "em Portugal, infelizmente, não se dá o devido valor ao mérito de quem realmente tem resultados", já que quase tudo "funciona mais pelos conhecidos que se tem", Nuno Varandas quer regressar ao seu país e trabalhar no futebol. Diz que na Escócia está a fazer "um estágio" para o que quer mais tarde.
"Gostaria de regressar a Portugal, trabalhar no meu país, independentemente do contexto. Se for para trabalhar na formação, tudo bem, se for para adjunto, tudo bem também, é uma questão de se falar e de avaliar os projetos. Sub-19, Revelação, Sub-23, estou disponível para trabalhar. Quando a oportunidade surgir, vou agarra-la. Quero estrar de consciência tranquila de que dei o máximo, preparei-me para trabalhar no futebol", atira.
Nuno Varandas reconhece que "o mercado é muito competitivo" no nosso país, até porque "antes queria-se ser treinador aos 40, agora quer-se ser treinador aos 25". Mas nem a feroz concorrência rouba-lhe os sonhos.
"Quero voltar e mostrar o meu valor em Portugal", finaliza.
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