Os insultos racistas contra o avançado brasileiro Vinícius Júnior, no domingo, provocaram uma nova onda indignação, com o regresso do espectro do racismo ao futebol espanhol. Tudo aconteceu durante a partida em que o Real Madrid foi derrotado por 1-0 pelo Valencia, no Mestalla.

"A primeira coisa é reconhecer que temos um problema de comportamento, de educação, de racismo. Enquanto existir um único adepto, um único indesejável ou grupo de indesejáveis, que insulte alguém pela orientação sexual, cor de pele ou credo, temos um problema grave", disse esta segunda-feira (22) o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales.

Antes, em nota, a RFEF pediu à Comissão Antiviolência e ao Comité de Competições (órgãos que podem determinar sanções) que adotem medidas urgentes, que podem incluir parte das bancadas interditas a cada incidente ou jogos à porta fechada em caso de reincidência.

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Rubiales também pediu que "se uma sanção for determinada, que o próprio clube tenha que assumir, que não atrase com procedimentos demorados" para ajudar a combater o problema.

No domingo, Vinícius, frequentemente criticado por enfrentar adeptos e jogadores adversários, queixou-se de ter sido chamado de "macaco" na derrota por 1-0 do Real Madrid diante do Valencia.

- Gritos de "macaco" -

No segunda versão do relatório do jogo, o árbitro escreveu que "um adepto" dirigiu-se a Vinícius "com gritos de macaco, macaco", assim como demonstram as imagens exibidas pela transmissão televisiva.

"Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na LaLiga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam", escreveu o brasileiro nas suas plataformas digitais.

Expulso após uma discussão com Hugo Duro, jogador do Valencia que o agrediu com um golpe mata-leão e não recebeu o cartão vermelho, Vini Jr acrescentou: "O prémio que os racistas ganham é minha expulsão".

Vinícius, que em janeiro sofreu um ataque de adeptos do Atlético Madrid que simularam o seu enforcamento ao pendurarem um boneco com a sua camisola numa ponte, pediu "ações e punições".

O presidente de LaLiga, Javier Tebas, reagiu, mas com críticas às acusações do jogador ao campeonato espanhol.

"Antes de criticar e injuriar a LaLiga, é necessário que te informes adequadamente", escreveu Tebas no Twitter, numa referência à distribuição de poderes no momento de adotar sanções.

- Caso está a ser investigado

No domingo, a Liga Espanhola emitiu um comunicado condenando o ocorrido e afirmando que investigaria os factos e, "caso seja detectado algum crime de ódio, LaLiga adotará as ações legais estabelecidos nos regulamentos".

No mesmo comunicado, a LaLiga recorda ter apresentado nove denúncias por insultos contra o jogador nas últimas duas temporadas ao "Comité de Competições da RFEF, à Comissão Estatal contra a Violência, Racismo, Xenofobia e Intolerância no Desporto, à Procuradoria que investiga crimes de ódio e aos tribunais" comuns.

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A Comissão Estatal contra a Violência afirmou esta segunda-feira que já está "a analisar as imagens disponíveis para identificar os autores", dos insultos e "propor as correspondentes sanções".

A 28 de fevereiro, esta Comissão multou em 4.000 euros e proibiu a presença em estádios de futebol durante um ano de um adepto do Mallorca que insultou o Vini Júnior.

O Valladolid suspendeu dez sócios pelos insultos contra Vini Jr na partida de 30 de dezembro do ano passado contra o Real Madrid.

Após as ofensas do último domingo, o presidente do Valladolid, o ex-atacante brasileiro Ronaldo 'Fenémeno', escreveu: "Vini, conte comigo na sua luta. Na nossa luta".

O Valencia afirma que "expulsará do estádio para sempre" os adeptos que teriam insultado Vinicius com cânticos racistas.

Além disso, o Ministério Público de Valência iniciou esta segunda-feira uma investigação por um suposto crime de ódio pelo ocorrido, depois de o Real Madrid, junto com o sindicato de jogadores de futebol, apresentarem uma denúncia à Procuradoria-Geral do Estado.

A equipa merengue apresentará uma ação penal privada, se as investigações do Ministério Público terminarem diante de um juiz.

- Vinícius Júnior recebe apoio

Após receber o apoio do técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, e dos seus companheiros de equipa, Vinícius reuniu-se esta segunda-feira com o presidente do clube merengue, Florentino Pérez.

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No encontro, Pérez informou todos os procedimentos que serão feitos em defesa do jogador e garantiu que o clube levará o assunto até as "últimas consequências", diante de um "ato de ódio tão repugnante".

"É muito desagradável, não vejo isso a acontecer noutros desportos. É preciso dizer 'basta', parar o jogo e ir para casa" nesse tipo de episódio, afirmou o técnico do Barcelona, Xavi Hernández, conferência de imprensa, esta segunda-feira.

Outras personalidades e autoridades também divulgaram mensagens de apoio ao brasileiro.

"Tolerância zero com o racismo. O desporto é fundamentado nos valores da tolerância e do respeito. O ódio e a xenofobia não devem ter lugar no nosso futebol nem na nossa sociedade", afirmou o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, nas suas redes sociais.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou no Japão que "não é possível que, em pleno século XXI, tenhamos o preconceito racial a ganhar força em vários estádios de futebol na Europa".

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, expressou esta segunda-feira "total solidariedade" ao atacante brasileiro.