Não foi desta que Portugal finalmente venceu na Escócia em jogos oficiais. E não tendo na memória todas as outras visitas a terras escocesas, é seguro arriscar que este não terá sido o jogo onde a vitória lusa esteve mais perto.
Numa cidade que contribuiu em muito para o nascimento de bandas como os AC/DC ou os Dire Straits, a música portuguesa tocada em Hampden Park foi sempre monocórdica, com um ou dois membros da banda ainda a tentar destoar um pouco daqueles inconsequentes arpejos.
Martínez falou no balneário, mudou algumas peças, mas o problema teimava em não se resolver. Diante de uma Escócia com a lição muito bem estudada, Portugal nunca mostrou a inspiração necessária para fugir ao previsível e surpreender um adversário muito confortável no seu papel e sem problemas em recuar linhas e defender o tempo que fosse preciso. Perante este cenário, o empate a zero sempre foi o mais provável.
O jogo: Pior que nada
Quando se procura resumir uma partida, normalmente atentamos aos lances principais, aqueles que se sobressaíram e que ditaram o rumo do jogo. Ora aqui tal tarefa revela-se mais complicada do que o habitual, e que passará pela tentativa de contar uma história... sem grande história.
Para esta partida, Roberto Martínez fez seis alterações à equipa que tão boa conta deu do recado diante da Polónia, mexendo em todos os setores (excepto a baliza). À semelhança do que ocorrera no encontro da Luz, os escoceses tentaram surpreender nos minutos iniciais, e da mesma maneira, só que desta vez, o cabeceamento de McTominay acabou nas mãos de Diogo Costa.
E em relação a verdadeiros lances de perigo na primeira parte, estamos conversados.
Até ao intervalo o jogo disputou-se no meio-campo escocês, com Portugal a procurar furar as várias barreiras montadas pelo adversário junto da sua área. Neste âmbito, Francisco Conceição foi o que mais tentou quebrar a resistência dos britânicos, mas os seus lances, tal como os dos seus colegas de equipa, acabavam facilmente anulados.
Na segunda parte a equipa das quinas parecia mostrar outra energia e acutilância, conseguindo fazer o que se mostrara incapaz no primeiro tempo: criar verdadeiras oportunidades. Todavia, Cristiano Ronaldo primeiro, e Conceição logo a seguir, não tiveram o discernimento necessário na hora de finalizar.
Poder-se-ia pensar que, com estes dois lances, Portugal iria dar início a um outro jogo...errado. Graças, em parte, às constantes interrupções de jogo pautadas por um concerto de apito (32 faltas), o encontro voltou à monotonia anterior.
Do banco Martínez ia lançando novas armas, mas todas elas esbarravam no muro escocês. Fossem cruzamentos ou remates à entrada da área, invariavelmente estes encontravam pela frente um 'highlander', disposto a dar tudo por aquele empate. Isto não quer dizer que a Escócia tenha passado por grandes apertos, apenas soube contrariar as poucas variações que Portugal ia incutindo no seu jogo.
No final registou-se um empate que, para quem teve o azar de ver o jogo, não surpreende ninguém. Apesar do resultado, Portugal mantém-se no primeiro lugar do Grupo A1, estando cada vez mais perto de assegurar os quartos de final da Liga das Nações.
O momento: Gordon foi 'flash'
Corria o minuto 87 e o espetro do empate parecia cada vez mais real. Num dos seus raros rasgos individuais, Rafael Leão conseguiu fugir pela esquerda e entrar na área, o extremo cruzou rasteiro para o coração da área onde surgiu Bruno Fernandes a rematar de primeira, obrigando Craig Gordon a uma defesa por instinto, que negou a Portugal aquele que seguramente seria o golo da vitória.
O melhor: Um maestro sem orquestra
Vitinha assumiu a titularidade nesta partida, ficando como principal responsável em fazer a ligação entre defesa e ataque. O médio do Paris Saint-Germain procurou sempre empurrar a equipa para a frente, especialmente no momento da transição ofensiva, contudo, esteve quase sempre desapoiado.
Na primeira parte notava-se a falta de alguém que ajudasse Vitinha nos desenhos ofensivos, o que não impedia o jogador de quebrar linhas e procurar sempre o colega melhor colocado.
No segundo tempo, e principalmente após a entrada de Rúben Neves, o médio luso tinha agora alguém com quem combinar. O bloco recuado do adversário não lhe facilitava a vida, contudo, Vitinha nunca baixou os braços e foi sempre dos mais esclarecidos na equipa portuguesa ao longo de todo o jogo.
O pior: Cancelo? Nem vê-lo
João Cancelo foi uma das novidades de Roberto Martínez no onze inicial. O lateral direito substituiu Diogo Dalot, mas nunca conseguiu mostrar-se útil na tentativa de desmontar o bloco da Escócia. Na primeira parte, Cancelo ainda foi tentando combinar com Francisco Conceição, não conseguindo causar os desiquilíbrios necessários.
Na segunda parte, e após a entrada de Bernardo Silva, pedia-se um Cancelo mais incisivo e que tentasse entrar na área...a verdade é que, na maioria dos casos, o lateral optava por cruzamentos bombeados para a área, uma dádiva para a linha defensiva escocesa que agradecia e afastava todas as bolas. Cedeu o seu lugar a Nélson Semedo já perto do fim.
Comentários