A Liga dos Campeões está a 90 minutos de distância para o Benfica. Os encarnados venceram sem grandes sobressaltos e estão com pé e meio na fase de grupos da 'Champions'; o resultado foi construído na primeira parte, aproveitando assim a etapa complementar para controlar a partida e gerir o esforço, numa altura onde os encarnados se deparam com um calendário muito preenchido.
A partida teve lugar em Lodz, a 900 quilómetros de Kiev, mas tal não impediu a presença de milhares de adeptos ucranianos no Estádio Miejski para apoiar uma equipa que, apesar de não poder disputar o seu campeonato nacional, entrou em campo com coragem e determinação, bem cientes da responsabilidade que caía sobre os seus ombros enquanto representantes de toda uma nação em guerra há mais de seis meses.
No Benfica, e como seria de esperar, Roger Schmidt manteve praticamente o onze inicial habitual, conseguindo voltar à sua equipa-base com o regresso de David Neres à faixa direita do ataque benfiquista, que ocupou assim o lugar de Diogo Gonçalves, titular diante do Casa Pia no jogo do campeonato disputado no último sábado.
Do lado ucraniano, o grande ausente foi o médio defensivo Serhiy Sydorchuk, uma das peças basilares da formação treinada por Mircea Lucescu. O técnico romeno fez duas alterações relativamente ao jogo diante do Sturm Graz; as saídas de Syrota, Sydorchuk deram lugar às entradas do central Popov e do centrocampista Andriyevskyi.
O jogo: Águia dominou e 'Ody' segurou
Desde o apito inicial se viu que seria o Benfica a dispor da iniciativa de jogo perante um adversário mais encolhido, e que procurava explorar os espaços deixados nas zonas mais recuadas dos encarnados para fazer rápidas transições e quebrar as zonas de pressão alta do Benfica.
Os ucranianos foram mesmo os primeiros a criar algum perigo com o remate de Besedin a encontrar boa oposição de Vlachodimos num lance que acabaria invalidado devido a fora-de-jogo do avançado ucraniano.
Perante esta ameaça, o Benfica respondeu de pronto e chegou mesmo ao golo; à passagem dos nove minutos a bola circulou da direita para a esquerda, passando por quase todos os jogadores encarnados até encontrar João Mário que, em posição frontal, viu Gilberto solto na direita e serviu o lateral que, já dentro da área, rematou forte e de primeira para fazer o 0-1.
O golo madrugador deu ainda mais segurança ao jogo das águias que assim continuaram a tomar conta das operações, nunca permitindo grandes veleidades ofensivas a um Dínamo de Kiev que, apesar da desvantagem, continuava a jogar na espectativa e a apostar no erro do adversário.
Assim o Dínamo pressionava com alta intensidade, mas nada que os jogadores do Benfica, claramente com mais ritmo competitivo, não conseguissem contrariar e daí tirar partido. João Mário esteve perto de se aproveitar da situação e chegar ao golo à passagem do minuto 24, todavia o remate em arco do médio saiu a pouco centímetros do poste esquerdo da baliza ucraniana.
Dez minutos depois, e num dos raros lances em que o Dínamo conseguiu criar desequilíbrios junto da defesa benfiquista, Tsygankov fletiu da direita para o meio, tirou vários adversários do caminho e rematou colocado com o esférico a passar bem perto do poste da baliza de Vlachodimos, um lance em tudo idêntico ao de João Mário.
Apesar deste lance esporádico, o Benfica nunca abanou nem se sentiu ameaçado, muito pelo contrário; os homens de Roger Schmidt continuaram ao ataque e viram a sua perseverança recompensada aos 37 minutos. Num lance aparentemente inofensivo, Tsygankov, como que fechado no seu próprio mundo, esqueceu-se dos adversários e fez um passe de morte...para David Neres; o extremo não se fez rogado e serviu Gonçalo Ramos que, completamente à vontade, fez o 0-2, resultado que se revelaria como o final.
Isto porque na segunda parte o Benfica limitou-se a gerir o ritmo do jogo sem grandes sobressaltos. Contudo, o menor ritmo imposto encorajou um Dínamo de Kiev que procurava um golo que pudesse espicaçar o espírito guerreiro dos seus jogadores e adeptos; mas nos momentos em que tal foi possível, o Dínamo encontrou pela frente um intransponível Vlachodimos. O guardião grego pode não ter sido chamado a intervir muitas vezes mas fê-lo sempre com enorme concentração mesmo em alturas em que os seus colegas não revelavam tal faculdade.
Com este triunfo o Benfica tem o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões muito bem encaminhado. Na próxima semana, no Estádio da Luz, é de esperar que as águias carimbem definitivamente o passaporte para a liga milionária.
O momento: Ramos resolve novamente
Estávamos a caminhar para o intervalo e o Benfica parecia controlar a partida, contudo o Dínamo de Kiev vinha a mostrar vontade de contrariar o favoritismo encarando e já estaria certamente a pensar no intervalo para adoptar a melhor estratégia. Deve ter sido por isso que, aos 37 minutos, Tsygankov se distraiu e ofereceu a bola a Neres, que permitiu a Gonçalo Ramos fazer o segundo para o Benfica. A partir daí o Dínamo nunca mais conseguiu se recompor animicamente e esteve perto de sofrer mais golos ainda antes do intervalo.
O melhor: O cérebro da águia
Apesar de não ter marcado, João Mário foi o principal pensador e dinamizador do jogo encarnado. Com a sua visão e capacidade de passe e temporização, o número 20 encarnado foi o mestre de cerimónias das águias, jogando e fazendo jogar. É dele a primorosa assistência para o primeiro golo do Benfica, e também é autor de um belo remate que por pouco não deu golo.
O pior: No melhor pano cai a nódoa
Viktor Tsygankov é sem dúvida um dos jogadores mais tecnicamente desenvolvidos do Dínamo de Kiev; foi quase sempre através dele que os ucranianos criaram as suas melhores oportunidades. Todavia, o artista ucraniano acabou por borrar a pintura já bem perto do intervalo ao oferecer o segundo golo ao Benfica através de uma clara desatenção. Apesar de ter sido um dos principais impulsionadores do ataque ucraniano, o erro cometido aos 37 minutos acabou por se revelar decisivo para o resultado final.
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