O treinador André-Villas Boas só liderou um ano a equipa de futebol do FC Porto, mas, ‘sentado’ na sua “cadeira de sonho”, selou em 2010/11 uma das melhores épocas de sempre dos ‘dragões’, se não mesmo a melhor.
Há já uma década, Villas-Boas, então um ‘miúdo’ de 33 anos, conquistou ao comando dos ‘azuis e brancos’ a Liga Europa, a I Liga portuguesa, sem sofrer qualquer derrota, a Taça de Portugal e a Supertaça Cândido de Oliveira.
Com um futebol de alta qualidade, ‘banhado’ a muitos golos, num total de 145, à média de 2,5 por jogo, o FC Porto foi, em 2010/11, uma equipa imparável, falhando apenas a Taça da Liga, troféu que continua ausente do seu museu.
No total, em 58 jogos, os ‘dragões’ somaram 49 vitórias, correspondentes a 84,5%, cedendo apenas cinco igualdades e quatro derrotas, isto com um saldo positivo de mais de 100 golos, mais precisamente 103 – sofreu 42 (0,7 por encontro).
Mais do que os números, a época 2010/11 do FC Porto ficou marcado, porém, por uma série de jogos que entraram para a ‘lenda’, quatro dos quais face ao rival Benfica, de Jorge Jesus, que André Villas-Boas não se cansou de ‘dizimar’.
Os ‘encarnados’ vinham de uma sensacional época 2009/10, a primeira de Jesus, em que encantaram com o seu futebol de ataque (124 golos, em 51 jogos), mas foram logo travados ao primeiro jogo da época pelo técnico que o FC Porto foi buscar à Académica para substituir Jesualdo Ferreira (2006/07 a 2008/09).
Em Aveiro, em 07 de agosto de 2010, os ‘dragões’ não eram favoritos, mas venceram sem ‘espinhas’ por 2-0, com tentos de Rolando e Radamel Falcao. Foi apenas um ‘aperitivo’.
Três meses depois, no Dragão, o FC Porto aplicou uma terrível ‘manita’ (5-0) aos ‘encarnados’ - com Roberto na baliza, David Luiz como lateral esquerdo e Luisão expulso (65 minutos) -, selada com um tento de Varela e ‘bis’ de Falcao e Hulk.
No mesmo local, em 02 de fevereiro, o Benfica ripostou, vencendo por 2-0, com tentos de Fábio Coentrão e Javi Garcia, para a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal, mas a resposta dos ‘azuis e brancos’ viria a ‘apagar’ este jogo.
Em 03 de abril, o FC Porto apresentou-se na Luz a um triunfo do título, à 25.ª jornada, de 30, e não falhou, vencendo por 2-1, com um autogolo de Roberto e um penálti de Hulk. Os ‘encarnados’ fecharam a luz e abriram os aspersores, mas só tornaram ainda mais épica, ímpar e inesquecível a festa dos ‘azuis e brancos’.
A ‘obra’ de André Villas-Boas, no que ao Benfica diz respeito, ainda não estava, porém, finalizada e, 17 dias depois, os portistas voltaram à Luz para colocar um ‘ponto final’ no Benfica, com um triunfo por 3-1 rumo à final da Taça de Portugal.
João Moutinho, Hulk e Falcao selaram novo triunfo portista sobre os ‘encarnados’ para ‘mais tarde recordar’.
A época de Villas-Boas não se esgotou em ‘massacrar’ o Benfica e teve também como ponto muito alto o percurso europeu, saldado com 14 vitórias, um empate e duas inconsequentes derrotas, já que o FC Porto conquistou a segunda edição da Liga Europa.
Depois de superar o Genk no ‘play-off’, o FC Porto passou a fase de grupos sem sobressaltos, cedendo apenas um empate (1-1 com o Besiktas), para, depois, eliminar sucessivamente Sevilha, com dificuldades (2-1 fora e 0-1 em casa), CSKA Moscovo, Spartak Moscovo, com 5-1 em casa e 5-2 fora, e Villarreal.
O bilhete para a final foi selado, praticamente, na primeira mão das meias-finais, com um 5-1 aos espanhóis, que até venciam ao intervalo no Dragão por 1-0, para, em Dublin, em 18 de maio, o FC Porto superar o Sporting de Braga por 1-0, num duelo 100% luso resolvido por Falcao, com o seu 18.º golo europeu em 2010/11.
No campeonato, o FC Porto sagrou-se campeão com cinco jornadas por disputar, não perdeu qualquer jogo e só cedeu três empates (1-1 em Guimarães, à sétima ronda, 1-1 em Alvalade, à 12.ª, e 3-3 com o Paços de Ferreira, à 29.ª). O Benfica acabou a 21 pontos.
Desta forma, os ‘azuis e brancos’ selaram o segundo melhor registo de sempre no campeonato, perdendo apenas para o Benfica de 1972/72 (28 vitórias e dois empates), culpa do ‘hat-trick’ de Pizzi, então no Paços, concretizado aos 87 minutos.
Na Taça de Portugal, e depois da espetacular reviravolta face aos ‘encarnados’, o FC Porto ainda teve fôlego, no 58.º e último jogo da época, em 22 de maio, para colocar uma ‘cereja em cima do bolo’, em forma de 6-2 ao Vitória de Guimarães na final do Jamor, com um ‘hat-trick’ de James Rodríguez.
Faltou apenas arrebatar a Taça da Liga, que o FC Porto hipotecou logo ao primeiro jogo da fase de grupos, ao perder por 2-1 na receção ao Nacional, após marcar primeiro. Um ‘bis’ de Anselmo lançou os insulares, que venceram o Grupo A só com vitórias.
Esta exceção só confirmou a regra, num trajeto inesquecível, que não ficará nada mal no lugar mais alto de todas as temporadas dos ‘azuis e brancos’, mesmo sabendo-se que Artur Jorge (1986/87) e José Mourinho (2003/04) levaram o clube ao título europeu.
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