Mauricio Pochettino prepara-se para enfrentar um dos desafios mais importantes da carreira. Depois de ver o seu Tottenham perder em casa na primeira-mão das meias-finais da Liga dos campeões, o técnico argentino tem de encontrar soluções para dar a volta ao resultado frente ao Ajax na Holanda.
Numa extensa entrevista ao jornal espanhol 'El Pais', o argentino falou do seu Tottenham, do futebol moderno e da ditadura da posse de bola. E falou também das equipas impulsionadas por dinheiro.
"Muitos vezes ríamos quando nos comparam ao Liverpool ou ao Manchester City e Manchester United. Gostaria de ser um City ou um Liverpool? Sim e não. Mas prefiro lutar por algo que possa ser histórico, único, e que tenho muitas dúvidas se vou conseguir. Em clubes como Real Madrid, Barcelona, Manchester City, não há tempo, só lhes interessa ganhar. Se um jogador não serve, vão ao mercado e compram outro. Mas estes projetos impulsionados com a força e velocidade do dinheiro correm o risco de se tornarem vazios", analisou.
Apesar de o Tottenham lutar sempre pelos título na Premier League e ter terminado entre os quatro primeiros nos últimos anos, os 'spurs' continuam sem ganhar títulos coletivos. Mas Pochettino sublinha que nem tudo tem de se resumir a troféus que se ganha. Até porque há outros títulos mais importantes no dia-a-dia.
"Qual é o orgulho do corpo técnico do Tottenham? É um guarda-redes como o Hugo Lloris, que se adaptou a nossa filosofia, que melhorou connosco, que trabalhou, e quando ganhou o Mundial de futebol, veio ter comigo e disse-me: 'Mister, aqui está a tua Copa do Mundo. Que troféu te pode dar mais satisfação que ver um campeão do Mundo, capitão da França, levantar o troféu e em vez de a ter em casa, oferece-la ao seu treinador?", sublinhou, antes de falar de falar do futebol moderno e da ditadura da posse de bola.
"O futebol perdeu pessoas autênticas, parecemos atores. Há 40 anos, juntávamos em Murphy [n.d.r. Santa Fe, Argentina] a jogar em campos de 40 metros e quem tinha a posse de bola eram os melhores, os que tinham melhor equipa. Mas nem sempre venciam porque os outros com menos posse rematavam e marcavam. A quem pertence o futebol de posse? Aos jogadores. Andamos a vender uma ideia que há treinadores que inventaram o futebol de posse, e não é bem assim. Eu gosto de ter bola mas se não tenho as ferramentas, se não tenho jogadores tão técnicos, tenho de encontrar uma forma diferente de jogar. E parece que este futebol não existe. Como queres que o Burnley joga um futebol de posse? Se tenho Xavi, Iniesta, Busquets, como queres que os peça para jogar de forma direta, a correr, em transições rápidas? Seria estúpido", sublinhou.
Ainda sobre este tema, Pochettino recordou que para se jogar em posse, é preciso ter jogadores específicos, tecnicamente bem dotados. E mesmo com este tipo de jogadores, nada garante que o treinador vá ter sucesso.
"Sem atitude, esforço, desejo de vencer, não há planeamento tático que nos valha. Estamos a transformar o futebol em algo confuso. Parece que há uma corrente, impõe-se a corrente da posse e diz-se: 'Se a bola correr, não tenho de correr'. Hoje parece que um treinador que não fala de posse, dos automatismos na saída de bola, de periodização tática, é alguém que não sabe nada, que não tem conhecimentos. Olhas para o Manchester City e para o Barcelona e dizer: 'Caramba, que jogo posicional!'. Mas esse jogo posicional tem êxito quando tens certos tipos de jogadores para desenvolver esse mesmo jogo. E isso não quer dizer que o treinador que desenvolve esse jogo está preparado para vencer ou não. E quando se tenta desenvolver este jogo posicional em outras equipas, cria-se confusão. Porque há jogadores que não são tão bons tecnicamente para fazer certas coisas, e pensam que são", frisou, na longa entrevista ao 'El Pais'.
O Ajax-Tottenham, da segunda-mão das meias-finais da 'Champions', está marcado para às 20h00 desta quarta-feira. Os holandeses venceram na primeira-mão por 1-0. Quem passar irá defrontar o Liverpool na final, marcado para o Wanda Metropolitano, em Madrid.
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