Nove anos depois, o treinador Arnaldo Salvado voltou a conquistar um título nacional de futebol pelo Maxaquene.

O anterior campeonato dos “tricolores” tinha acontecido em 2003 pela mão do treinador que, com a conquista deste ano, torna-se no técnico que mais títulos ganhou no futebol moçambicano. É caso para dizer que o “papa-títulos” está de regresso. Mas Salvado mantém a modéstia quando analisa este feito.

«Título é fruto da união»

«É um número que em termos individuais é difícil de alcançar, mesmo nas mais variadas condições de trabalho que possam existir, sempre é difícil para qualquer treinador do mundo conseguir essa marca, é lógico que isso me dá orgulho», disse o treinador para depois acrescentar.

«São campeonatos que são ganhos não só por mim, são ganhos pelos jogadores dentro do campo e que fazem de mim campeão. É lógico que tem a minha contribuição significativa porque sou eu o gestor desses jovens».

O título ganho pelos “tricolores” é fruto da união e dedicação do grupo de trabalho. «Este ano as pessoas conseguiram entender a mensagem que sempre transmitia de que é preciso haver unidade, apesar de as pessoas pensarem de forma diferente, era necessário saber que o que os desunia em termos individuais e em termos de interesses pessoais devia ser posto em segundo plano e que fosse posto em primeiro plano aquilo que os unia, que é a paixão pelo clube», justificou Salvado.

Falta valores no futebol moçambicano

Conhecedor profundo do desporto moçambicano, Arnaldo Salvado analisa com muita tristeza o atual cenário que se verifica no futebol moçambicano.

«É com tristeza porque sou um dos agentes e fazedor deste desporto há muitos anos, assumo que a qualidade do futebol de geração para a geração é mais fraca. Quem se recorda da geração do Gil,  Caltone, Chababe, Joaquim João, Riquito, Zé Augusto, Nana,  Chiquinho Conde, do Tico-Tico e do Genito e compara-la com a atual geração não encontramos valores em campo. É difícil, um pai chamar uma criança e convida-la ao ir ao campo para ver o Joaquim a jogar porque não há valores a despontar e isso tem a ver com situações estruturais grandes do país que é dos mais pobres do Mundo”, lamentou o treinador.

Maxaquene pode seguir caminho do Desportivo se não mudar

A crise financeira é evidente no Maxaquene, pelo que poderá comprometer a participação dos “tricolores” nas competições africanas.

«Nem sei se o Maxaquene vai entrar nas competições africanas porque isso tem custos bastante altos e se calhar o Maxaquene não tem capacidade para isso. Entrar só por entrar e para gastar dinheiro e para perder com uma equipa da Swazilândia na primeira eliminatória isso também é menos dignificante para o clube e para o país. Provavelmente para o ano perderemos três a quatro jogadores e não teremos a capacidade para reforçarmo-nos para defender a conquista do título», rematou o treinador “papa-títulos”.

Salvado já orientou todos grandes de Maputo, com exceção do Desportivo, clube pelo qual nutre alguma simpatia, daí que a atual situação por que passa o clube não passa despercebida ao treinador.

«Desportivo é um dos grandes do desporto moçambicano e está a lutar para não descer de divisão e isso tem a ver com capacidade financeira. O Desportivo foi destruído, destruíram-lhe a equipa de futebol de salão, destruíram-lhe a equipa de basquetebol feminino que agora é campeã de África e destruíram-lhe a equipa de futebol de onze porque não tem capacidade financeira e o Maxaquene se não acordar vai pelo mesmo caminho», considerou o técnico.

Referir que Arnaldo Salvado já foi campeão nacional pelo Costa do Sol e pelo Ferroviário de Maputo.