Liverpool e Flamengo defrontam-se este sábado, a partir das 17h30, no Estádio Khalifa International, em Doha, no Qatar.

O jogo coloca frente-a-frente o campeão europeu com o campeão sul-americano, naquela que será uma reedição da final da Taça Intercontinental de 1981, em Tóquio, Japão, quando o Flamengo de Zico bateu os ingleses por 3-0 e levantou a única Taça Intercontinental (equivalente atualmente ao Mundial) da sua história.

O histórico é único... literalmente

13 de dezembro de 1981, Estádio Nacional do Japão, na cidade de Tóquio. Às 17 horas, o mexicano Rubio Vázquez dá o apito inicial da final da Taça Intercontinental desse ano entre o campeão sul-americano (título que conquistou depois de bater os chilenos do Cobreloa em três jogos(!) por um total de 4-2) e o campeão europeu (que venceu a competição ao bater o Real Madrid por 1-0 em Paris).

Foi a única vez que as duas equipas se defrontaram, com os brasileiros a levarem a melhor sobre os 'Reds' ao vencerem por 3-0, com os três golos a serem marcados ainda na primeira parte por Nunes (aos 13' e aos 41 minutos) e por Adílio aos 34 minutos e a conquistarem a primeira e (até este ano) a única Taça Continental em que participaram.

Já o Liverpool teve mais oportunidades, mas a sorte não tem sorrido no Mundial de Clubes.

Inglaterra 2 - 10 Brasil

Em três finais, o Liverpool nunca conseguiu levantar a Taça Intercontinental ou o Mundial de Clubes. Na primeira, em 1981, foi o que já falamos anteriormente (3-0 vs Flamengo), na segunda em 1984, nova derrota, desta vez contra o Independiente, da Argentina, por 1-0 e 21 anos depois, em 2005, já com a prova sob a égide da FIFA, voltou a perder e de novo para um adversário brasileiro, mas desta vez para o São Paulo por 1-0.

O Liverpool ainda podia ter contado com mais uma possibilidade de vencer a prova, em 1978 contra o Boca Juniors, mas o jogo acabou por não se realizar devido a problemas de calendário dos ingleses (isto já foi há mais de 40 anos e o calendário continua a dar chatice).

Mas não pense que o azar é só do Liverpool: em nove finais inglesas, só por duas vezes as equipas regressaram a Inglaterra com o troféu, neste caso a equipa, uma vez que o Manchester United é a única equipa inglesa que já o tem no seu museu.

O primeiro foi em 1999, ainda quando a prova se chamava Taça Europeia/Sul-Americana, ao bater o Palmeiras por 1-0, com um golo de Roy Keane aos 35 minutos.

O golo do irlandês deu o primeiro troféu a uma equipa inglesa depois de cinco tentativas falhadas e curiosamente à primeira equipa que disputou a prova: Em 1968 os 'Red Devils' perderam por 2-1 no total das duas mãos contra os argentinos do Estudiantes. Em 1980 foi a vez do Nottingham Forest ficar a ver a taça a ser levantada pelo Nacional, do Uruguai, depois de perder por 1-0. O Aston Villa, em '82, repetiu a triste sina inglesa até então, ao perder contra os uruguaios do Peñarol por 2-0. A estas somam-se as finais perdidas pelo Liverpool em 1981 e 1984.

Nove anos depois (e já depois do Liverpool ter voltado a perder em 2005), o Manchester United voltou a vencer a prova desta vez contra os colombianos da Liga de Quito por 1-0 com golo de Rooney aos 73'.

Desde ai, os ingleses só viram uma das suas equipas na final por mais uma vez, em 2012, com o Chelsea a sair derrotado pelo Corinthians por 1-0.

Registo bem diferente, quer em quantidade quer em qualidade, têm os brasileiros.

Em 16 finais, as equipas brasileiras venceram por 10 vezes: o Santos venceu o 1962 (vs Benfica) e 1963 (vs AC Milan), o Flamengo em 1981 (vs Liverpool), o Grêmio em 1983 (vs Hamburgo), o São Paulo em 1992 (vs Barcelona), 1993 (vs AC Milan) e 2005 (vs Liverpool), o Corinthians em 2000 (vs Vasco da Gama) e 2012 (vs Chelsea) e o Internacional em 2006 (vs Barcelona).

Em confrontos entre ingleses e brasileiros nas finais do Mundial de Clubes/ Taça Intercontinental/ Taça Europeia/Sul-Americana (sim, isto já teve muitos nomes), os Brasileiros levaram claramente a melhor ao baterem as equipas inglesas em três das quatro finais entre clubes dos dois países: a primeira foi precisamente em 1981 entre Flamengo e Liverpool, com vitória 'rubro-negra', depois em 1999 os 'red-devils' bateram o Palmeiras, seguiu-se a vitória do São Paulo contra o Liverpool em 2005 e a derrota do Chelsea em 2012 sobre o Corinthians.

Um possível presidente do Brasil vs um criador de futebol

Nas conferências de antevisão à final, os dois treinadores realizaram uma autêntica troca de galhardetes, com Jorge Jesus a elogiar Jurgen Klopp e vice-versa.

Jorge Jesus fez questão de elogiar o homologo alemão, afirmando que o treinador do Liverpool é "um criador de futebol".

"O Klopp é um dos grandes treinadores do momento e do mundo. Sei que viu alguns jogos quando treinava em Portugal e ele, como criador do que é o futebol, consegue avaliar isso. Fico satisfeito com a afirmação por ser de um colega de profissão, que consegue dar mérito a quem criou alguma coisa da bola parada. Ele também conseguiu criar um 4x3x3 muito particular e complicado. Ele é um criador de futebol e depois há outros que copiam. Por isso é que ele é um excelente treinador", elogiou.

O português abordou a possibilidade de regressar à Europa caso vença o Mundial de Clubes este sábado.

"Eu já treino um dos maiores clubes do Mundo, não tenho dúvida nenhuma. Só não é na Europa. (...) O Flamengo, se ganhar amanhã o Mundial, as três competições mais importantes da época estão ganhas. Isso pode abrir alguma janela, não só para poderes ser classificado como melhor treinador do Mundo, porque ganhas títulos importantes e tudo o que possa abrir em termos de mercado de trabalho na Europa para mim. (...) sei muito bem o que quero. Eu abro a minha mão e tenho cinco dedos. Se não forem estes [clubes], escusam de me procurar, que eu não vou. O mais importante para mim é ganhar no Flamengo para daqui a um ano podermos dizer que o Flamengo é dos maiores clubes do Mundo", afirmou o técnico.

Jorge Jesus faz a antevisão à final do Mundial de Clubes
Jorge Jesus faz a antevisão à final do Mundial de Clubes créditos: AFP or licensors

Já Jurgen Klopp admitiu acompanhar a carreira de Jorge Jesus há algum tempo, desde os tempos do treinador do Benfica, admitindo que apesar de ser "uma personagem", tem feito um trabalho incrível.

"Ele foi bem sucedido no Benfica e no Sporting. É uma personagem e é conhecido por ser organizado. Já o sigo há muito tempo, mas é a primeira vez que o vou defrontar. Estou ansioso. Tem feito um trabalho incrível, mudou praticamente tudo no Flamengo. Se houvesse eleições, provavelmente ele seria eleito presidente do Brasil, apesar de ser português", atirou sorridente.

Em relação ao Flamengo, Klopp considera que vai encontrar uma equipa “muito organizada”, com as ideias do técnico português.

“É um estilo muito organizado. O Jorge Jesus mudou a sorte e outras coisas quando chegou. Trouxe novos jogadores para a defesa. Todos sabem o que precisam fazer”, considerou o treinador alemão.

O técnico destacou Bruno Henrique e Gabriel Barbosa, qualificando-os de “grandes jogadores” e defendeu que Liverpool e Flamengo têm as mesmas probabilidades de vencer a final, para a qual não aponta um favorito.

Questionado sobre o facto de nunca ter defrontado um clube do Brasil, o técnico do Liverpool respondeu: "Nunca joguei contra uma equipa brasileira, mas o Flamengo nunca jogou contra uma equipa como o Liverpool."

Jurgen Klopp na antevisão à final do Mundial de Clubes
Jurgen Klopp na antevisão à final do Mundial de Clubes. (Photo by KARIM JAAFAR / AFP) créditos: AFP or licensors

*Artigo corrigido às 14h25.