Portugal qualificou-se pela primeira vez para o Mundial feminino de futebol em 2023, depois de um percurso longo e difícil, em que teve de deixar pelo caminho adversários da qualidade de Islândia, Bélgica, Camarões e Sérvia.
Na primeira edição alargada a 32, a formação comandada por Francisco Neto aproveitou da melhor maneira o maior número de vagas para chegar à Austrália e à Nova Zelândia, numa ‘viagem’ de um ano, cinco meses e seis dias em que cresceu imenso.
A seleção lusa nem começou bem, com um frustrante empate a um golo na Turquia, e só selou o apuramento nos descontos do 13.º jogo, com um penálti de Carole Costa, uma das suas referências, frente aos Camarões, já do ‘outro lado’ do Mundo.
O trajeto - que teve pelo meio um Euro2022, ao qual só acedeu devido à exclusão da Rússia, devido à invasão da Ucrânia - não foi linear, mas Portugal nunca desistiu e fez história, arredando adversários mais cotados e com outra experiência.
O momento chave aconteceu em 02 de setembro de 2022, em Stara Pazova, na Sérvia, onde Portugal, obrigado a vencer, começou, praticamente, a perder e deu a volta ainda na primeira parte, superando por 2-1 uma formação que, no jogo anterior, tinha batido a ‘toda poderosa’ Alemanha por 3-2.
Joana Marchão, aos 40 minutos, e Francisca ‘Kika’ Nazareth, aos 45+2, ‘viraram’ o tento inaugural de Andjela Frajtovic, logo aos seis, muito facilitado por Inês Pereira, e começaram ai a mostrar que o apuramento era mais do que um sonho.
Esse resultado, que replicou o 2-1 conseguido em Setúbal, fez Portugal assumir, em definitivo, o segundo lugar do Grupo H de apuramento, apenas atrás da Alemanha, à qual a equipa das ‘quinas’ não conseguiu fazer frente, perdendo por 3-1 em casa e por 3-0 em solo germânico.
De resto, a seleção lusa conseguiu também dois triunfos face a Israel (4-0 em casa e fora) e Bulgária (3-0 em casa e 5-0 fora) e selou, matematicamente, o segundo lugar com uma goleada caseira à Turquia (4-0), ‘emendando’ a estreia de Alanya (1-1).
O segundo posto lançou Portugal para os play-offs europeus, que teve um sorteio ‘agridoce’, com o ‘fator casa’, por um lado, e as duas seleções mais cotadas - primeiro a Bélgica e, vencendo, a Islândia -, do outro.
Nas meias-finais, o ‘onze’ de Francisco Neto recebeu a Bélgica, atual 19.ª classificada do ranking mundial e que atingiu os ‘quartos’ do Euro 2022, e somou mais um triunfo por 2-1.
Em Vizela, Diana Silva adiantou Portugal, aos 28 minutos, Tessa Wullaert restabeleceu a igualdade, de penálti, aos 40, para, no último ‘suspiro’, aos 89, Fátima Pinto selar o triunfo com o seu terceiro golo de ‘quinas’ ao peito.
Cinco dias depois, seguiu-se a Islândia, que está agora no 15.º lugar do ranking mundial, e Portugal conseguiu mais uma brilhante vitória, por impensáveis 4-1, mas após prolongamento, num jogo em que as nórdicas jogaram com 10 desde os 52 minutos.
Carole Costa adiantou a equipa lusa, de penálti, aos 54 minutos, Glódís Viggósdóttir empatou aos 59, apesar da inferioridade numérica, mas, no tempo extra, já com Kika Nazareth em campo, Portugal foi ‘demolidor’.
Diana Silva, aos 92 minutos, Tatiana Pinto, aos 108, e a jovem jogador do Benfica, aos 120+1, selaram um triunfo que ainda não deu o apuramento, já que, dos três vencedores dos play-offs europeus, Portugal era a equipa com menos pontos somados na qualificação – seguiram em frente Suíça e República da Irlanda.
A formação das ‘quinas’ foi ‘atirada’ para um play-off Intercontinental e teve de ir à Nova Zelândia em busca do apuramento, sendo que, como equipa melhor cotada das 10 presentes, ‘saltou’ as meias-finais.
Colocada no Grupo A, Portugal disputou a respetiva final com os Camarões, seleção que chegara aos oitavos de final do último Mundial, em 2019, num jogo único, em Hamilton.
O conjunto de Francisco Neto adiantou-se aos 22 minutos, pela central Diana Gomes, e o 1-0 foi subsistindo no marcador, até que, aos 89, as africanas chegaram à igualdade, por Ajara Nchout.
Parecia que tudo se resolveria no prolongamento, que o sofrimento seria mesmo até o final, mas, nos descontos, Portugal beneficiou de uma grande penalidade, que, aos 90+4 minutos, Carole Costa converteu, no mais importante golo da história da formação das ‘quinas’, o seu 18.º, ao 152.º jogo.
Um ano, cinco meses e seis dias após um frustrante empate na Turquia, Portugal selou, assim, uma histórica primeira presença num Mundial, num trajeto com 10 vitórias, um empate e duas derrotas, com 34 golos marcados e 12 sofridos.
Os 76,9% de triunfos mostram, por si só, o quanto Portugal cresceu, sendo hoje uma equipa que, na maioria dos jogos, já consegue impor o seu futebol e jogar para ganhar, para marcar, e não para não sofrer. É já a 21.ª seleção do ranking.
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