A seleção portuguesa de futebol vai estrear-se em relva sintética num jogo «a doer», na visita de sexta-feira à Rússia, enfrentando um piso mais duro e rápido, mas também mais regular, na qualificação europeia para o Mundial2014.
Segundo especialistas contactados pela agência Lusa, os pisos artificiais provocam maiores ressaltos da bola, em virtude de serem mais compactos e padronizados, em relação à relva natural, mais macia e irregular, com maior capacidade de amortecer o impacto da bola e dos jogadores.
«A questão das lesões é um mito. Cerca de 95 por cento das equipas de escalões secundários jogam em sintético e os jogadores são amadores, menos preparados do que os profissionais, e não se verificam lesões. Mais, hoje em dia, a formação é quase toda feita em relva sintética, até nos (clubes) grandes. Vai ser uma questão de tempo até ser adotado por todos», disse o perito Carlos Gomes.
O responsável da única empresa portuguesa fabricante e exportadora de relvados artificiais, sedeada em Cortegaça, Ovar, sublinhou os benefícios do seu produto, comercializado maioritariamente para Espanha, mas também França, Argélia, Marrocos ou Angola, por exemplo.
«A relva natural, com o desgaste e as intempéries, é muito difícil de manter a 100 por cento para a prática do futebol. A relva sintética tem muito menos ou quase nenhuma manutenção e proporciona melhores performances. Podem fazer-se três jogos seguidos sem que os jogadores notem qualquer dificuldade», continuou, acrescentando que um relvado natural só aguenta até 300 horas de jogo por ano.
Segundo o especialista, os custos da aplicação de relvados artificiais são praticamente iguais aos da relva natural, cerca de 30 a 35 euros por metro quadrado.
Contudo, na manutenção, a relva tradicional absorve cerca de 5.000 euros por mês, em água, pessoal especializado e maquinaria, ao passo que a concorrente mais moderna se fica por modestos 500 euros de cuidados mensais.
A seleção comandada pelo técnico Paulo Bento apenas vai realizar um treino de adaptação ao piso do Estádio Luzhniki - que se pode traduzir por pradaria, em russo, paisagem típica nas margens do Rio Moskva - e que era anteriormente conhecido por Estádio Lenine, no distrito de Khamovniki, como parte do complexo olímpico da capital russa.
Os jogadores de Portugal, que defrontam a Rússia na sexta-feira, vão dedicar-se especificamente ao toque de bola, exercitando os passes curtos e passes longos para se habituarem ao diferente comportamento da bola naquele terreno.
Inaugurado a 31 de julho de 1956, o recinto tem atualmente capacidade para cerca de 78.000 espetadores, mas já chegou a receber 103.000 pessoas, durante os Jogos Olímpicos de Moscovo, em 1980, sendo agora a casa de Spartak e Torpedo.
O Luzhniki foi o primeiro recinto de piso artificial em que se disputou um jogo da Liga dos Campeões, curiosamente um empate a um golo entre o Sporting e o Spartak, a 27 de setembro de 2006, quando Paulo Bento orientava os "leões".
Mais tarde, também foi palco da primeira final da "Champions" em relva sintética, na época de 2007/2008, com o Manchester United, ainda com Cristiano Ronaldo, a bater os compatriotas do Chelsea (6-5) no desempate por grandes penalidades, após 1-1 nos 120 minutos.
Curiosamente, o “capitão” da seleção lusa marcou o único golo do Manchester United nesse encontro, de cabeça, mas, depois, foi o único da equipa a falhar na “lotaria”, sendo salvo por John Terry, que escorregou quando se preparava para dar o título aos londrinos.
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