Há 10 anos, Portugal impunha aquela que é até hoje a sua maior goleada em fases finais de Mundiais, ao vencer a Coreia do Norte por 7-0 na Cidade do Cabo, na África do Sul, com golos de Raul Meireles, Hugo Almeida, Tiago (2), Liedson, Simão e Cristiano Ronaldo que colocou fim a uma seca graças... ao ketchup.

Mas recordemos um pouco mais na história, antes da goleada.

Portugal chegava ao Mundial de 2010, depois de ficar em segundo no Grupo A de apuramento, a dois pontos da Dinamarca e de ter sido obrigado a jogar com playoff para carimbar passagem para o Mundial da África do Sul.

Contra a Bósnia e Herzegovina, a 'equipa das quinas' venceu por 2-0 no agregado das duas mãos: 1-0 no Estádio da Luz e 1-0 em Zenica e garantiu presença no seu terceiro Mundial consecutivo.

Bósnia e Herzegovina - Portugal
Raul Meireles marcou o golo na 2.ª mão. do playoff frente à Bósnia

Ronaldo, chegava à quarta grande competição pela seleção, mas passava por uma seca de golos na seleção: em junho de 2010 CR7, que já alinhava pelo Real Madrid, levava 16 meses sem marcar por Portugal.

Contudo, a falta de golos não preocupava o capitão da Seleção Nacional e numa conferência de imprensa, já na África do Sul, lançou uma tirada que resiste até ao dias de hoje.

“Não estou nada preocupado. Os golos são como o ketchup: quando aparecem, é tudo de uma vez”

Apesar do 'feeling' - e foram tantos 'feelings' neste mundial, não tivesse sido esta a música da seleção - o ketchup continuou preso ao fundo da garrafa no primeiro jogo, com um empate a zeros frente à Costa do Marfim.

Carlos Queiroz agradece aos Black Eyed Peas
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Portugal chegava à segunda jornada do grupo G obrigado a vencer para não hipotecar a passagem à próxima fase da competição, sendo que na última jornada iria encontrar o Brasil.

Assim, a seleção das quinas defrontava a Coreia do Sul, pela segunda vez na sua história. A primeira, no Mundial de 1966, foi de boa memória para Eusébio e companhia, visto que depois de estar a perder por 0-3 aos 25 minutos, a Seleção Nacional acabou por vencer por 5-3 carimbando passagem às meias-finais.

Agora sim, o jogo

Portugal, comandado por Carlos Queiroz, entrava em campo com Eduardo na baliza, Bruno Alves, Fábio Coentrão, Ricardo Carvalho e Miguel na defesa, Pedro Mendes, Raul Meireles, Tiago, e Simão, Cristiano Ronaldo e Hugo Almeida no ataque.

Portugal entrou na partida com intenção de tomar as rédeas do jogo e Ricardo Carvalho mostrou isso bem cedo, ao atirar uma bola ao poste logo ao minuto seis.

O primeiro golo surgiu aos 29 minutos da partida, quando Tiago encontrou o caminho pelo meio da defesa norte-coreana e passou o esférico a Raul Meireles que atirou a contar.

Portugal saía para o intervalo a vencer por 1-0, e se a primeira parte tinha sido boa, poucos seriam o que esperavam tamanha superioridade na segunda parte. Feitas as contas o segundo tempo contou, em média, com um golo a cada 7 minutos e meio.

Aos 53 minutos, após entendimento entre Raul Meireles e Hugo Almeida e bola acaba em Simão que atira pelo meio das pernas do guardião norte-coreano e fez o 2-0. Três minutos depois, foi Hugo Almeida, que após cruzamento de Coentrão 'parou' no ar e cabeceou para o 3-0.

Em Portugal não foi preciso esperar muito para se ver o quarto golo, com Tiago aos 60 minutos a dar o melhor seguimento à assistência de Ronaldo que continuava com o saldo de golos a zero na partida e não foi por falta de tentativas, sendo que ao minuto 71 atirou um tiro à barra da baliza de Ri Myong-Guk, que ainda hoje deve estar a abanar.

O jogo já tinha contornos de goleada e parecia que a toada goleadora tinha dado sinais de acalmia. Queiroz aproveitou para lançar Miguel Veloso, Duda e Liedson em jogo, para as saídas de Raul Meireles, Simão e Hugo Almeida, responsáveis por três dos quatro golos.

Mas a Seleção ainda tinha três tentos guardados no 'bolso'. Liedson, acabado de entrar, aproveitou o mau alivio da defesa norte-coreana e fez o 5-0 aos 80 minutos.

Sete minutos depois e após tanto tempo a 'bater na garrafa', o 'ketchup' CR7 caiu por fim, com um dos golos mais caricatos dos Mundiais.

Liedson e Cristiano Ronaldo fazem-se à bola, o 'levezinho' deixa para o capitão que vê a bola embater no guardião norte-coreano quando este tenta limpar o perigo. O esférico coloca-se 'às cavalitas' de Ronaldo, que com a baliza aberta e já com a bola nos pés, fez o 6-0. 16 meses depois, o madeirense voltava a marcar.

2010: Portugal 7-0 Coreia do Norte
O alivio de Ronaldo depois do golo caricato. JEWEL SAMAD / AFP

Mas a festa ainda não tinha acabado e Tiago foi o único, no meio de sete golos, a bisar na partida, aos 89' após cruzamento de Miguel Veloso.

7-0. Jogo fechado e resultado histórico para Portugal: a maior goleada da Seleção Nacional tinha acabado de ser concretizada.

O problema é que parece que Portugal 'gastou' os golos todos nesse jogo. Na última jornada do grupo G, a equipa das quinas voltou a registar um empate a zeros, desta vez com o Brasil, sendo suficiente para seguir em frente para os 'oitavos', onde encontrou a Espanha.

Frente a 'nuestros hermanos', a equipa das quinas ficou a zeros, mas o mesmo não aconteceu do outro lado da barricada, com David Villa a marcar o golo que atirou a 'La Roja' para os 'quartos' e Portugal para fora da competição.

Depois de em 2006 ter chegado às 'meias', a Seleção voltava a casa mais cedo desta vez. Ainda assim, o troféu não ficou longe, com os espanhóis a conquistarem o primeiro Mundial da sua história nesse ano. Já Portugal regressou com mais um registo: os 7-0 continuam a ser a maior vitória da Seleção numa fase final de uma competição e uma das maiores na história dos Mundiais.