A transferência de Maxi Pereira para o FC Porto depois de oito anos ao serviço do Benfica é encarada com naturalidade por Álvaro Magalhães, antigo lateral esquerdo dos 'encarnados' e um dos técnicos determinantes na conquista do título de 2004/2005.
Em entrevista exclusiva ao SAPO Desporto, o antigo treinador adjunto de Giovanni Trapattoni foi convidado a comentar a mais 'recente' contratação do FC Porto. Maxi Pereira, visto durante muitos anos na Luz como um jogador 'à Benfica', terminou o seu vínculo com o emblema da Luz e assinou contrato pelos 'dragões' por quatro temporadas. Mas então e a mística, também terá ido com o lateral uruguaio para norte? Álvaro Magalhães responde.
"Se o dinheiro conta mais do que a mística? Acho que não vamos entrar por aí. Ele acabou o contrato, era evidente que era um elemento que estava lá há oito anos e que tinha realmente as características de um jogador ''à Benfica. Mas o Maxi é um jogador que joga no Benfica como noutro clube qualquer porque é um profissional sério. E um profissional sério tem de honrar os seus compromissos com o clube que lhe paga e veste a camisola como se fosse a última da sua vida", começou por dizer Álvaro Magalhães.
"É um jogador que demonstra isso pela sua garra, pela sua determinação e acabou o contrato com o Benfica, apareceu um clube também de grande dimensão, que lhe deu outras condições de trabalho e ele com 31 anos, com a última oportunidade de fazer um contrato dentro do trabalho que ele tem vindo a desenvolver, tem sido um dos jogadores mais influentes no Benfica, e claro estudou a melhor proposta e acabou por ingressar num clube que também luta por títulos", acrescentou o antigo lateral esquerdo português.
"Outros jogadores saíram por menos"
"Não chegaram a acordo, a estrutura tem um orçamento e fez uma proposta, mas só que ele também estudou outras propostas. Um jogador que atinge um determinado patamar e que com 31 anos é considerado um dos melhores jogadores do Benfica e do futebol português, e da sua seleção, tem um clube que também luta por títulos e que lhe dá melhores condições, olhe que houve outros jogadores noutros tempos que saíram por menos", frisou Álvaro Magalhães, que não se mostrou muito preocupado com a saída de Maxi.
"O Maxi Pereira tem amor à camisola, porque quando representa um clube tem amor à camisola. Ele demonstrou isso. Ele é que sabe da sua vida. Ele tem a sua família. É legitimo que queira melhorar as suas condições com todo o mérito. Se os outros melhoram as condições e vão para o estrangeiro ganhar muito mais, e esses vão atrás do dinheiro, ele foram oito anos. É um ciclo que se acaba, mas o clube continua sem o Maxi ou outro jogador. Acho que o Benfica é superior a isso tudo, mas é evidente que os grandes jogadores devem continuar sempre no clube e ele era um jogador que tinha esse poder atlético, o prazer de jogar no Benfica, sentia-se mesmo que era um jogador com raça, com determinação, e que há poucos e não é fácil ter um jogador com as características como as do Maxi no Benfica. É pena para o Benfica, mas ele é profissional e não o podemos criticar por ter saído porque é um homem que deu tudo ao Benfica nos últimos anos", afirmou Álvaro Magalhães antes de recordar como era passada a mística no balneário do Benfica.
"A palavra mística começava logo mal se estacionava o carro"
Jogador do Benfica durante nove temporadas, Álvaro Magalhães conquistou 10 troféus pelo emblema da Luz durante a década de oitenta e partilhou balneário com verdadeiros 'gigantes' da história benfiquista. Questionado sobre a palavra mística, Álvaro Magalhães faz um silêncio de quem procura nas suas memórias uma explicação que consiga minimamente descrever 'essa força que vem de fora'.
"A palavra mística é muito difícil de explicar. Muito difícil mesmo. Já vem do próprio atleta. No Benfica há uma exigência muito grande, é um clube com uma pressão enorme. É um clube que se sente a mística mal se entra no balneário, e que tem melhorado nos últimos anos. Mas no meu tempo quem entrasse naquele balneário só se ouvia a palavra ganhar, aliás começava logo mal se estacionava o carro. Mal se entrava nas instalações, a palavra ganhar era fundamental. Ali ninguém podia pensava que ia para o Benfica para perder ou empatar um jogo. O empatar ali é uma derrota. Portanto a mística do Benfica é a força de um clube que quer ganhar, que é vencedor. Porque tem uma massa associativa muito exigente. É que a massa associativa do Benfica é muito exigente que quer ganhar, seja contra uma equipa pequena, seja contra uma equipa grande. Seja para o campeonato, seja numa taça que não tenha muito prestígio, o Benfica quer sempre ganhar, portanto essa mística não é qualquer um que a tem e para aguentar essa mística é preciso ser muito forte psicologicamente. Muitas das vezes há jogadores que não conseguem ter sucesso nessas grandes equipas porque são fracos psicologicamente", começou por definir.
"A força que vem de fora"
Na caminhada para a conquista do título em 2004/2005 era comum ver Álvaro Magalhães junto do banco técnico de Giovanni Trapattoni a incentivar não os jogadores, mas sim os adeptos.
"O 12º jogador é fundamental numa equipa. Nesse ano ganhámos o campeonato graças à força que vinha de fora das quatro linhas. Aquela força dos adeptos e simpatizantes do Benfica foi fundamental. Eu digo que foi das coisas principais aliada ao trabalho dos jogadores e de toda a estrutura, mas foi muito importante aquela força que vinha de fora. E é a força dos adeptos que consegue com que os jogadores dêem o máximo, quem não der o máximo é criticado e não pode representar uma instituição como o Benfica. Uma coisa é certa, os adeptos querem novamente ser campeões, e eles vão demonstrar todo o apoio à equipa fora das quatro linhas. Nota-se que os treinadores e os jogadores não vão deixar de ter o mesmo apoio que tiveram nos outros anos anteriores. Porque sabem que os adversários mais diretos também estão muito fortes e é evidente que o apoio dos adeptos é fundamental para o sucesso. Agora, atenção que é preciso vitórias, é preciso ganhar, porque se os resultados forem negativos é criticado, agora vamos ver se aguentam a pressão. Os que lá estão há muito tempo já sabem, os que vêm pela primeira vez vamos ver se têm a capacidade psicológica para aguentar a pressão", sentenciou Álvaro Magalhães.
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