Muitas vezes, a distância entre o sucesso e o insucesso é curta. No caso do Sporting, na noite de ontem, essa distância, que poderia ter significado um pequeno êxito numa época agora em definitivo para esquecer (ou, se calhar, para lembrar, de forma a não repetir) foi de 38 centímetros. Foi essa a distância que o pé esquecido de Matheus Nunes ficou atrás do de Carlos Vinícius, deixando o avançado em posição regular no lance que valeu ao Benfica, num dérbi onde jogava pouco mais do que a honra, a vitória sobre um Sporting que precisava de empatar para segurar um (importante) terceiro lugar no pódio na I Liga, que assim acabou por fugir para o Sp.Braga.
Num dérbi sem a cor dos adeptos e sem a emoção de pelo menos uma das equipas estar a lutar por um troféu, valeu a incerteza no resultado. Longe de ser bem jogado, o encontro acabou por ter até várias ocasiões de golo - a maior parte a pertencerem ao Benfica - e foi resolvido num lance já bem perto do fim, onde o suspense se manteve até depois de a bola entrar para o fundo das redes, tendo sido necessária a intervenção do VAR para validar a jogada.
Para as 'águias' a vitória não significou mais do que o gosto (sempre saboroso) de ter sido mais um triunfo sobre o 'eterno' rival e o seguimento de uma série de resultados relativamente positivos (quatro vitórias e um empate) desde que Nélson Veríssimo assumiu o leme da equipa. Uma sequência que poderá dar alento para o objetivo que resta da época, a final da Taça de Portugal, dia 1 de agosto, em Coimbra, frente ao FC Porto, mas que fica longe de apagar a desilusão de uma época em que os 'encarnados' viram o título de campeão escapar por entre os dedos quando chegou a ter praticamente uma mão a agarrá-lo.
Para os 'leões', a derrota é o travão definitivo numa espécie de 'mini-euforia' que a chegada de Rúben Amorim parecia ter trazido e um duro 'reacordar' para a realidade. A equipa vinha a ganhar outra alma sob as ordens do novo técnico e os sportinguistas começavam a olhar com outros olhos para o plantel, mas este terceiro jogo sem ganhar nas três derradeiras jornadas deitou por terra o que vinha sendo alcançado. O terceiro lugar esfumou-se a dois minutos do fim do último jogo e vê-lo fugir, com a 17.ª (!!!) derrota da época no conjunto de todas as provas (ainda para mais ante o 'eterno rival'), tem para os 'leões' implicações que vão para além da desonra de ficarem abaixo dos três primeiros lugares da I Liga pela primeira vez em sete temporadas. É que, ao ficar no quarto lugar, o Sporting terá de iniciar a época 2020/21 mais cedo do que os rivais (regressando aos trabalhos já a 17 de agosto), nas pré-eliminatórias da Liga Europa.
O Jogo: 'Águia' empurra 'leão' do pódio
'Leões' não souberam lidar com a pressão alta das 'águias' na primeira parte
O Sporting entrou em campo fiel ao estilo de jogo que Rúben Amorim implementou na equipa desde a sua chegada e até entrou bem no jogo. O Benfica, contudo, tinha a lição bem estudada e, ao futebol organizado a partir da defesa por parte dos 'leões' respondeu com uma pressão alta que impedia o rival de sair a jogar.
A partir dos dez minutos de jogo essa pressão intensificou-se, o conjunto 'verde e branco' começou a sentir cada vez mais dificuldades e a perder a bola rapidamente, ainda na primeira zona de construção. As ocasiões de golo começaram a suceder-se junto à baliza leonina, Pizzi esteve por duas vezes perto de marcar, permitindo a defesa de Max na primeira e errando por pouco o alvo na segunda, mas a bola acabaria mesmo por entrar. Na sequência de um canto, a bola sobrou para Rúben Dias que, de cabeça, assistiu Seferovic, esta noite titular no ataque das 'águias' e este, também de cabeça, bateu Luís Maximiano pela primeira vez.
Até ao intervalo a toada do jogo não mudou. O Sporting, se já acusava pressão do Benfica, acusou ainda mais o golo e podia ter recolhido aos balneários com uma desvantagem ainda maior.
Rúben Amorim lançou Tiago Tomás e o Sporting cresceu, mas armas secretas do Benfica no banco eram mais fortes
Ao intervalo, Rúben Amorim fez entrar o jovem avançado Tiago Tomás para o lugar de um Gonzalo Plata que esteve longe de conseguir criar desequilíbrios nos primeiros 45 minutos. E o Sporting, apesar de ter ficado perto de sofrer novo golo logo a abrir a segunda parte, num remate de Pizzi a rasar o poste, foi crescendo aos poucos.
Nuno Mendes deixou um primeiro aviso, mas viu Vlachodimos negar-lhe o golo e o próprio Tiago Tomás, isolado e com tudo para marcar, acertou no poste antes de, aos 69 minutos, isolar Sporar com um fantástico passe para o esloveno fazer o golo da igualdade. Foi, então, a vez de Nélson Veríssimo mexer na equipa.
E as armas que o Benfica tinha no banco eram - estava à vista de todos - superiores às do Sporting. O que acabou por fazer a diferença...Nélson Veríssimo fez entrar Florentino e, sobretudo, Carlos Vinícius e Rafa e os 'encarnados' reassumiram o controlo do jogo, encostando o adversário à sua área. Rafa, por duas vezes, ficou muito perto de marcar, e Gabriel também ficou perto do golo.
Más notícias a dobrar para o Sporting e o adeus definitivo ao pódio
A bola, contudo, não entrou e o jogo caminhava para os 90'. Só que de Braga já tinham vindo más notícias para o Sporting. Em desvantagem ao intervalo frente ao FC Porto, os minhotos venciam agora o novo campeão nacional. Isso significava que, em caso de derrota, o Sporting cairia para o quarto lugar.
E o Benfica acabou mesmo por marcar, por um dos homens que veio do banco. Decorria o minuto 88' quando, numa jogada de insistência, Pizzi cruzou da direta e Vinícius surgir para dar o melhor seguimento ao cruzamento do colega e colocar a bola no fundo das redes. Nuno Veríssimo, árbitro da partida, por indicação do seu auxiliar, ainda começou por anular o golo, por alegado fora de jogo, mas recebeu de seguida do VAR a indicação de que o avançado brasileiro estava em posição regular. Os tais 38 centímetros que ditaram as 10.ª derrota do Sporting em 34 jornadas na I Liga 19/20 e o adeus ao pódio na classificação final...
O Momento: Minuto 88
Pizzi cruza, Vinícius finaliza de pé esquerdo, o lance inicialmente é invalidado por fora-de-jogo, mas Fábio Veríssimo aguarda pelo VAR, que validou a posição do avançado brasileiro e confirmou o 2-1 para o Benfica. Um golo que deixou Vinícius praticamente como virtual vencedor do troféu de melhor marcador da I Liga.
Os Melhores em Campo
No Benfica, Pizzi esteve igual a si mesmo. Participou em praticamente todos os lances de perigo das 'águias', esteve perto de marcar por várias vezes e foi dele a assistência para o golo com que Vinícius selou o triunfo 'encarnado'. Uma grande atuação a fechar uma temporada de 19/20 com números impressionantes na I Liga: 18 golos e 14 assistências!
Do lado do Sporting, apesar da derrota, três jovens merecem destaque: Luís Maximiano voltou a mostrar qualidades na baliza, com várias excelentes intervenções que foram mantendo o Sporting na discussão do resultado, Nuno Mendes defendeu e atacou com enorme qualidade pelo flanco esquerdo.
As reações
Nélson Veríssimo: "Foi o 2-1 que deu justiça ao marcador"
Rúben Amorim: "Jogámos melhor, não merecíamos este resultado"
Sporar: "Não merecíamos perder, mas isto é futebol"
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