Desinspiração ofensiva, avançados perdulários e defesa a 'meter água'. Tanta desinspiração do Dragão só podia dar em derrota, no jogo de estreia na edição 2019/2020 da Primeira Liga. O regresso do Gil Vicente ao convívio dos 'grandes' não podia começar da melhor forma, com uma vitória categórica frente ao um dos candidatos ao título. Soares foi um desastre, Manafá não justificou a titularidade e Marega parece não ter a cabeça no Dragão.

Sérgio Conceição, que deixou Danilo na bancada (o técnico explicou que o capitão teve um desconforto muscular), quererá rapidamente uma resposta, já na terça-feira, quando o FC Porto receber o Krasnodar, na segunda-mão da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, depois da vitória por 1-0 na Rússia.

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O Jogo: Marchesín ainda evitou colapso na 1.ª parte mas Lourency repôs a verdade do jogo

Podia-se explicar esta derrota do FC Porto pelos falhanços de Soares. Ou pela exibição de Lourency. Mas a raiz do problema é bem mais profunda e tem a ver com a forma como Conceição quer colocar o FC Porto a jogar. É um problema que vem do ano passado, que o treinador cria, que advém da forma de jogar deste FC Porto: muitos duelos físicos, muitas bolas longas dos centrais para os avançados e pouca criatividade no meio-campo. Mesmo com Otávio e Corona a jogarem por dentro, dando as laterais a Manafá e Alex Telles, os dois estavam muito adiantados no terreno e raramente recuavam para pegar no jogo desde detrás. Havia muitos jogadores dentro das linhas do Gil Vicente mas não havia quem pudesse fazer a bola chegar até eles.

Apesar da lentidão na circulação de bola, a construção de jogo do FC Porto desde detrás era quase sempre feita pelos centrais, quase sempre por Pepe. Mesmo com o Gil Vicente a não pressionar a saída de Pepe, o central não encontrava espaços para meter a bola mais a frente. Em muitas situações, andou simplesmente a trocar a bola com um dos médios, quase sempre Bruno Costa, este de costas para o jogo e virado para o seu meio-campo, recebendo e devolvendo de primeira, sem nunca virar e atacar o espaço no meio-campo contrário. O medo de perder a bola nessa zona era maior que a decisão de arriscar.

Veja o golo de Lourency no 1-0

A forma como o Gil Vivente reduziu o espaço no seu meio-campo no já reduzido e pequeno terreno de jogo do Estádio Municipal Cidade de Barcelos, deixou o FC Porto sem soluções. E das poucas vezes que o FC Porto conseguiu chegar a área com perigo, desperdiçou as poucas oportunidades que teve. Com pouco espaço para jogar, estes jogos pedem mais desequilibradores, jogadores capazes de romper em pequenos espaços. Otávio era um deles mas foi desastroso, o outro, Nakajima, até estava no banco (contra o Krasnodar foi para a bancada), aqueceu mas não entrou. Os que entraram até pioraram o FC Porto, como foi o caso de Marega (responsável pelo primeiro golo do Gil Vicente). João Afonso agradeceu e lançou Lourency para o 1-0 aos 60 minutos.  O maliano apenas ganhou um dos cinco duelos que disputou e teve três perdas de bola.

Mesmo tendo pouca posse de bola, o Gil Vicente foi mais perigoso que o FC Porto. Kraev e Lourency eram os principais municiadores do ataque, liderado por Sandro Lima. A equipa saia com critério, guardava a bola quando era preciso, acelerava quando o jogo pedia velocidade. Tudo muito bem preparado por Vítor Oliveira. Por isso terminaram o jogo com sete remates enquadrados com a baliza, contra apenas três do FC Porto, com apenas 13 faltas cometidas, contra 18 dos 'dragões' e com 53 duelos ganhos, contra 42 do adversário (dados do Playmakerstats do Zerozero).

Quando Alex Telles empatou aos 73, de grande penalidade, a resposta foi imediata, com Kraev a dar os três pontos à equipa.

Marchesín voltou a destacar-se, com grandes defesas, duas delas de grande nível no primeiro tempo.

Esta foi a primeira vez que o Gil Vicente venceu o seu jogo de estreia na Liga frente a um 'grande' (em quatro ocasiões). Já o FC Porto volta a perder na jornada inaugural da Liga, 18 anos depois (a última derrota tinha sido contra o Sporting). Se excluirmos jogos com Benfica e Sporting, é preciso recuar 46 anos para encontrar a última derrota do FC Porto no jogo de estreia da Liga (frente ao Belenenses), de acordo com os dados do 'Playmakerstats' do 'Zerozero'.

Na terça-feira, Sérgio Conceição quererá uma resposta diferente frente ao Krasnodar, na segunda-mão da terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões. A vitória por 1-0 na Rússia dá alguma vantagem mas uma exibição igual a que se viu em Barcelos poderá ser castigada com derrota e eliminação precoce, ficando os 'dragões' a ver os milhões da liga milionária a 'arderem'.

Polémicas: Nuno Almeida com muito trabalho e VAR a entrar em ação

Aos 44 minutos, o árbitro Nuno Almeida assinalou penalti por suposta falta sobre Sérgio Oliveira. Alertado pelo VAR, foi rever as imagens e acabou por voltar atrás na decisão, anulando o penalti.

No minuto 70 voltou a recorrer ao VAR, depois de alertado por este, para assinalar uma grande penalidade a favor do FC Porto, por mão de Rodrigo, após remate de Luiz Díaz que ia em direção à baliza.

Aos 95 minutos, o FC Porto voltou a pedir grande penalidade, por mão na bola de Claude Gonçalves na área gilista mas desta vez o árbitro mandou seguir.

Momento-chave: Kraev 'mata' reação do Dragão

Quatro minutos depois de Alex Telles ter empatado o jogo, num golo que poderia relançar o FC Porto para a reviravolta, Lourency subiu pela direita, centrou para Kraev. O jovem internacional búlgaro recebeu com muito espaço e rematou forte, batendo Marchesín pela segunda vez. O Dragão 'morria' ali.

Os Melhores: Lourency foi um 'diabo a solta', Marchesín evitou males maiores

Foi dos pés de Lourency que surgiram os principais lances de perigo. Fez o 1-0 após aparecer nas costas de Alex Telles, a finalizar com classe um passe de João Afonso. Centrou para Kraev fazer o 2-0. Bom 'cartão de visita' do médio brasileiro.

Marchesín voltou a mostrar ser uma mais-valia neste FC Porto. Depois de ter brilhado na Rússia, o argentino voltou a estar em bom plano, apesar dos dois golos sofridos. Evitou, com duas grandes defesas, o primeiro do Gil Vicente no primeiro tempo. No segundo voltou a brilhar, impedindo que o resultado fosse mais escandaloso.

Os Piores: Soares em noite para esquecer, Marega a dormir, Manafá a decidir sempre mal

Soares teve duas grandes oportunidades para marcar mas conseguiu falhar as duas. Nem sempre ofereceu o apoio à zona média como se esperava e na finalização foi simplesmente desastroso.
Da primeira vez que tocou na bola quando entrou, Marega foi displicente e perdeu o esférico para João Afonso que lançou logo Lourency para o 1-0. O maliano, que já tinha estado mal na Rússia, começou do banco mas a sua entrada só prejudicou o FC Porto. Parece não ter a cabeça no Porto neste momento. Otávio também foi uma sombra do que já mostrou e Manafá voltou a mostrar não estar preparado para um 'grande': decidiu sempre mal e tarde e foi batido muitas vezes nos duelos.

Reações: Conceição não entende nervosismo, Vítor Oliveira fala em justiça

Conceição: "A derrota é demérito nosso. A intranquilidade apoderou-se de nós e não sei porquê"

Pepe: "Reprimenda de Conceição à defesa? Não acredito que ele tenha feito isso"

Vítor Oliveira: "A vitória é justa. É discutível se foi merecida ou não"

Lourency: "Jogamos de igual com o FC Porto, a vitória é merecida"

Veja o resumo do jogo

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