O Benfica tarda em carburar na época 2020/21. Depois de um investimento de 105 milhões de euros no plantel e da contratação de um treinador que prometeu colocar a equipa a arrasar e a jogar o triplo, os 'encarnados' chegam a metade da Primeira Liga no quarto posto, em igualdade pontual com o Paços de Ferreira e já a 11 pontos do líder Sporting. Tudo isto depois de ter sido afastado nas pré-eliminatórias de acesso à Liga dos Campeões pelo PAOK da Grécia, de ter perdido a Supertaça para o rival FC Porto e de ter sido derrotado pelo SC Braga nas meias-finais da Taça da Liga.
O empate a zero bolas na receção ao Vitória de Guimarães, na 17.ª jornada da I Liga, foi o quarto jogo consecutivo sem vencer, o que deixa a formação 'encarnada' numa posição delicada na luta pelo título. O Benfica soma 34 pontos, menos 14 em relação ao final da primeira volta da época passada (48). A equipa perde terreno para o SC Braga, que venceu nesta ronda e tem mais dois pontos, e não consegue tirar vantagem do empate do FC Porto frente ao B-SAD.
Já o Vitória de Guimarães somou o quinto jogo sem perder e termina a 1.ª volta sem qualquer derrota fota, algo que nunca tinha conseguido.
O jogo: tiros de pólvora seca
Dizem os entendidos do futebol que os golos são o tempero deste desporto que apaixona milhões. Porque sem golos, não há vitórias. E o Benfica tem tido dificuldades em colocar a bola no fundo das redes adversárias nos últimos jogos. Esta falta de eficácia tem saído cara aos 'encarnados', num ano de forte investimento na frente de ataque.
A equipa foi incapaz de marcar qualquer golo nos últimos 180 minutos de jogo e fez apenas dois nos derradeiros 360. Nos últimos seis jogos para a I Liga, o Benfica venceu um, perdeu outro e empatou quatro. São 11 pontos perdidos em apenas seis jornadas. A falta de eficácia tem levado a perda de confiança dos homens da frente em situações de finalização.
Essa desconfiança viu-se também na noite desta sexta-feira. Foram 23 remates, cinco deles enquadrado com a baliza e zero golos.
João de Deus, o homem do leme na ausência de Jorge Jesus, a recuperar de COVID-19, desfez a linha de três centrais com que entrou em Alvalade e optou pelo tradicional 4-4-2, que mais não era que um 4-3-3, com muita gente na zona central mas também muito futebol pelas alas. Aliás seria pelos corredores que o Benfica viria a criar mais perigo, principalmente na direita, graças a dinâmica de Gilberto, Pizz e Cervi.
A forte entrada em jogo sinalizava o fim da crise e o regresso aos triunfos parecia ser uma questão de tempo: faltava colocar a bola no fundo das redes, algo que não aconteceu. Ora pela falta de pontaria dos homens que apareciam a finalizar, ora pela boa exibição do guarda-redes Trmal. O chego manteve-se na baliza, mesmo com o regresso de Bruno Varela, e justificou a aposta de João Henriques. Travou os remates de Vertonghen, Everton e Taarabt e mostrou-se sempre seguro.
A primeira parte do Benfica foi melhor que a segunda porque, após o intervalo, o Vitória de Guimarães pensou que podia levar mais do jogo. A equipa minhota passou a pressionar o Benfica com mais homens no seu meio-campo, arriscou um pouco mais, embora continuasse a chegar à área com poucos homens para desequilibrar.
No segundo tempo, apenas por três vezes o Benfica ameaçou a baliza de Trmal mas voltou a pecar na finalização.
João Henriques melhorou o processo defensivo do Vitória, uma equipa que termina a primeira volta sem qualquer derrota fora de casa, algo que nunca tinha conseguido na sua história. O técnico, que já tinha empatado 1-1 na Luz na Taça da Liga (sofreu o empate aos 90 e perdeu nas grandes penalidades), voltou a travar o Benfica na sua casa, depois de ter batido os 'encarnados' por 4-3 na época passada quando era treinador do Santa Clara.
Pela 9.ª vez na sua história, o Benfica termina a primeira volta fora do pódio da I Liga. Dessas nove ocasiões, só foi campeão uma vez: em 1970/71, de acordo com dados do 'Playmakerstats' do 'Zerozero'. Jesus e os seus rapazes tem a palavra.
Momento do jogo: Dois momentos para decidir o jogo
Na verdade, fora dois momentos que podiam ter decidido a partida, já nos descontos. Primeiro Pedrinho, completamente sozinho na área, a disparar com força por cima, após passe 'açucarado' de Gonçalo Ramos, aos 94 minutos. Na resposta, aos 96', é Marcus Edwards, lançado no segundo tempo, a ter a oportunidade para dar a vitória aos minhotos num contra-ataque mas o seu remate colocado, já dentro da área, saiu ao lado.
Os Melhores: Gilberto a acelerar, Mumin imperial
Gilberto foi o melhor do Benfica, principalmente no primeiro tempo. O lateral direito esteve muito ativo no seu corredor, na ajuda ao ataque e ainda conseguiu travar os ataques do Vitória por esse lado. Perdeu fulgor no segundo tempo e acabou o jogo de rastos.
O defesa central Mumin voltou a evidenciar-se no centro da defensiva minhota. Sempre bem colocado, sempre lúcido a ler as jogadas e a antecipar-se aos seus opositores. É um dos grandes responsáveis pelo registo defensivo da equipa. Depois de Tapsoba, o Vitória de Guimarães poderá ter encontrado mais defesa-central que poderá render muitos milhões de euros.
O Pior: ataque com muita precipitação na hora 'H'
23 remates, cinco enquadrados, zero golos. Na tentativa de colocar a bola no fundo das redes a qualquer custo, os jogadores do Benfica não tem evidenciado a calma necessária que o momento exige. Seferovic, por exemplo, rematou por seis vezes contra o Vitória de Guimarães mas só acertou no alvo em uma ocasião.
Reações: Frustração de João de Deus, João Henriques conformado com o ponto
João de Deus: "Tem de perguntar ao Rui Costa a quem é que ele se referia, não a mim"
Benfica 0-0 Guimarães: Taarabt lamenta finalização, André André destaca ponto conquistado na Luz
João Henriques: "Dividimos o jogo, tivemos as nossas oportunidades, o Benfica também"
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