O futebol fora das quatro linhas tem sido nos últimos anos um terreno fértil para autênticas batalhas verbais entre dirigentes e departamentos de comunicação, com os jogadores e treinadores a passarem para um plano secundário.

Em entrevista ao SAPO Desporto, António Fidalgo, antigo jogador de futebol e comentador da RTP, foi questionado sobre o atual panorama de crispação no futebol português, e que repercussões poderia ter no desporto, nomeadamente nos adeptos dos clubes.

O experiente comentador de futebol vê com alguma apreensão os constantes ataques fora de campo entre clubes, e recorda que se o fenómeno do futebol é cada vez mais encarado como um negócio, então cabe aos gestores proteger o seu produto para lhe dar mais crédito.

Nos jogadores é difícil esse o ambiente crispado do futebol nacional influenciar. Normalmente eles conseguem abstrair-se disso, do clima de crispação e dessas coisas que acontecem fora do espaço de atuação. Provavelmente os jogadores não se deixam influenciar. Agora, não tenho dúvidas que aquilo que estão a fazer ao futebol português é acabar com ele. As constantes trocas de 'piropos' entre pessoas que deviam ser mais responsáveis servem apenas para tirar crédito ao futebol, as pessoas ainda confiam ao encher os estádios, mas só enchem os estádios em certos contextos. Neste início de campeonato, o FC Porto está a jogar bem e enche os estádios, o Sporting também está a jogar bem e enche os estádios. O Benfica quer o pentacampeonato, e também enche os estádios, mas são situações e contextos que não se vão manter durante muito mais tempo se continuar a haver este ambiente de crispação", começou por dizer António Fidalgo.

"Faz-me lembrar uma empresa em que os CEO's da empresa em vez de pensar em investir para a rentabilizar a empresa, parece que estão a tentar destruí-la. É o mesmo que uma pessoa ter o seu trabalho, o seu ganha-pão e desprezar essa possibilidade de trabalhar, estamos a matar o futebol aos bocadinhos. Só que também há muitas forças que vão aparecendo e que vão contrariar aquilo que os outros estão a fazer. Porque o melhor do futebol são os jogadores e os treinadores, porque eles é que são os verdadeiros atores e os verdadeiros artistas", acrescentou o antigo guarda-redes de Benfica e Sporting.

"Há outras pessoas só querem ganhar protagonismo no futebol e não há mal nenhum nisso, mas que não estraguem o produto. Isso é que me custa. Ganhem lá o protagonismo que quiserem, o futebol serve para isso, a política também, porque há muitos que entram na política para ganharem protagonismo. O ambiente no futebol é muito diferente. Diz-se muito que o futebol é uma indústria e que deveria ser gerido de forma empresarial, até certo ponto na gestão financeira e administrativa talvez, mas depois não nos devemos esquecer que, tal como nas outras empresas, e tal como no futebol isso é uma realidade, os activos é que são pessoas. Nós chamamos activos a pessoas, o verdadeiro activo dos clubes são pessoas, e devem ser tratadas como pessoas. E quando falo nisso dos jogadores, de tudo o que envolve, principalmente a nível emocional, as pessoas que enchem os estádios. Mas vão encher estádios até quando?", sentenciou António Fidalgo.